Cine Santa Tereza renasce remodelado em abril

Espaço volta à ativa como o primeiro cinema público de BH e vai oferecer ainda sala multimeios, biblioteca com obras específicas sobre artes audiovisuais e videoteca

Gustavo Werneck

A sala de exibições vai oferecer mostras, filmes de arte e produções independentes e autorais gratuitamente, de quarta-feira a domingo - Foto: Leandro Couri/EM/D.A Press

Luz, câmera, ação...e arte! Depois de 12 anos fechado, um monumento símbolo do Bairro Santa Tereza, na Região Leste de Belo Horizonte, vai voltar às origens e à ativa em grande estilo. No mês que vem, o Cine Santa Tereza, na Praça Duque de Caxias, será finalmente reaberto aos admiradores da sétima arte com o status de primeiro cinema público de rua da capital. Construído em 1942, com projeto do arquiteto italiano Raffaello Berti (1900-1972), o local, que contemplará todo o universo audiovisual além da sala escura, está na fase final de obras, embora já exibindo todo o clima propício à cultura, à diversão e, principalmente, ao prazer de se assistir a um bom filme num lugar concebido para isso.


O novo equipamento vai se chamar MIS Cine Santa Tereza, pois está vinculado ao Museu da Imagem e do Som (MIS) da Fundação Municipal de Cultura/Prefeitura de Belo Horizonte (PBH). Os ingressos serão gratuitos, com exibições de quarta-feira a domingo, contemplando filmes de arte, produções independentes e autorais, mostras especiais e outros nacionais e mineiros, entre longas, curtas e documentários. Para a abertura, será apresentado um filme de cineasta mineiro, recém-restaurado. O nome da película ainda é surpresa, mas a data poderá ser 5, 10 ou 18 de abril. “Trata-se de mais uma iniciativa para levar as pessoas para a rua, tirá-las dos ambientes fechados, como vem ocorrendo ultimamente com a Virada Cultura, a interdição do Viaduto Santa Tereza, uma vez por mês, o carnaval e outros eventos”, diz o presidente da FMC, arquiteto Leônidas Oliveira.

Leônidas explica que, nos últimos anos, foram gastos mais de R$ 4 milhões para recuperar e equipar o prédio em estilo art déco, sendo de início empregados recursos de R$ 1,5 milhão da empresa Vale, quando o local se transformaria em centro cultural. “Nos últimos dois anos, nos esforçamos para dotar o prédio de todos os equipamentos, fazer o tratamento acústico e comprar tudo de qualidade.

Só o projetor 4k, com altíssima resolução de imagem, custou R$ 1,1 milhão”, afirma o presidente da FMC.

Entusiasmado com a recuperação do Santa Tereza, um patrimônio protegido, que terá outras novidades além da tela grande, Leônidas ressalta que esse é o primeiro dos antigos cinemas de rua de BH a voltar a funcionar como sala de projeção. Muitos dos pioneiros seguiram caminhos diversos, bem longe da sua função original: viraram igrejas evangélicas, estacionamento ou pegaram fogo. “Nossa maior alegria é trazê-lo de volta como cinema, no Bairro Santa Tereza, que é tombado pelo município. Na verdade, é uma sala de todos os belo-horizontinos”, afirma o dirigente.

NO ESCURINHO

Na tarde de ontem, as gestoras do MIS Cine Santa Tereza, Ana Amélia Lage Martins, e do MIS, Siomara Faria, mostraram o espaço, em primeira mão, ao Estado de Minas. Foi como um trailer de um filme que promete sucesso, depois da longa espera e muita expectativa. O barulho no ambiente, por enquanto, é das furadeiras e não de uma boa trilha sonora, nem o movimento é da plateia, e sim dos trabalhadores. Mesmo assim, há conforto nas 122 poltronas vermelhas, com braço de madeira, tela grande e projetores de última geração à espera do público. “Procuramos oferecer comodidade e ser fiéis às poltronas originais”, diz Leônidas.

Com área construída de 1,1 mil metros quadrados e dividido em dois pavimentos, o MIS Cine Santa Tereza terá, no primeiro andar, no nível da praça, uma sala multimeios com isolamento acústico para exposições, oficinas, palestras, residência artística, ações educativas e outras atividades. No mesmo nível, os moradores e visitantes terão a seu dispor uma biblioteca integrada à rede municipal, contendo obras específicas sobre as artes audiovisuais, especialmente o cinema, além de acervo destinado ao público infantil, obras literárias, de humanidades, ciências sociais, enfim, do conhecimento. Para incrementar o setor, a FMC adquiriu recentemente mil títulos e vai oferecer também videoteca.

Percorrendo os corredores e ambientes, Ana Amélia, com mestrado e doutorado em ciências da informação, e Siomara, com mestrado na área de cinema, ressaltam a preocupação com a qualidade dos equipamentos. Na sala de projeções, Ana Amélia adianta que o local está preparado para exibir filmes em película, contando com um equipamento de 35mm.

USOS Pintado de verde, o prédio já teve vários usos, desde que encerrou as atividades em fevereiro de 1980. Desde então, foi danceteria e casa de shows – o Cine Tereza Cine Show –, onde se apresentaram grandes astros da música, e outras boates, algumas polêmicas. “Agora, volta a ser uma sala escura de cinema”, diz Siomara, lembrando que o MIS completa 21 anos, pois incorporou o Centro de Referência Audiovisual (Crav) criado em 1995.

“Este cinema de rua, recuperado, vai na contramão de todos os que sumiram da cena cultural de BH.” Ana Amélia acrescenta que o MIS Cine Santa Tereza promoverá mostras, festivais e lançamento de filmes.

Construído em 1942 com projeto de Raffaello Berti, o prédio está em reforma e passará a integrar o Museu da Imagem e do Som - Foto: Leandro Couri/EM/D.A Press
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O ARQUITETO

O italiano Raffaello Berti (1900-1972) nasceu em Colla Salvetti, na Província de Pisa. Chegou a Belo Horizonte em 1929 com a intenção de passar apenas seis meses. Ficou até o fim dos seus dias. Participou da fundação da Escola de Arquitetura da UFMG, onde lecionou desenho artístico, arquitetura paisagística e composição decorativa. Fez mais de 500 projetos em BH e no interior de Minas, entre eles o prédio da prefeitura, o Cine Metrópole (demolido), hospitais, escolas e residências em estilo art déco e alguns já com linhas modernistas. O Cine Santa Tereza, também com projeto de Berti, começou a funcionar em 1944.

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