O descarte irregular de lixo e entulho em lotes vagos e ruas de Belo Horizonte aparece como um dos maiores desafios diante da explosão de casos de dengue enfrentada pela capital. De acordo com o último balanço divulgado pela Secretaria Municipal de Saúde, 2.916 casos da doença foram confirmados em Belo Horizonte, além de três óbitos. A Regional Noroeste aparece com o maior número de casos confirmados, um total de 545, seguida pela Nordeste (415 casos) e Pampulha (411). No estado, nas seis primeiras semanas do ano são 62.271 casos prováveis de dengue, entre confirmados e suspeitos, segundo balanço da Secretaria de Estado da Saúde.
Denúncias de leitores de diversas regionais da cidade reforçam os riscos à saúde. No Bairro São Lucas, na Região Centro-Sul, por exemplo, moradores reclamam de um bota-fora na esquina das ruas Camões e Vera Cruz. Na Pampulha, um loteamento na Rua Antônio Chaves de Araújo, no Bairro Xangrilá, passa por situação semelhante. “A área está em frente à escola do bairro, em uma área comercial, e tem inúmeros focos de mosquito”, conta o técnico em segurança do trabalho Alzimar Cardoso da Silva. A situação, de acordo com ele, permanece há mais de três anos e, embora seja feita capina no local periodicamente, a área continua oferecendo riscos aos vizinhos. “Eu tive dengue e muitas pessoas da minha rua também passaram mal”, diz. Ele pondera, no entanto, que moradores que despejam entulho no lugar colaboram para o surgimento das doenças.
Na Regional Noroeste, o aposentado Ademir Rabelo se queixa do descarte na Avenida dos Engenheiros, na altura do número 1.550, no Bairro Alípio de Melo. “A avenida foi revitalizada no fim do ano, mas o entulho continua”, conta ele, que reforça que a situação já dura mais de 20 dias. Na Rua dos Violões, no Bairro Califórnia, na mesma região, o advogado François Manata convive com a ameaça diariamente, já que mora ao lado de uma casa abandonada, com entulho que permanece amontoado em uma piscina desativada. “Fiz cartazes e coloquei na porta da casa; o proprietário tirou o lixo de dentro da piscina, mas colocou em volta. Ou seja, não resolveu nada”, critica ele, que teve dengue há menos de um mês, assim como sua filha e seu neto. A epidemia, para o advogado, é um problema que vai do cidadão ao poder público. “O cidadão tem grande responsabilidade, tanto pela omissão quanto pela própria ação ao jogar lixo em locais que podem se tornar criadouros, e se sente desobrigado, porque não é cobrado pelos governos”, acrescenta.
COMBATE A prática de deposição clandestina de resíduos é coibida, segundo a Secretaria Municipal Adjunta de Fiscalização, por ações fiscais planejadas nos locais mais críticos. Além de notificação para correção da irregularidade, os infratores estão sujeitos a multas que variam de R$ 169,07 a R$ 5.072,13. O secretário municipal adjunto de Fiscalização, Alexandre Salles, ressalta que, antes de tudo, é preciso que o cidadão faça sua parte. “O município tem intensificado as ações fiscais, mas cabe ao cidadão, além de denunciar, não sujar a cidade e não colocar lixo fora do horário de coleta.”
Procurada pela reportagem do Estado de Minas, a Regional Noroeste informou que os locais que foram alvo de reclamação de moradores estão inseridos na programação de atendimentos rotineiros. Sobre a denúncia dos moradores do São Lucas, a Regional Centro-Sul informou que é frequente o pedido de recolhimento de deposição clandestina no local. A administração acrescentou que faz monitoramento fiscal na área. A Regional Pampulha não respondeu aos questionamentos até o fechamento desta edição.
AÇÃO NO METRÔ Passageiros do metrô de Belo Horizonte foram surpreendidos na manhã de ontem com a ação do grupo Confesso, que também entrou na luta contra o Aedes aegypti. Por meio de uma peça teatral, que apresentou situações cotidianas e dicas, usuários foram incentivados a entrar na luta contra o mosquito. A ação começou na Estação Central e seguiu dentro dos trens em operação durante toda a manhã. Os personagens embarcaram com os passageiros, levando até eles situações cotidianas voltadas para o combate ao mosquito.
O Instituto Butantan pretende desenvolver dentro de um ano um soro contra o zika vírus, que seria capaz de tratar pessoas já infectadas e evitar a transmissão entre mulheres grávidas e seus bebês – o que preveniria casos de microcefalia. Os pesquisadores também estudam incluir a prevenção à doença na vacina contra a dengue, que já chegou ao terceiro estágio da pesquisa e pode ficar pronta em 2018. Ontem, o ministro da Saúde, Marcelo Castro, e o secretário de Saúde de São Paulo, David Uip, assinaram dois convênios com o Butantan, na presença da presidente Dilma Rousseff. Um deles destina R$ 300 milhões para o desenvolvimento da vacina. O segundo prevê 8,5 milhões para pesquisas que levem ao soro. De acordo com Dilma, o Brasil busca vários caminhos para combater as doenças, mas, por enquanto, a população deve continuar atenta no combate aos focos de mosquito.
DENÚNCIA DO LEITOR
Sujeira que dá medo: nas regionais Pampulha e Noroeste, que registram altos índices de casos confirmados de dengue, lixo acumulado em casas e em lotes vagos compromete o combate ao vetor