Fernando Avendanho, assessor da Superintendência de Vigilância Epidemiológica Ambiental e Saúde do Trabalhador da SES-MG confirma o quadro de epidemia no estado e as indicações de que a situação tende a piorar neste ano. “Provavelmente teremos maior número de casos que em 2013, apesar de todas as campanhas de mobilização, empenho dos municípios e agentes de endemias, mas esperamos que isso se reverta de alguma forma”, avalia, lembrando a importância de mudança de comportamento do cidadão comum. Outra causa para o aumento dos casos, segundo a infectologista Tânia Marcial, é a circulação de novo vírus, o zika. Muitos casos da doença são notificados como de dengue, devido à sintomatologia parecida.
Ontem, durante o inicio do serviço de instalação de telas de proteção com inseticida em residência de gestantes, o secretário municipal de Saúde de Belo Horizonte, Fabiano Pimenta, confirmou a situação enfrentada pelos municípios mineiros. “Com certeza, os dois primeiros meses fugiram da normalidade e comparativamente são maiores do que os da última epidemia, em 2013”, diz ele, lembrando que em outubro de 2015 o município já antevia a epidemia, a partir do volume de ovos depositados pelo Aedes aegypti nas armadilhas instaladas pela Prefeitura de Belo Horizonte. “A quantidade de ovos associada aos casos de microcefalia que vimos emergir no Nordeste fez com que decretássemos em dezembro a situação de emergência”, afirma.
Proteção extra para grávidas
A confirmação do vírus zika em grávidas no estado põe em alerta mineiras que já esperam bebê e aquelas que querem engravidar. Em Minas, 47 gestantes tiveram diagnóstico confirmado para a doença até 7 de março, segundo a Secretaria de Estado da Saúde. Em Belo Horizonte, segundo a Secretaria Municipal, são quatro casos confirmados em gestantes: três moradoras da Regional Norte, duas delas no Bairro Jardim Guanabara, e uma na Regional Venda Nova. Para proteger esse grupo de risco, a Prefeitura de BH iniciou ontem a instalação de telas de proteção com inseticida nas janelas de moradias de mulheres em gestação.
Recebem a proteção as que vivem em bairros em que há a confirmação de circulação do zika vírus e que estejam no primeiro ou segundo trimestre da gravidez. De acordo com o secretário Fabiano Pimenta, o projeto faz parte de estratégia da Organização Panamericana de Saúde, e há um ano e meio a metodologia de uso da tela vem sendo estudada. “Depois de aplicada, há a possibilidade de que a proposta complementar de controle do Aedes aegypti seja ampliada para outras cidades e estados”, informa Pimenta, que descreve o equipamento como a uma trama de malha fechada, impregnada por produto inseticida, com validade de cinco anos ou 20 lavagens.
Moradora do Jardim Guanabara – onde 60 pessoas passam pelo centro de saúde diariamente com suspeita de dengue e há duas grávidas com zika – a monitora de escola integral Izabelle Gomes de Oliveira descobriu há poucos dias a gravidez, e foi uma das primeiras a receber as telas em casa. Preocupada com o surto de zika no bairro, ela conta que vive um misto de alegria e tristeza. “Não estou triste pela chegada do meu filho, mas pelo momento que estamos enfrentando”, conta ela, que teme os efeitos do vírus sobre os bebês. Cuidadosa, Izabelle se protege com repelente e combate possíveis criatórios do mosquito onde mora. “Agora estou tranquila aqui, mas o problema é que não fico apenas em casa”, diz.