Em meio à crise provocada pela elevação dos casos, os médicos fizeram ontem uma paralisação de 24h, com duração prevista para até as 7h de hoje. A categoria denuncia falta de medicamentos, de insumos e de condições adequadas para atender a população, além de cobrar melhoria nos salários e plano de carreira. Há também queixas quanto a equipes de profissionais desfalcadas.
O avanço no número de pacientes pode ser constatado no balanço de atendimentos. Em janeiro do ano passado foram realizadas 190 mil consultas, enquanto no mesmo período deste ano as unidades somaram 247 mil procedimentos, elevação de 30%.
O resultado aparece no tempo que pacientes têm de esperar. Atendida na terça-feira na UPA Pampulha, a dona de casa Nilda Ribeiro, de 32 anos, sentiu a mudança. “No início do ano passado também tive dengue, e só esperei por uma hora para ser atendida aqui. Hoje (anteontem), foram mais de cinco horas. É agoniante, porque a gente já chega passando muito mal”, reclamou. Segundo a paciente, que está com sintomas da doença há três dias, além da falta de profissionais, especialmente nos fins de semana, a infraestrutura também não é suficiente. “O atendimento é bom, mas demora muito. Se houvesse mais médicos, com certeza não sofreríamos tanto”, comentou.
Na mesma unidade, o pintor Reginaldo de Oliveira Silva, de 38, lamentava o calvário enfrentado pela esposa, com dengue desde quinta-feira. Segundo ele, a busca por atendimento começou no Centro de Saúde Santa Terezinha, na Pampulha, às 9h30. “Disseram que precisava ser transferida de ambulância, que só chegou às 14h. Já são 17h e ela ainda não foi atendida na UPA. Isso é um desrespeito”, reclamou.
No Centro de Saúde Horto, onde são unânimes os comentários de funcionários sobre o aumento da demanda por causa das doenças, há outro problema. Da lista de medicamentos para o tratamento da dengue – como o paracetamol e os remédios para coceira – há apenas soros para hidratação oral.
Epidemia se soma a antiga sobrecarga
Diretor do Sindicato dos Médicos de Minas Gerais (Sindmed-MG) e médico de Família e Comunidade da Prefeitura de BH, André Cristiano dos Santos reforça os relatos de pacientes e servidores.
A Secretaria Municipal de Saúde confirma o aumento da demanda, mas informa que vai disponibilizar R$ 3,2 milhões como incentivo financeiro complementar para as ações de controle e redução dos riscos das três doenças no âmbito da atenção básica e na assistência aos pacientes. “Neste primeiro momento, esse recurso é suficiente para as ampliações na estrutura de atendimento, previstas no plano de contingência assistencial para dengue, zika e chikungunya, elaborado pela secretaria e aprovado pelo Conselho Municipal de Saúde no fim de 2015”, informou a pasta, por meio de nota.
A secretaria alega que não há falta generalizada de medicamentos, insumos e materiais. Admite apenas faltas pontuais, em função de problemas na entrega pelo fornecedor, falta de matéria-prima ou recursos em processos licitatórios. “A secretaria atua para a rápida solução do problema, para que não haja prejuízo na assistência”, garantiu. Sobre a paralisação de ontem, a pasta informou que a adesão dos médicos foi de 36% (dados parciais, desconsiderando duas regionais).
ESTADO A Secretaria de Estado da Saúde de Minas Gerais (SES-MG) informou que já investiu de R$ 66 milhões no controle do Aedes aegypti, com o objetivo de incentivar a qualificação das atividades de vigilância e controle de endemias. No sábado, a secretária-adjunta, Alzira de Oliveira, afirmou que está previsto gasto de R$ 82 milhões para a guerra contra o mosquito. O estado pretende, até o fim de fevereiro, visitar 100% das residências mineiras. A secretaria ainda informou que, com recurso específico, disponibiliza medicamentos e insumos destinados ao atendimento aos usuários em tratamento de dengue.
Em nota, o Ministério da Saúde informou que os recursos federais destinados ao combate ao mosquito Aedes aegypti cresceram 39% nos últimos anos (2010-2015), passando de R$ 924,1 milhões para R$ 1,29 bilhão neste ano. Para 2016, a previsão é de incremento de R$ 580 milhões, com total de R$ 1,87 bilhão. Foi aprovado ainda no orçamento um adicional de R$ 500 milhões para o combate ao mosquito transmissor. A avaliação considera os repasses regulares feitos pelo ministério aos estados e municípios, assim como pagamento dos agentes de endemias, compra e distribuição de larvicidas, inseticidas (fumacê) e kits de diagnóstico.
Receita desfalcada
Medicamentos e insumos em falta em postos e UPAs de BH, segundo o sindicato dos médicos e funcionários das unidades
Para dengue
Paracetamol
Loratadina
Prometazina
Escalpes e equipamentos para aplicação de medicação venosa
Luvas para coletas de sangue (para sorologia e demais tipos de exame)
Outras doenças
Buscopan venoso (cólica renal)
Metformina (diabetes)
Losartan (pressão)
Ibuprofeno (anti-inflamatório)
Escopolamina (cólica).