Moradores da cidade histórica se cotizam em rifas para comprar as vestes características da época de Cristo e representar a Sexta- feira da Paixão nas ladeiras históricas de Ouro Preto, na Região Central de Minas Gerais. A cidade desperta as seis horas da manhã com o soar das matracas e o batido ritmado dos cajados dos cavaleiros da guarda de Herodes, que conduzem Jesus a caminho da crucificação.
"Meu ano começa agora", confessa o inspetor de segurança Walerson de Paula, de 30 anos, que há 10 representa Jesus sem ser substituído. Seu rosto compungido e expressão aflita vai arrastando mais e mais pessoas a cada ladeira percorrida, no percurso total de cerca de 5 km. O ator amador faz questão de seguir descalço pelos paralelepípedos e carregar literalmente uma cruz de madeira leve: "Na cena em que já estou 'morto' tenho de me controlar para não chorar pois a emoção da mulher que faz ade Maria é muito forte", conta ele que sente dor nos ombros e leva algumas chicotadas reais.
"Sinto que estou velha para este papel, mas eu me entrego de corpo e alma a ser a mãe de Jesus. É uma responsabilidade muito grande" explica Cecília Amaral de 66 anos que também já foi Maria Madalena. O cheiro de rosmaninho, levado em cestinhas pelas servas de Herodes, vai conduzindo o caminho da via sacra.
Os moradores saíram da Capela Nossa Senhora dos Passos e seguiram em direção a Nossa Senhora do Pilar.