Motociclistas já são 60% das vítimas em acidentes de trânsito em Belo Horizonte

Para especialistas, imprudência é responsável pelo avanço da violência nas ruas

Mateus Parreiras
Excesso de velocidade, conversões proibidas e ultrapassagens perigosas: rotina em Belo Horizonte - Foto: Rodrigo Clemente/EM/D.A.press

Os motociclistas que circulam pelas ruas de Belo Horizonte já respondem por 60% dos feridos em acidentes de trânsito internados pela rede do Sistema Único de Saúde (SUS). Em 2010, eram 2.111 feridos motociclistas entre 4.342 internados por acidentes, chegando a 49% do total, e, no ano passado, pela primeira vez, a quantidade chegou a 60%, com 4.260 dos 7.138 atendimentos. Ou seja, de cada cinco pessoas levadas para atendimento, três estavam sobre duas rodas. A imprudência de muitos desses condutores, que trafegam acima da velocidade permitida, por corredores apertados entre carros e caminhões e usando canteiros para fazer retornos proibidos, é parte da explicação para o aumento da violência nesse segmento, como mostra a reportagem do Estado de Minas.


Para a Polícia Militar e o Sindicato dos Trabalhadores Motociclistas e Ciclistas de Minas Gerais (Sindimotocicli-MG), uma das explicações é o aumento constante da quantidade de motocicletas emplacadas em Belo Horizonte e nos municípios da Grande BH e que circulam na capital, engrossando o trânsito. Apesar do alto índice de acidentes, a frota de motocicletas no ano passado representa um pouco menos de um oitavo da frota dos demais veículos. Enquanto modelos de duas rodas somaram 209.963 veículos, a frota geral passava de 1,71 milhão .

Ontem, no Anel Rodoviário de Belo Horizonte, que é a via mais perigosa da capital, muitos motociclistas aceleraram entre as fileiras de carretas e ônibus, mesmo com o asfalto ainda estando molhado pela chuva que caiu à tarde. Com um radar móvel, a reportagem registrou em 10 minutos pelo menos 20 motociclistas acelerando acima dos 100km/h, sendo que o limite tolerado para a via é de 70km/h no trecho do Bairro Novo São Francisco, na Região Noroeste de BH. Uma das motos chegou a atingir 110km/h, velocidade 57% superior ao limite.

E esses comportamentos não são as únicas imprudências flagradas. Em vários trechos, os condutores sobre duas rodas sobem nos canteiros de separação para passar da pista expressa para a pista local e até mesmo para fazer retorno proibido de um sentido para outro da pista expressa.

De acordo com o presidente do Sindimotocicli-MG, Rogério dos Santos Lara, a maioria dos acidentados não são entregadores profissionais. “Muitas pessoas estão andando de moto, mas poucos dos que se acidentam são trabalhadores. Quem eleva os acidentes é quem compra na concessionária, muitas vezes sem habilitação, e anda por aí fazendo barbaridades”, afirma. De acordo com o presidente da entidade de classe, os erros mais comuns dos motociclistas inexperientes são a falta de noção de espaço e tempo para as respostas do veículo em trânsito. “Esses motociclistas ultrapassam carros de forma imprudente, entram em espaços sem saber se conseguem passar e excedem a velocidade permitida. Isso tudo, os profissionais antecipam e sabem o que ocorre, sabem que não têm visão. A gente aprende, porque nosso negócio é ficar vivo no trânsito”, diz Lara.

CONSCIENTIZAÇÃO Segundo o comandante do Batalhão de Polícia de Trânsito (BPTran) da Polícia Militar, tenente-coronel Gláucio Porto Alves, a necessidade de ter um transporte mais rápido e acessível fez com que os números de veículos aumentassem muito na capital, sobretudo com o acréscimo do tráfego proveniente da Grande BH. “Indubitavelmente, temos um público flutuante muito grande na capital, e essa quantidade que aumenta ingressa em nossas vias, que são as mesmas de sempre e já não comportam essa quantidade crescente de veículos”, avalia.

Os comportamentos mais comuns que levam a acidentes, de acordo com o militar, são a ocupação inadequada das faixas de circulação e o excesso de velocidade, mas também colaboram o estado ruim da sinalização das vias e o desconhecimento das normas de trânsito. “A educação é a principal arma para combater esses comportamentos que levam a acidentes. A polícia tem feito campanhas educativas, temos a Transitolândia, que é um espaço para a educação das crianças de 4 a 12 anos, distribuímos fôlderes e fazemos campanhas também pelas redes sociais”, afirma o tenente-coronel Lara.

 

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