Em uma das cadeiras da UPA Leste, a atendente Marcela Cristina da Rocha, de 26 anos, mal conseguia se acomodar por causa das dores no corpo. “Desde ontem (anteontem) estou com dor generalizada, inclusive dor de cabeça forte. Está difícil esperar”, reclamava. O descontentamento no rosto da jovem se repetia no semblante da mãe, indignada pela falta de previsão para atendimento.
Ao ouvir do setor de acolhimento que poderia esperar cerca de oito horas por uma consulta, o servente de pedreiro Rafael Henrique, de 21, desistiu e resolveu apostar no tratamento em casa. “Eles me orientaram a beber muito líquido, entre água e soro, pelos próximos três dias. Mas esperar esse tempo todo não dá”, afirmou. O quadro de avisos da UPA Leste indicava a presença de quatro clínicos gerais disponíveis na unidade, mas chegar até um deles poderiam demorar 12 horas.
Já na UPA Nordeste, no Bairro São Paulo, a lotação extrapolava o espaço interno de espera. Muitos, inclusive, aguardavam no sol. Sentindo muitas dores, o conferente de supermercado José Pedro Nascimento Neto, de 30, deitou no meio-fio, pois não aguentava mais ficar sentado. “Estou com dificuldade até para urinar, de tanta dor que estou sentindo. Também estou com febre e tontura. Eles pegaram só meu nome, mas nem me chamaram para triagem”, denunciava ele, duas horas depois de chegar à unidade. Enquanto tentava descansar, ele deixou a mulher aguardando para quando fosse chamado.
Thayna Rampineli, de 17, estava tão mal que chorava enquanto esperava na UPA Nordeste. A mãe chegou a levá-la ao posto de saúde do Bairro Goiânia B, mas ouviu dos funcionários que não havia médico, devido à paralisação. “Ela está com dor no corpo e muita febre. Só pegaram o nome e ainda nem passou na triagem. Já estamos há duas horas e meia nessa situação”, reclamava Maria do Carmo Souza Rampineli, de 46. Uma paciente que não quis se identificar disse que ontem, na UPA Nordeste, que médicos se revezaram junto com a equipe de enfermeiras para triagem, com o objetivo de liberar pacientes que não fossem considerados graves e desafogar o atendimento.
PAUTA Na lista de reivindicações dos médicos, um dos pedidos é por recomposição salarial inicial da carreira, fazendo equiparação com o Programa Mais Médicos, que atualmente paga R$ 10.513,01 para uma jornada de 40 horas semanais. Os médicos também pedem convocação imediata dos aprovados em concurso que ainda não tomaram posse, adequação da população máxima de 2 mil pessoas por equipe da Estratégia de Saúde da Família (ESF) e recomposição de abonos e adicional de insalubridade, entre outros itens. A categoria sustenta estar cansada de trabalhar sob más condições, com falta de medicamentos básicos nas unidades de saúde, de material, como papel toalha, seringa e outros, e com equipamentos quebrados, como o aparelho de raio-x da UPA Leste.
Segundo a Secretaria Municipal de Planejamento, o plano de carreira para os médicos está em processo de finalização, antes de ser encaminhado à Câmara Municipal. Após aprovado, o médico poderá escolher se migra para o novo plano ou fica no atual, com possibilidade de aumento de 5% na segunda opção. A pasta informa que a paralisação teve adesão de 35% dos profissionais e alega que o movimento não comprometeu atendimentos nas UPAs. No caso dos centros de saúde, a secretaria argumenta que pacientes foram atendidos pelos demais profissionais da saúde da família, nos casos em que os médicos não compareceram.
Segundo a Secretaria Municipal de Saúde, houve aumento de 40% dos pacientes que procuram as UPAs da cidade com sintomas de dengue, o que causou espera maior por atendimento, especialmente para casos de menor urgência. A pasta informa que elaborou um plano de contingência para as doenças causadas pelo Aedes aegypti, com ativação de serviços e incremento de equipes de forma gradativa. Todas as Upas, informou, foram reforçadas com médicos e também com soro para hidratação oral..