Jovem em tratamento de leucemia morre dias depois receber sangue de doador com dengue

Audiência pública na quarta-feira discutirá os procedimentos de triagem, na tentativa de evitar transfusões com sangue contaminado

Paula Carolina
Família chegou a fazer campanha de doação de medula e acreditava na recuperação da jovem - Foto: Divulgação

A jovem Janaína Carvalho, de 21 anos, moradora de Juiz de Fora, na Zona da Mata, morreu nessa quinta-feira no Hospital Ascomcer, onde estava internada para tratamento de leucemia. Segundo o deputado estadual Noraldino Júnior (PSC), parente da jovem, ela estava na fila de espera para um transplante de medula, quando precisou de uma transfusão. Um dia após o procedimento, a família foi informada de que o doador estaria com dengue. Para discutir procedimentos em torno de uma triagem mais segura, o deputado marcou uma audiência pública para quarta-feira.

"O que disseram foi que a pessoa ligou avisando que não era para usar o sangue porque estava com dengue. Mas a transfusão já tinha sido feita. Os médicos informaram então que ela precisaria ficar em observação. A família ficou desesperada, mas como ela não estava tão debilitada, acharam que nada aconteceria.
Mas ela morreu ontem", diz.

O deputado afirma que não há queixas quanto ao tratamento oferecido pelo hospital, pelo contrário. No entanto, ele considera que é necessário haver meios de fazer uma triagem mais eficiente dos doadores para evitar que casos semelhantes possam acontecer, especialmente em Juiz de Fora, que está vivendo uma epidemia de dengue. "Já entrei em contato com o Hemominas para saber como é feito esse controle, conhecer mais de perto. Nosso receio é quanto ao sistema. Nesse caso, se o doador não tivesse avisado, ninguém nem saberia que tinha sido feita uma transfusão de sangue de pessoa com dengue", diz.

"Eu sou doador, sei que é feita uma triagem. Mas é preciso saber como isso é verificado. Não pode ficar a cargo do doador informar depois, se vier a saber que está com dengue. Existe uma fragilidade no sistema e isso precisa ser mudado", observa o deputado.

PLAQUETAS Em nota, a Fundação Hemominas confirmou que a paciente, durante o tratamento no hospital Ascomcer, recebeu uma transfusão de plaquetas. E disse que a fundação acionou processo de hemovigilância, após ser comunicada por um doador que apresentou febre cinco dias após ter realizado doação de sangue, seguindo normas e orientações do Ministério da Saúde/Coordenação Nacional de Sangue e Hemoderivados. A fundação admite que hemocomponente proveniente dessa doação foi transfundido para a jovem.


No entanto, a fundação salienta que "não há evidências de que a paciente tenha falecido por complicações transfusionais, uma vez que estava internada com leucemia mieloblástica recidivada, com sinais de infecção fúngica". E acrescenta que não há relato por parte do hospital de qualquer sinal ou sintoma na paciente relacionado à dengue.

Ainda segundo a Fundação Hemominas, todos os doadores passam pelas triagens clínica e laboratorial, de acordo com as normas e procedimentos legais. E não existe nenhum teste validado para dengue na triagem de doadores. Antes da doação, os doadores são questionados em relação a sintomas relacionados à dengue e orientados a comunicar a Hemominas caso apresentem febre em até sete dias após a doação. "A Fundação Hemominas segue todas as normas de boas práticas da hemoterapia, fazendo busca ativa quando há alguma informação por parte do doador. Existem poucos trabalhos disponíveis na literatura médica sobre dengue transfusional e, ainda, não se consegue fazer relação direta e clara entre transfusão e dengue transfusional", contina a fundação, em nota.

Já a diretora-presidente do hospital Ascomcer, Alessandra Sampaio, afirmou que o sangue é proveniente do Hemominas e disse que a direção do hospital não foi comunicada do fato de o doador das plaquetas ter relatado estar com dengue dias depois. "A direção desconhece isso", afirma. Ela acrescentou que, segundo os médicos que acompanharam a jovem, a morte foi decorrente da gravidade da doença.

SERVIÇO A audiência pública está marcada para a próxima quarta-feira, às 15h, no Plenário 4 da Assembleia Legislativa de Minas Gerais.
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