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Estado de Minas MULHER DE MINAS

Hábil em confortar pais e mães, Filomena Camilo do Vale é pediatra do corpo e da alma

A médica, que desde criança queria cuidar de 'neném dodói', atrai milhares de ouvintes a suas palestras em igreja de BH. Incansável, se divide entre o consultório e plantões em CTI infantil


postado em 06/03/2016 06:00 / atualizado em 06/03/2016 09:13

Filomena Camilo do Vale:
Filomena Camilo do Vale: "A mãe é uma figura importante demais na vida de um filho. Só ela dá permissão para que ele possa nascer e também morrer" (foto: Euler Júnior/EM/D.A Press)

Dezenas de mães e pais aflitos, acompanhados de suas crianças enjoadinhas ou com febre, fazem silenciosa romaria até o consultório da pediatra Filomena Camilo do Vale, de 54 anos, localizado na região hospitalar, em Belo Horizonte. Os trabalhos podem seguir madrugada adentro, se for necessário. Todos esperam sua vez, pacientemente. Sabem que, mais do que realizar uma anamnese ou prescrever um antibiótico, a doutora Filó, como é conhecida, terá sempre um conselho a oferecer, uma palavra de conforto ou, melhor dizendo, uma “bênção” capaz de acalmar o coração das famílias. “Ultimamente, os pais estão chegando ao consultório abatidos porque um deles ficou desempregado. Então eu digo que o emprego é o de menos e que vão chegar outras oportunidades. Imagine se ele tivesse de parar de trabalhar porque estava de cama, doente? Aí sim, seria trágico. Mas vocês estão com saúde e formam uma família. Aproveitem para ficar mais juntos. Arranjar outra vaga é só uma questão de tempo”, ensina.

Quem está dizendo isso, nesse momento, não é a Filó da Rua Padre Rolim (aliás, nem adianta tentar marcar consulta, porque a agenda dela, dedicada prioritariamente a convênios, está fechada até meados de 2018). Nesse momento, quem assume o palco é essa mulher de apenas 1,54 metro, que está sempre de salto alto e maquiagem, tentando disfarçar as olheiras profundas. Em frente ao microfone, Filó se agiganta, atraindo mais de 1 mil pessoas à Igreja Nossa Senhora Rainha, no Bairro Belvedere, nas noites de terça-feira. Suas palestras são reproduzidas em 230 CDs e DVDs gravados pela própria paróquia, de forma a ecoar para o maior número possível de pessoas. A médica é a primeira de uma série de mulheres que terão suas histórias contadas pelo Estado de Minas em comemoração ao 8 de março, Dia Internacional da Mulher.

"Só fiz medicina porque não tinha outra forma de ser pediatra. Minha mãe conta que eu, desde cedo, falava que, quando crescesse, cuidaria de neném dodói", revela a doutora Filó, enquanto pesa o pequeno Henrique Diniz Melo (foto: Euler Júnior/EM/D.A Press)

Na paróquia administrada pelo padre Alexandre Fernandes, ninguém sabe calcular quantas cópias foram distribuídas nos últimos 10 anos, quando Filó transferiu para a Zona Sul o grupo de oração que surgiu em 1983, no pensionato de mulheres para onde ela se mudou para estudar medicina na capital. Com formação nas Irmãs Paulinas, nem a pregadora Filó faz ideia do alcance de suas palavras: “Deus tem conosco essa liberdade de não nos obrigar a acreditar nele. Seu filho também não lhe pertence. Ele está na sua vida de passagem, somente para ensinar algo a você durante o tempo necessário. Se você conseguir compreender isso, terá relações melhores na sua vida. Há um teólogo que diz que o caixão pesa o peso das palavras não ditas (...). Digo muito para as mães  que abracem os filhos, cheirem-nos bem para, quando eles chegarem à adolescência, saberem se eles beberam, fumaram ou mexeran com drogas. Conheçam melhor os seus filhos”.

