A causa apontada para o rompimento da Barragem do Fundão, em Mariana, na Região Central de Minas Gerais, foi a liquefação – o desprendimento da água que está associada aos rejeitos de mineração e seu acúmulo em locais que podem desestabilizar a estrutura – que ocorreu inicialmente com o material arenoso que suportava o alteamento. Outros fatores, como a falta de monitoramento e aparelhos com defeito, foram determinantes para o rompimento, segundo o inquérito.
A conclusão das investigações sobre a tragédia foi adiada por três vezes a pedido da Polícia Civil. O primeiro inquérito foi aberto em 6 de novembro, um dia depois do rompimento da barragem. O documento com as conclusões da tragédia tem 13 volumes, 2.432 páginas. Foram colhidos aproximadamente 100 depoimentos de testemunhas e envolvidos diretamente na tragédia.
A Polícia Civil pediu à Justiça a prisão de sete pessoas consideradas responsáveis pelo rompimento da Barragem do Fundão: seis funcionários da Samarco e um da consultoria VogBR, empresa de geotecnia que elaborou estudos de trânsito de cheias das barragens de Germano, Fundão e Santarém.
As análises técnicas realizadas por equipes da Polícia Civil apontaram que a principal causa para a tragédia foi a liquefação. Sete fatores foram determinantes para que o processo ocorresse.
A polícia apontou que houve falhas no monitoramento contínuo do nível de água e das poropressões junto aos rejeitos arenosos depositados no interior da barragem e aos rejeitos constituintes dos diques de alteamento. Foram detectados diversos equipamentos de monitoramento com defeito. As investigações apontaram que nem mesmo a VogBR, empresa de geotecnia que elaborou estudos de trânsito de cheias das barragens de Germano, Fundão e Santarém, realizou leituras quando foi feita a emissão do laudo de segurança da barragem. Os investigadores apontaram um número reduzido de equipamentos instalados no entorno de Fundão.
De acordo com o inquérito, foi detectada alta taxa de alteamento anual da barragem em função do grande volume de lama que era depositado em seu interior, aproximadamente 20 metros de altura por ano, em média. “É sabido que o alteamento de qualquer barragem de rejeitos deve acompanhar a elevação do nível do lago formado. Nos dois últimos anos, os alteamentos foram realizados a uma taxa anual muito superior à recomendada na literatura técnica que é de, no máximo, 10 metros de altura”, diz o inquérito.
Foi detectado assoreamento do dique 02. “O que permitiu infiltração de água de forma generalizada para a área abrangida pelos rejeitos arenosos no lado direito da bacia de deposição de rejeitos”, conclui os investigadores. O sétimo e último ponto que contribuiu para o rompimento foi a presença de deficiência junto ao sistema de drenagem interno da barragem.