“Vamos sair daqui, gente”.
Nas imagens, mesmo com a câmera próxima do rosto, é difícil ouvir a voz do analista ambiental Pedro Paulo Barbalho, de 32 anos, por causa do contraste com o som alto do rio de rejeitos de mineração. O vídeo foi feito por pessoas que estavam em uma estrada perto de um barracão e pequenas casas.
O analista ambiental se aproxima de um barranco de onde é possível ver a lama de rejeitos descendo em alta velocidade. A avalanche marrom provoca um barulho ensurdecedor que aumenta a cada segundo. Em alguns momentos, é possível ver ruídos semelhantes a trovões, o que leva a crer ser algum objeto sendo destruído.
Quando o rio começa a se aproximar de uma pequena casa ao fundo da imagem, o desespero do grupo começa. A testemunha que faz o vídeo, desorientada, começa a correr e entra em uma casa para pegar uma mochila, onde estavam um notebook e um HD. Rapidamente ele sai e volta a seencontrar com o restante das pessoas. Juntas, elas começam a subir um barranco para ficar em um ponto mais alto. No trajeto, é possível ver dois carros da mineradora Samarco, parados na estrada.
O grupo fica por alguns segundos olhando a destruição causada pela avalanche. Depois, temendo o perigo, volta a seguir para um ponto mais alto. De lá, é possível ter noção da força da avalanche. Uma névoa vermelha paira no ar.
O analista ambiental trabalhava na região desde 2013. No momento do rompimento, estava na entrada de Bento Rodrigues. “Aquela fazenda ficava na entrada da comunidade. Fomos avisados da situação pelo rádio. Minha equipe é muito experiente e, por isso, sabíamos para onde correr no momento de emergência”, contou Pedro Paulo. “Somos experientes até aparecer uma coisa nova. Barragem de dois em dois anos tem rompimento no Brasil, mas não desta magnitude. Quando nos avisaram, não acreditei que iria descer aquela lama toda”.
Depois de subir a montanha, a equipe de Pedro Paulo conseguiu encontrar a estrada que liga Mariana a Bento Rodrigues.
O tempo em que trabalhou em Mariana fez o analista ambiental ter contato quase que diário com os moradores de Bento Rodrigues. Por isso, a tristeza é incontrolável. “Almoçava em Bento, conhecia as pessoas. Apesar de não conhecer as pessoas que faleceram, sempre encontrava com elas. Os trabalhadores que perderam a vida almoçavam com a gente, não na mesma mesa, mas sempre nos cumprimentavam”, disse. .