Após deixar a plateia reflexiva,  Filomena desce do púlpito, respira fundo e torna a vestir o jaleco branco. Na manhã seguinte, bem cedo, estará cuidando dos bebês de famílias de baixo poder aquisitivo do CTI infantil da Santa Casa de Misericórdia, onde dá plantão desde 1995. Dali Filó tira inspiração para suas pregações e aprende a relativizar pequenos problemas do cotidiano. “Estou agora com o caso de uma mãe cujo filho veio ao mundo com grave comprometimento dos rins. Há três dias, o bebê está com a frequência cardíaca baixa, só esperando o momento em que a mãe possa tomar coragem e dizer a ele: ‘Pode ir meu filho, que um dia eu te vou te encontrar...’. A mãe é uma figura importante demais na vida de um filho. Só ela dá permissão para que ele possa nascer e também morrer”, afirma.

Ao fazer a ronda dos leitos da Santa Casa, com 100% dos berços doados por uma benfeitora anônima, Filomena conversa com as famílias, uma a uma. “O principezinho está bem hoje, mamãe”, diz. “Operou o coração, papai. Amanhã vai tirar o dreno, a sondinha está bem.” Quando chega ao leito do bebê em estado terminal, Filó se detém por mais tempo. Torna a conversar com a jovem mãe, que não arreda pé há cinco meses da incubadora. “Não vamos desistir do seu filho até o último segundo. A hora em que você estiver preparada, podemos colocá-lo no colo, para morrer com dignidade, perto de quem ama. Então, vamos fazer uma transfusão de serenidade?”, diz Filó, que curiosamente não teve filhos. Casou-se aos 48 anos com um engenheiro, após a morte de um namorado: “Achei que minha missão era só servir a Jesus. Casar foi só mais uma delicadeza dele. Mas o casamento me completa”.

Escute mais dicas da doutora Filó a pais e mães.


Aos 17 anos, Filomena mudou-se sozinha para Belo Horizonte, com a missão de estudar na Faculdade de Ciências Médicas, com o apoio da tradicional família católica de Oliveira.  Até dois anos antes, participou da coroação de Nossa Senhora, em maio. “Aprendi a rezar o terço, de joelhos, com meus pais. Em Oliveira, são 31 dias de coroação, todos os dias. No meu aniversário, em 19 de maio, eu tinha a honra de colocar a coroa na mãe de Jesus. Nos outros dias, levava um pratinho com flores”, explica. Ela recomenda como fórmula de vida “dobrar os joelhos, porque eles te levam aonde os pés não alcançam”.

Ao chegar à capital, a jovem Filomena não conhecia ninguém. “Meu pai não queria que eu saísse de casa porque a situação era difícil e, apesar de ele ser bancário, as despesas eram altas. Ele falava que, se eu reclamasse, teria de voltar para casa. Com isso, aprendi a nunca reclamar. Lembro-me das minhas cenas na igreja, ajoelhada, dizendo para Jesus: ‘Estou vindo chorar um pouquinho, mas o senhor não se preocupe, porque vou dar conta’. Pode imaginar alguém tentando consolar Deus?”, recorda-se ela, que só podia visitar os pais de 15 em 15 dias e dar um telefonema por semana. “Só fiz medicina porque não tinha outra forma de ser pediatra. Minha mãe conta que eu, desde cedo, falava que, quando crescesse, cuidaria de ‘neném dodói’”. Tem como discutir com uma criança, ainda mais iluminada desde a infância como a Filó?

Seminário

Todas as terças-feiras, a partir das 20h, Filomena Camilo do Vale reúne o seu grupo de oração na Paróquia Nossa Senhora Rainha, no Bairro Belvedere. Suas pregações são transmitidas pela Rádio Belvedere FM, às 22h. Em 4 de junho, a dra. Filó, como é conhecida, estará também na abertura do II Seminário Internacional de Mães, falando sobre os desafios na primeira infância. Mais informações sobre o evento, que já abriu o segundo lote de inscrições, podem ser
acessadas pelo endereço www.seminariodemaes.com.br.


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