A tragédia na Rua Centauro, no Bairro São Bento, Centro-Sul de Belo Horizonte, deixou os moradores da região apreensivos e revelou a pressão por mudanças no local, iniciada muito antes do acidente. Um comerciante da Praça das Constelações, onde começa a Centauro, acredita que a atual configuração da praça coloca os caminhoneiros em uma espécie de pegadinha. “A placa de proibição deveria estar na esquina da BR-356 com a Rua Medusa. Depois que o caminhão desce, o motorista fica meio encurralado e acaba seguindo”, afirma ele, que prefere não se identificar. Outro comerciante que também pediu anonimato avalia que a solução seria colocar radares para veículos de carga, como os que já existem nas avenidas do Contorno e Nossa Senhora do Carmo. “Semana passada, agentes de trânsito estavam aqui multando, mas como não ficam sempre, não é uma fiscalização que iniba a circulação de caminhões”, afirma.
“Nossa demanda é para que a Rua Centauro tenha mão só para subir. Quem não conhece o local, às vezes não consegue parar na descida, pela configuração da rua. Se o acidente fosse depois das 18h, a tragédia seria maior, pois o trânsito costuma parar e vários carros ficam retidos onde o caminhão passou”, afirma. Ela acredita que, com o registro das imagens, talvez agora as autoridades tomem providências.
Risco em mais endereços
Belo Horizonte tem hoje 108 ruas com proibição do tráfego de caminhões, a maioria na Regional Oeste (37). Essas vias íngremes, onde a proibição de circulação de veículos de carga nem sempre é respeitada, levam perigos a muitos bairros da cidade. Isso continua ocorrendo mesmo em locais em que já houve registros de acidentes graves, como a Rua Paula Cândido, no Bairro Grajaú, Região Oeste. Em 30 de julho do ano passado, um caminhão perdeu os freios, arrastou três carros e se chocou de frente com o muro de uma escola. Por sorte, como era período de férias, nenhum aluno ou pai foi ferido. Contudo, as professoras da escola contam que ainda é comum descerem caminhões pela via, apesar da placa que proíbe esse tipo de tráfego. “Não respeitam as regras e com isso a gente fica pensando se vai acontecer de novo uma situação perigosa como aquela. Os caminhões que descem por aqui têm muita dificuldade de controlar e o freio pode não segurar. E nossa escola fica bem no fim da descida”, afirma a diretora Maria Célia Luz Dias.
A inclinação da Rua Paula Cândido é de 21,6%, acima, por exemplo, do que é considerado adequado para a coleta de lixo, que é de no máximo 20%. Ainda assim, na via são vistos, mesmo em dias de chuva, veículos de carga cometendo abusos. “Na semana passada, mesmo debaixo de chuva, desceu um caminhão grande por aqui. O motorista teve muita dificuldade para frear. Acho isso um risco para a segurança de moradores, de pessoas em outros carros e dos próprios condutores desses caminhões”, afirma o aposentado João Bosco Fontoura, de 73, que uma vez por semana a esposa na porta de um prédio no alto da via.
A equipe do EM percorreu ainda as ruas Daniel de Carvalho, no Gutierrez, na mesma região, Congonhas, no Bairro São Pedro, Região Centro-Sul, e Professor Anibal de Matos, no Santo Antônio, também na Centro-Sul. Em todas elas, apesar da proibição, motoristas e moradores confirmam o tráfego de veículos de carga e situações de perigo por esse motivo.