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Estado de Minas

Detentas de Minas receberão novos modelos de uniformes

Meta é aumentar a autoestima e ajudar na ressocialização


postado em 21/03/2016 06:00 / atualizado em 21/03/2016 08:13

Shaynara e Ana Paula experimentaram peças e aprovaram o novo desenho, com três tamanhos, que será recebido por mais de 3 mil detentas (foto: Leandro Couri/EM/D.A.Press)
Shaynara e Ana Paula experimentaram peças e aprovaram o novo desenho, com três tamanhos, que será recebido por mais de 3 mil detentas (foto: Leandro Couri/EM/D.A.Press)

Até agora, a maioria dos presídios femininos no Brasil entregava às suas detentas, na entrada da cela, um par de chinelos de dedo e um uniforme de padronização masculina, sem distinção de tamanho pequeno, médio ou grande. Tanto fazia. Com esse figurino, passar para o lado de trás das grades significa perder, além da liberdade, a identidade feminina. Ser presa, portanto, significa ser obrigada a vestir um “saco de batatas” ou um “balão”, nas palavras delas mesmas, que revelam vergonha inclusive dos trajes com que se apresentam para receber visitas de filhos e familiares.

Em uma iniciativa inédita, as mais de 3 mil presas mineiras vão receber, em breve, uniformes mais dignos, com camisa de gola em “V” e cós nas calças, em vez do elástico, eleito como preferido do público masculino. “Só de saber que elas não vão mais usar roupa de homem, com gavião lá embaixo, até nos joelhos, tive notícias de que a autoestima das presas melhorou. Elas já estão sentindo vontade de se arrumar mais, passar um batom”, comemora a mentora da ideia, a superintendente de Atendimento ao Preso, Louise Bernardes. Ela conta que chegou a sugerir encurtar as bermudas, mas a ideia foi reprovada pelas próprias internas. “Elas têm noção de que o uniforme precisa se ajustar melhor ao corpo e não sensualizar”, relata. “Não chamei estilista nem sofistiquei nada. O molde é feito pelas presas, costurado por elas e para elas próprias.”



Na prática, mudar a padronização de masculino para feminino não vai gerar custos extras ao sistema penitenciário de Minas, que produz os próprios uniformes desde 2009. “Desde que me sentei na cadeira da superintendência, há três anos, a primeira coisa que perguntei foi se seria possível e se estava dentro da lei oferecer a elas um uniforme feminino. Mesmo assim, enfrentei alguma resistência dos agentes. Ainda permanece a filosofia de que a pessoa presa deve ser punida e não ressocializada. Na minha cabeça, temos de devolver para a sociedade pessoas melhores do que aquelas que entraram na prisão”, compara Louise Bernardes.

Antes de os novos uniformes serem lançados oficialmente, detentas do Complexo Penitenciário Feminino Estêvão Pinto (Piep), no Bairro do Horto, em Belo Horizonte, fizeram a prova das peças, acompanhadas pela reportagem do Estado de Minas. Aos 19 anos, Shaynara Izabelle, de longos cabelos e porte pequeno, não escondia o alívio de receber roupas do seu tamanho, ao contrário da vestimenta anterior, que era tamanho único: “Apesar da minha situação, ficou muito mais bonito. Mas quando sair daqui, nunca mais vou conseguir usar vermelho”, diz, em relação à cor que identifica as internas. Ana Paula de Oliveira, de 29 anos, presa por lavagem de dinheiro, considerou que, por mais que ainda seja vermelho e mantenha o “Suapi” – sigla da Subsecretaria de Administração Prisional – escrito nas costas, o novo uniforme deu um “up” no visual: “É mais feminino e delicado”, considera.

Produção começou no Dia da Mulher

Em 8 de março, quando se comemorou o Dia Internacional da Mulher, a fabricação dos novos modelos foi iniciada em Caxambu e Pouso Alegre, pelas mãos das próprias presas, a partir de um molde tirado por uma delas, Camila Teodoro de Toledo, de 25 anos, com experiência na área de confecções, que pegou pena de seis anos por tráfico. “Eu estava na hora errada e tive a reação errada. A droga era do meu companheiro, que jogou no meu colo. Não sou nem usuária”, diz ela, que trabalha com oficina de costura desde os 18 anos em Monte Sião, no Sul de Minas.

Dentro do Presídio de Caxambu, Camila tirou a modelagem de uma peça-piloto e fez as modificações, adaptando os moldes para os tamanhos P, M e G. Em seguida, recebeu as máquinas de costura profissionais e as ajustou, uma a uma.

Neste ínterim, as colegas voluntárias participavam de cursos de corte e costura, por meio do Pronatec. Quando chegaram ao batente, Camila organizou a linha de produção. “Está ficando lindo: enquanto uma vai rebatendo, a outra vai pespontando, a colega revisando e a última, contando as peças. Ao ficar sabendo disso, meu pai disse que eu, mesmo presa, estava dando orgulho para ele”, afirma, emocionada, a detenta, que prometeu entregar 2.050 peças de uniforme até 10 de abril.

No cotidiano das penitenciárias femininas, os novos uniformes vão evitar brigas diárias que costumavam haver entre seguranças e detentas, que insistiam em “enrolar” as blusas em mini-blusas ou o cós das calças, para ajustar melhor ao corpo, o que era proibido. Outra infração comum era furtar linhas e agulhas das oficinas de corte e costura para alinhavar, por dentro, os uniformes, com o mesmo objetivo. Com os novos modelos, a única preocupação da diretora de segurança da Piep, Sabrina Melo, será em relação à introdução de bolsos nas calças e bermudas que, apesar de ajudarem no estilo, podem dificultar a vigilância. “Pode aumentar o número de brigas, com uma puxando outra pelo bolso. Mas isso é só um detalhe”, afirma.


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