Para ele, a barragem já deveria ter parado de operar há muito tempo. “A Barragem do Fundão tem uma vida curta e uma histórica problemática”, afirmou. De acordo com Oliveira, Fundão apresenta falhas desde a sua inauguração, em dezembro de 2008. Já em abril de 2009, segundo ele, houve problemas de dreno e uma erosão que paralisaram a recepção de rejeitos. Em 2010, mais problemas foram detectados na galeria e houve nova parada. O MPF investiga ainda se a Samarco comunicou essas paralisações aos órgãos ambientais e ao Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM).
Ontem, o procurador ouviu cinco engenheiros e técnicos da VogBR, empresa que emitiu o laudo atestando a estabilidade da barragem, e da Pimenta D’Ávila, que fez o projeto da represa.
DEFESA A VogBR justificou ao MPF que no momento em que o documento atestando a segurança da Barragem do Fundão foi emitido – em julho de 2015 – o alteamento da represa era aproximadamente quatro metros abaixo de quando a estrutura se rompeu. Quatro meses depois, quando ocorreu a tragédia, a estrutura tinha cerca de 100 metros de altura. De acordo com o advogado Leonardo Marinho, que acompanhou engenheiros da VogBR durante depoimento ao procurador Eduardo Santos, o coeficiente de segurança mínimo, entre os três locais analisados na barragem, era de 1,68. A legislação determina que o indicador seja de pelo menos 1,5. “Portanto, estava dentro do coeficiente de segurança”, disse o advogado.
“De julho a novembro de 2015, quando houve o rompimento da barragem, transcorreram quatro meses com construção de área, com impacto, rejeito diário. É um terço dos dados que seriam analisados no próximo laudo (anual) de estabilidade. Um terço não é uma conta que a gente possa desprezar. A barragem já não tinha a mesma altura, o número de rejeitos já não era o mesmo, a operação era diária e havia uma série de intervenções na barragem”, justificou o advogado.
O procurador já sabe que o piezômetro, um dos equipamentos que medem a segurança em barragens, estava em manutenção na tarde em que a represa se rompeu, causando o maior desastre socioambiental do Brasil. Quase 33 milhões de metros cúbicos de rejeitos de minério de ferro vazaram do local. A lama matou 19 pessoas, devastou 1.469 hectares de matas ciliares, soterrou mais de 100 nascentes, desabrigou mais de 300 famílias, destruiu povoados, assassinou um incontável número de animais, avançou sobre três rios – Gualaxo do Norte, Carmo e Doce – e chegou ao Oceano Atlântico.
RESPOSTA A Samarco informou, por meio de nota, que a “Barragem do Fundão sempre foi declarada estável. Em nenhuma oportunidade, nos constantes monitoramentos, inspeções, avaliações, relatórios de consultorias especializadas internas ou externas houve qualquer advertência de que a operação da barragem estivesse sujeita a qualquer risco de ruptura. Nesse sentido, ressalta-se que o Manual de Operação da barragem sempre foi rigorosamente observado pela empresa”..