A estudante Nina Flores, de 19, que mora há um ano em um prédio na esquina da Avenida Getúlio Vargas com o quarteirão fechado da Rua Antônio de Albuquerque, afirma que nesse carnaval as mazelas da área foram intensificadas. “Não desci nenhuma vez. Estava muita bagunça, fica com um cheiro horrível e muita sujeira”, conta Nina. Ela curtiu o carnaval em outras regiões de Belo Horizonte.
Quando foi revitalizada e entregue à população, em maio de 2012, a ideia era que a Savassi fosse compartilhada entre os frequentadores de forma “gentil e que as pessoas ajudassem a cuidar do espaço e se sentassem ali para ver a vida passar”, conta a autora do projeto de revitalização, a arquiteta Edwiges Leal, da B & L Arquitetura. Ela lembra que as mudanças na região não foram projetadas para grandes públicos. “A estrutura foi pensada para pequenos eventos nos quarteirões fechados. A Savassi não suporta 20 mil pessoas”, afirma.
Edwiges, uma das líderes do movimento Savassi Criativa, argumenta ainda que a Praça Diogo de Vasconcelos não é um lugar apropriado para festividades como as ocorridas na Copa do Mundo e no carnaval. “O local é na verdade um cruzamento, que precisa ser fechado para eventos. O modelo ideal de evento é aquele em que o comércio pode permanecer de portas abertas e aproveitar o movimento.”
RESPONSABILIDADE Depois de shows, que geralmente têm palcos montados sobre as fontes, ela garante que parte dos bancos e jardineiras fica em situação crítica. “Muitas pessoas acham que chiclete e cigarro não é lixo e não carregam o lixo que produzem. As pessoas devem entender o espaço público como responsabilidade de todos.” Entre as soluções para a região, ela destaca a necessidade de conversas constantes com promotores de eventos e reguladores, como a Prefeitura Municipal de Belo Horizonte (PBH) e a Belotur, para determinar “que tipo de Savassi a cidade quer”.
De acordo com ele, a reorganização é o primeiro passo para evitar que a região da Savassi, cartão-postal de Belo Horizonte, seja depredada durante os eventos. “O lugar é um chamariz pela beleza. Um ponto comercial e de convivência que queremos proteger sem diferenciar.”
MAIS OSTENSIVO O policiamento na região, segundo o comandante da 4ª Companhia da Polícia Militar, major Renato Salgado Cintra Gil, ocorreu de forma ostensiva no carnaval, assim como no dia a dia.
A rede de comerciantes protegidos é ferramenta importante para garantir a atuação da PM. No WhatsApp, um grupo de 300 pessoas “são os nossos olhos na Savassi e nos ajudam divulgando informações de segurança pública”, diz o major, que lembra que as reuniões têm pouca adesão, apesar do bom relacionamento com comerciantes e moradores. “Na hora de sentar para discutir um tema tão importante, temos baixa adesão.” Questionada sobre a iluminação, a PBH, por meio da Superintendência de Desenvolvimento da Capital (Sudecap), informou que a iluminação de toda a Regional Centro-Sul é adequada e preenche os requisitos técnicos, mantendo-se dentro dos parâmetros aceitáveis.
O paulista André Saglioni, de 34 anos, mudou-se para Belo Horizonte há cerca de um ano. O engenheiro mora em um prédio na Rua Levindo Lopes e critica o barulho e a falta de iluminação. “Temos que chamar a polícia ou a prefeitura porque a música de um estabelecimento incomoda.”
O geólogo Celso Frizzo, de 62, que vive na mesma região, também critica a Lei do Silêncio, principalmente no carnaval. “Foi muito mais bagunçado que o normal. Geralmente, já temos problemas quanto ao barulho, mas nesse período alguns vizinhos não dormiam antes das 3h”, conta. Sobre a sensação de insegurança, ele conta que diminuiu o número de saídas com a esposa.
A fotógrafa Telma Terra, de 29, que morava na Região da Pampulha, mudou-se com o marido para a Savassi há cerca de seis meses, mas acredita que a violência está generalizada na cidade. “Na Pampulha, também tinha arrombamentos e roubos. Aqui, parece que somos rota de passagem de assaltantes. À noite, é comum alarmes disparando.”
Outros, no entanto, discordam da sensação de insegurança. O advogado Carlos Rodrigues Pereira, de 79, que mora na Rua Levindo Lopes há 20 anos, afirma nunca ter visto assalto na região. “Aqui é muito agradável e tranquilo”, comenta. Assim como ele, o segurança Paulo Roberto Silva, de 60, não se lembra de ter visto confusões mais graves. .