Durante 21 dias, 34 crianças de 4 a 6 anos, de Brumadinho e Confins, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, passaram para uma experiência reveladora no consultório da dentista Marcela de Oliveira Brant: a música clássica reduz ansiedade na cadeira do dentista. É o que conclui pesquisa da Faculdade de Odontologia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), divulgada nesta quarta-feira.
De acordo com a UFMG, Marcela Brant tinha uma motivação para sua pesquisa de mestrado: descobrir uma forma de diminuir a ansiedade das crianças que começam a experimentar um tratamento dentário. “Ela sabia que, no Brasil, cerca de 40% das crianças de quatro a 12 anos ficam ansiosas na cadeira do dentista. Estava ciente também de que a Sinfonia 40 em sol menor K550, de Wolfgang Amadeus Mozart, tem efeito relaxante comprovado em situações de internação hospitalar”, informou a UFMG. A dentista teve orientação da professora da Faculdade de Odontologia Júnia Serra-Negra. Foi a primeira pesquisa no Brasil sobre a aplicação da música como método de distração e redutor da ansiedade no atendimento odontopediátrico.
Para fazer a pesquisa, foram extraídos dados como medições de frequência cardíaca e saturação de oxigênio, o que revelou que o método funciona. “O uso da música é um recurso seguro e eficaz, de custo baixo e execução simples”, conclui o estudo.
"A ansiedade é um obstáculo aos cuidados de saúde bucal, um desafio epidemiológico, principalmente em odontopediatria", disse Marcela Brant. "O desconforto causado, por exemplo, pelos ruídos de alguns equipamentos pode causar adiamento de consultas, o que gera impacto negativo na vida do indivíduo.
As crianças que participaram da pesquisa nunca haviam frequentado consultórios odontológicos e todas tinham duas lesões de cárie nos segundos molares de leite. “Cada uma delas passou por três sessões de atendimento, com cerca de 25 minutos cada: ficha clínica e exame clínico (sem música); consulta para restauração de um dente, ouvindo música, com utilização da técnica Tratamento Restaurador Atraumático Modificado, sem anestesia; consulta para restauração de outro dente, sem música. Foi um ensaio clínico cruzado, porque todos os pacientes passaram por atendimento com e sem música – neste último caso, cada criança foi controle dela mesma”, informou a UFMG.
As crianças usaram fones de ouvido durante o atendimento, com volume ajustado para não comprometer a compreensão das instruções da pesquisadora. Os níveis de ansiedade foram medidos com o uso de um oxímetro de pulso colocado no dedo indicador da criança.
A professora Júnia Serra-Negra explica que, em cada sessão, foram feitas três medições: a primeira, assim que a criança se sentava na cadeira; uma intermediária, quando a dentista ligava o motor de rotação para retirada do tecido cariado; a última, quando o dente havia sido restaurado. "Variações nesses marcadores biológicos indicam ansiedade porque, nesse estado, respiramos mais rápido, e os índices de oxigenação e frequência cardíaca aumentam", informa a professora.
A pesquisadora Marcela vai manter a linha de pesquisa no doutorado. Agora, com crianças que precisam extrair dentes, o que gera muito mais estresse. A ideia, segundo ela, é continuar estudando a influência da música em ensaio clínico com a mesma metodologia utilizada durante o mestrado. (Com informações da UFMG)..