Vira o Santo: conheça a história do tradicional encontro de blocos de Belo Horizonte

Praça da Estação foi tomada por milhares de pessoas no encontro de 15 blocos de rua da capital mineira

Shirley Pacelli
Emoção na praça: blocos de rua expõem seus estandartes no Monumento à Civilização Mineira durante o Vira o Santo - Foto: Marcos Vieira/EM/DA Press
“Eu queria que essa fantasia fosse eterna.” Como se fizessem um mantra da música Baianidade nagô, milhares de foliões de Belo Horizonte se reuniram ontem no já tradicional Vira o Santo. A Praça da Estação foi tomada por cores, hinos, bandeiras e amores de ao menos 15 blocos de rua da capital mineira.

Cada bloco saiu de seu local de origem e seguiu rumo à praça de transporte público, bike ou a pé. Algumas fusões divertidas também são comuns e sempre bem-vindas. Este ano surgiu o Pula Garota Bronzeada, que uniu os blocos Pula Catraca!, Garotas Solteiras e Juventude Bronzeada. Na praça, apenas festa! O momento mais emocionante é sempre a exposição de todos os estandartes no Monumento à Civilização Mineira.

Mariana de Assis Fernandes, de 18 anos, participou da festa e esquentou seu tamborim em ao menos seis blocos no carnaval deste ano. Entre eles: Então, Brilha!, Garotas Solteiras, Pena de Pavão de Krishna, Juventude Bronzeada e Us Beethoven. O Vira o Santo foi a chance de ela se reunir com os amigos de todos esses blocos. “É uma energia muito boa.
A melhor despedida do carnaval”, disse.

Jhonatan Melo, regente e músico de diversos blocos, vê o Vira o Santo como uma oportunidade de celebração de um movimento construído em conjunto. “O carnaval de BH tem uma certa solidariedade. Muitos músicos e regentes participam de vários blocos. E tem a luta em comum que é a utilização do espaço público”, disse.

Já o arquiteto Fernando Soares disse que a festa simboliza a resistência dos blocos. “A gente sabe que se dependesse das autoridades não teria. O carnaval foi reprimido com bala de borracha em 2010, 2011 e 2012”, lembrou.

Para ele, o encontro dos blocos serve ainda como um aviso para a Prefeitura de Belo Horizonte de que os foliões não vão aceitar cordas e camarotes na folia. “A gente tem causa sim. É a causa do espaço público. Convidamos as pessoas para aproveitarem a festa”, defende o arquiteto.

- Foto: Marcos Vieira/EM/DA PressCOMO TUDO COMEÇOU O que virou um grande encontro de grupos carnavalescos pós-carnaval surgiu ainda em 2009, como um bloco do Bairro Santo Antônio. Sílvia Herval e Juliano Sá tiveram a ideia durante uma festa que reuniu foliões e músicos em um sábado despretensioso pós-carnaval.

“Não tocávamos nada e falamos que seria um encontro de todos os blocos”, lembra Sílvia. Duas edições foram realizadas e diante do grande número de pessoas as ruas ficaram estreitas para tamanha folia. O evento acabou migrando para a praça no Centro da cidade e virou de “domínio público”.

O bloco ainda sai da Rua Cristina, no Santo Antônio, pega ônibus, passa pelo Viaduto Santa Tereza – algumas vezes com direito a fotos nos arcos – e encontra com outros tantos na Rua Sapucaí, na Floresta. O nome, além de homenagear o bairro de origem, brinca com a simpatia de virar o santo para arrumar namorado e também para começar o ano.
“É ainda uma despedida. Virou uma ‘familiona’”, resume Sílvia.
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