Mortes por dengue avançam 35% e aumentam alerta em Minas Gerais

Em apenas uma semana, número provável de casos no estado deu salto de 32,9 mil. Já são 19 óbitos confirmados pela doença e outros 91 continuam sob investigação

João Henrique do Vale Carolina Mansur
Multiplicação do número de vítimas do Aedes aegypti faz disparar a preocupação com áreas que podem se transformar em focos. Casos de zika também estão em alta, agravando risco - Foto: Gladyston Rodrigues/EM/DA Press
Apesar do nível de alerta maior despertado pelas novas ameaças transmitidas pelo mosquito Aedes aegypti, como a febre zika, é um velho inimigo que continua matando em Minas Gerais: a dengue. Em apenas uma semana, a Secretaria de Estado de Saúde (SES) confirmou mais cinco mortes associadas à doença,  fazendo o total saltar dos 14 registrados em 8 de março para 19, aumento de 35,7% . Em relação à dengue, além das 19 mortes confirmadas 91 estão sob investigação. Se todas fossem confirmadas, em apenas 75 dias Minas Gerais superaria os 76 óbitos registrados em todo o ano passado. Em relação ao zika vírus, o aumento no mesmo período foi de 51% no número de casos confirmados – entre gestantes e não gestantes. Pela primeira vez foram confirmadas infecções (10) em não grávidas.

O número de casos prováveis de dengue já chega a 193.541, também aproximando-se do total notificado durante os 12 meses de 2015 (196.613). Desde o último boletim, foram mais 32.921 notificações, com avanço de 20,5%. Neste ano, a SES mudou a metodologia de monitoramento do número de pacientes.
Agora, são usados dados do Sistema de Informação de Agravos de Notificação, que engloba casos suspeitos e confirmados, mesma estratégia usada pelo Ministério da Saúde.

Neste ano, já foram registradas mortes em 12 cidades. Juiz de Fora, na Zona da Mata, é a que apresenta o maior número. A SES confirma cinco óbitos na cidade, porém, ontem a Secretaria Municipal de Saúde já contabilizava oito. Belo Horizonte registra quatro casos fatais. Além Paraíba, Bicas, Divinópolis, Espera Feliz, Ibirité, Monte Carmelo, Mutum, Raposos e Patrocínio e Recreio têm um óbito cada. Segundo a SES, a maioria das vítimas (12) está na faixa etária acima de 50 anos.

ZIKA Em relação ao zika vírus, a SES confirmou as primeiras contaminações em pessoas que não estavam no chamado grupo de risco, formado por grávidas ou pacientes que se encaixavam no protocolo de avaliação de microcefalia. Segundo o balanço, 10 moradores de Minas contraíram a doença. Na última semana, não havia nenhuma confirmação. Outras 3.009 notificações ainda são investigadas. Segundo a SES, a tendência é que haja um aumento no número de casos confirmados da doença, devido a exames que ainda aguardam resultado na Fundação Ezequiel Dias (Funed).

Houve alta também no número de gestantes contaminadas. Foram confirmados 14 novos casos, fazendo o total saltar de 47 para 61 em sete dias. Outros 220 notificações ainda estão sendo investigadas. Belo Horizonte e Sete Lagoas, na Região Central de Minas Gerais, são os municípios com o maior número de casos (oito cada).
Em seguida, vem Coronel Fabriciano e Ipatinga (seis cada). Em relação aos casos do protocolo de monitoramento da microcefalia, 71 notificações seguem sendo investigadas, com uma confirmação – um caso de aborto espontâneo em Sete Lagoas.

CHIKUNGUNYA Seguindo a tendência das demais doenças transmitidas pelo Aedes aegypti, a febre chikungunya também apresentou aumento nos últimos sete dias. A SES investiga seis casos da doença no estado, um a mais do que o balanço anterior. É investigada a primeira morte de uma grávida em Contagem, na Região Metropolitana de Belo Horizonte. Se confirmado, será o primeiro óbito pela doença no estado.

- Foto: Arte EMLetalidade acompanha o crescimento da epidemia

Para o presidente da Sociedade Mineira de Infectologia, Estevão Urbano, o avanço no número de óbitos por dengue tende a estar relacionado com a maior quantidade de casos registrados este ano. “Quando a quantidade de infectados é superior em números absolutos, há mais chances de casos graves, que podem chegar à morte”, diz ele. O especialista explica que a dengue sempre foi a maior preocupação da entidade. “Além de ser a doença mais comum, é aquela que representa mais ameaça em termos de gravidade. A zika e chikungunya têm incidência menor de mortalidade”, afirma. E vai além: “Embora haja a novidade da zika, a maior ameaça para a população adulta continua sendo a dengue, e é preciso aumentar o alerta”.

O superintendente de Vigilância Epidemiológica, Ambiental e de Saúde do Trabalhador da Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais, Rodrigo Said, lembra que, em um estado onde há uma população já sensibilizada pelo vírus da dengue, uma nova infecção pode trazer riscos de manifestação mais grave da doença.
Por isso, segundo ele, é preciso procurar o serviço de saúde diante dos primeiros sintomas e acompanhar a evolução das manifestações. “Existem sinais de alarme que são alertas para a forma grave da doença, como vômitos persistentes e em intervalos curtos, dor abdominal contínua e sensação de desmaio”, lembra.

A circulação do vírus zika em Minas e o aumento no número de casos em investigação, que dobraram em uma semana, passando de 1.523 para 3.009, segundo Said, podem ser explicados pela população suscetível ao vírus – pessoas que nunca foram contaminadas – e pelo fato de a notificação ter se tornado obrigatória desde fevereiro. A confirmação dos 10 primeiros casos em não gestantes, segundo ele, ocorreu por exame laboratorial. Já o aumento no número de grávidas infectadas, que saltou de 47 para 61, pode ser explicado pela maior agilidade no processamento de exames pela Funed..