Representantes do governo federal, governos dos estados de Minas Gerais e do Espírito Santo assinaram nesta quarta-feita acordo que permitirá a recuperação das famílias atingidas pelo rompimento da Barragem do Fundão, em 5 de novembro, e recuperação do Rio Doce.
Durante a assinatura do acordo, que foi no Palácio do Planalto, a presidente Dilma ressaltou o fato de o acordo ter sido fechado sem limite financeiro. Haverá prioridades e um cronograma, dando prioridade à reconstrução das vidas da população atingida e recuperação do Rio Doce. Num primeiro momento, que compreende o período 2016/2018, o aporte será de R$ 4,4 bilhões. Para após 2018 está previsto mais R$ 1,2 bilhão, podendo chegar a 20 bilhões quando concluído o período de atendimento de todos os impactados, direta ou indiretamente. O tempo total estimado é de 15 anos. Esse valor de R$ 20 bilhões, no entanto, poderá ser superado, caso chegue-se à conclusão, de que serão insuficientes, ou reduzido, se posterior avaliação considerar que todas as ações necessárias foram concluídas sem o uso de todo o montante.
O advogado-geral da União, Luís Inácio Adams, ressaltou que existe uma diferença entre as medidas de reparação e as compensatórias. Todo esse valor é relacionado às medidas de reparação, que são as ações diretamente relacionadas à reconstrução das vidas e meio ambiente prejudicados. Já as medidas compensatórias dispenderão outros valores como R$ 1,1 bi já alocado para o reflorestamento de 40 mil hectares. Também estão envolvidas medidas de saneamento básico em todas as cidades que compõem a bacia do Rio Doce (veja abaixo como serão distribuídos os recursos iniciais).
RÁPIDO A presidente destacou não só a celeridade com que foi assinado o acordo, em menos de quatro meses após a tragédia, como as premissas que irão nortear as ações a partir de agora: “Primeiro: a reparação integral das condições sócio-econômicas e ambientais do desastre, sem limites financeiros. Essa será uma premissa em todo o período de implementação do acordo, num horizonte de recuperação estimado em 15 anos”.
“Acordamos uma estratégia compatível. Nos primeiros três anos, todos os programas serão realizados para se adequar metas e compromissos, inclusive financeiro. Os recursos para o período 2016/2018 contarão com um aporte inicial de R$ 4,4 bilhões”, continuou. Para após 2018, está previsto mais R$ 1,2 bilhão, podendo chegar a 20 bilhões quando concluído o período de atendimento de todos os impactados, direta ou indiretamente.
A curto prazo, a prioridade será, conforme a presidente, a compensação dos danos às famílias diretamente atingidas pelo rompimento, seguida de medidas de reparação e compensação aos pescadores e agricultores que tiveram suas atividades prejudicadas devido à lama que invadiu o Rio Doce. Isso, além das comunidades indígenas e demais povos que dependem do rio para sobrevivência.
A presidente ressaltou ainda a importância de se estimular a retomada das atividades econômicas, que foram afetadas pelo desastre.
RETORNO DE ATIVIDADES A presidente Dilma ressaltou ainda a importância de se estimular a retomada das atividades econômicas da população, que foi afetada pelo desastre, assim como da própria Samarco, que garante empregos e renda ao município de Mariana. O retorno das atividades da Samarco, no entanto, como ressaltou a ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, depende da licença ambiental da empresa, que está suspensa.
AÇÕES EM ANDAMENTO As ações de reparação explicitadas no acordo já estão em andamento, conforme o diretor de Estratégia e Planejamento da Samarco, Leornaro Sarlo. Ele ressalta que desde o acontecido, em novembro, a Samarco bem atuando em várias frentes.
Outras ações são o cadastramento e auxílio aos diretamente atingidos como pescadores, produtores rurais, além de estudo para contenção dos sedimentos. Ele ressalta também o início das ações de reflorestamento. Ele ressalta que, mais importante do que se falar em valores, é se pensar na reconstrução das vidas e danos causados.
SEM CRITÉRIO Em nota, o Ministério Público Federal, disse que questiona o acordo por entender que prioriza a proteção do patrimônio das empresas em detrimento da proteção das populações afetadas e do meio ambiente. Ainda conforme a nota, a Força-Tarefa que investiga o desastre considera a legislação socioambiental brasileira avançada e afirma que o acordo, nos moldes como foi desenhado, além de não garantir a reparação integral do dano, não segue critério técnico. Também não observou os diretos à informação e de participação das populações atingidas e, com relação aos povos e comunidades tradicionais, o direito à consulta prévia, livre e informada.
Para o Ministério Público, "o Termo de Ajustamento e de Transação celebrado entre o poder público e as empresas Samarco, Vale e BHP não tutela de forma integral, adequada e suficiente os direitos coletivos afetados, diante da ausência de participação efetiva dos atingidos nas negociações e da limitação de aportes de recursos por parte das empresas para a adoção de medidas reparatórias e compensatórias. Além disso, concedeu-se injustificadamente tratamento beneficiado à Vale e à BHP Billiton, vulnerando a garantia de responsabilização solidária".
A FT destaca também que o acordo desconsidera a garantia de responsabilidade solidária do próprio poder público para a reparação do dano, não tendo sido nem sequer estabelecidos mecanismos jurídicos capazes de garantir a efetividade do cumprimento das obrigações assumidas pelas empresas, o que transformou o ajustamento em algo próximo de uma carta de intenções.
Veja como será destinado o dinheiro:
Triênio 2016/2018: R$ 4,4 bi
2016 - serão aportados R$ 2 bi, sendo R$ 1,760 bi para medidas de reparação e R$ 240 mi para ações de compensação;
2017 - serão aportados R$ 1,2 bi, sendo R$ 960 mi para medidas de reparação e R$ 240 mi para ações de compensação;
2018 - serão aportados R$ 1,2 bi, sendo R$ 960 mi para medidas de reparação e R$ 240 mi para ações de compensação.
Previsão para 2019: aporte de outros R$ 1,2 bi, distribuídos da mesma forma.
Até 2030, o valor total de destinação pode chegar a R$ 20 bi (número que pode ser reduzido ou superado, conforme o andamento das medidas de reparação), sendo que R$ 240 milhões a título de reparação com obras de reflorestamento e outras ações julgadas necessárias serão depositados anualmente.
Saneamento e aterro sanitário
Estão previstos mais R$ 500 milhões de aporte, distribuídos da seguinte forma:
2016 - R$ 50 mi;
2017 - R$ 200 mi, sendo R$ 100 mi em cada semestre;
2018 - R$ 250 mi, sendo R$ 125 mi em cada semestre. .