'Levar para a rua faz mais bem do que alongamento em clínica', diz fisioterapeuta sobre inclusão

Felipe Ribeiro coordena projeto 'Patrimônio e acessibilidade', que tem o objetivo de levar pessoas com deficiência física, sensorial ou intelectual a passeios em locais públicos importantes da cidade como o conjunto arquitetônico da Pampulha e o Circuito Cultural da Praça da Liberdade

Shirley Pacelli
Visitantes participaram de brincadeiras antes do tour com explicações em Libras e profissionais treinados em audiodescrição - Foto: Ramon Lisboa/EM/D.A Press

“Eles querem é viver. Querem participar da cidade.” A reflexão é do fisioterapeuta Felipe Ribeiro, que coordena o projeto Belo Horizonte – Patrimônio e acessibilidade. Nesse sábado, a iniciativa levou 57 pessoas com deficiência física, sensorial ou intelectual para um tour mediado pelo conjunto arquitetônico da Pampulha. Divididos em grupos, os participantes visitaram o Museu de Arte, a Casa do Baile e a Casa Kubitschek.

Desenvolvido com apoio da Fundação Municipal de Cultura, o projeto teve início em 21 de fevereiro, com uma visita ao Circuito Cultural da Praça da Liberdade. A iniciativa oferece transporte, ingressos e lanches. O encerramento será no dia 12, com uma oficina de ritmos populares e apresentação da Bateria Imperatriz Mineira, no Núcleo de Estudos da Cultura Popular (Necup). Os locais foram escolhidos por abrigarem acervos mais significativos sobre o patrimônio de Minas Gerais.

Formado em fisioterapia em 2008, o coordenador Felipe descobriu, na prática, que fazer reabilitação física dentro de clínica e seguir o lema “se adapte para ser aceito na sociedade” não era o ideal. “Eu vi que simplesmente levar para a rua fazia muito mais bem do que fazer alongamento em uma clínica”, conta.

Assim surgiu a ideia do projeto, que já foi realizado com sucesso em Salvador (BA).

Responsável pela produção da iniciativa, a museóloga Viviane Santos explica que a acessibilidade cultural contempla dois aspectos: a arquitetura e o atitudinal. “Não basta ter rampa e banheiro adaptado. É preciso saber receber. As rampas normalmente ficam no fundo ou na lateral do prédio. Você quer entrar é pela porta da frente”, observa. Para ela, o patrimônio deve estar a serviço das pessoas.

O tour é acessível em Libras e conta com profissionais treinados em audiodescrição, fora uma equipe multidisciplinar, com psicólogo, fisioterapeuta e pessoas formadas em turismo e belas- artes. “A ideia é que cada um, a partir do seu saber próprio, possa contribuir para que esse evento aconteça”, descreve Viviane.

Inclusão Os baianos Adriano e Pedro Henrique Cruz, ambos com deficiência intelectual leve, vieram a Minas só para participar da versão mineira do projeto. Adriano estava curioso em conhecer a Casa Kubitschek, que foi residência do ex-presidente Juscelino. “Achei o projeto ótimo. Sinto falta da inclusão social. Quando estou com o Felipe é como se ele fosse o meu tutor”, conta. Já Pedro relata que visitou espaços culturais em Portugal, Espanha e Chile, mas que não viu nenhuma iniciativa como essa. “Tem a questão do tato também.
Tem gente que não pode ver, é só na audição. Deveria ter esse acompanhamento sempre em todos os museus”, diz.

O casal Vagner Figueiredo e Laís Drumond, ambos surdos, aprovou a tradução simultânea para Libras em todas as atividades. “Quando vou a um lugar e não tem intérprete de Libras, vou embora. Eu quero que tenha acessibilidade”, diz Laís. É a filha Ludmila, ouvinte, que do “alto” dos seus 5 anos dá uma mãozinha aos pais quando consegue.

A família foi convidada para compartilhar o momento de lazer. Rosa Maria de Lima levou a filha Karine Gleice, deficiente intelectual de 32 anos, para conhecer a Pampulha. “Muitas atividades da Apae foram cortadas pelo governo. E nas regionais Norte e Nordeste não vejo nada. Podia ter mais cultura”, reclama Rosa.

Adriane Cristina da Cruz, presidente da Associação Mães que Informam (AMI), levou João Pedro, cadeirante com deficiência intelectual, para curtir o passeio. “É limitação, não impossibilidade.
O que tem para pessoa com deficiência em BH? Quem divulga? Onde que está? Não existe política pública”, reclama.

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