Entre março e maio de 2012, foram registrados 12.515 casos de dengue, o que corresponde a 39,52% das notificações daquele ano. A situação se agravou nos anos seguintes. Em 2013, esses meses registraram 73% dos casos (302.704). Em 2014, foram 62,7% (36.431) e 2015, 71,2% (140.035). “Temos um número maior de pessoas contaminadas, situação que tende a se agravar”, diz a infectologista Virgínia Zambelli, que integra a diretoria da Sociedade Mineira de Infectologia.
As chuvas marcaram o feriado prolongado da semana santa e deverão se manter na estação que, normalmente, se caracteriza por médias pluviométricas baixas.
Nessas circunstâncias, a orientação é não relaxar e a educação da população para combater o mosquito é a principal forma de barrar a epidemia, avalia a médica. No entanto, ela lembra que, apesar de o país viver epidemias sucessivas ano após ano, ainda há muito o que fazer para um combate eficaz ao vetor da dengue, da zika e da chikungunya . “Há muito lixo pela rua, o que facilita o surgimento de criadouros”, pondera.
A infectologista lembra que a dengue é muito grave, embora o aparecimento da zika e da chikungunya tenha dividido a atenção. Como o principal vetor é o Aedes, combatê-lo é se prevenir das três doenças. “Na prevenção não faz diferença, mas as pessoas dão pouca atenção à dengue”, comenta. Em Belo Horizonte, neste ano, foram confirmados 16.635 casos de dengue. Há 44.456 casos notificados, pendentes de resultados. A regional com o maior número de casos confirmados é a Nordeste, com 3.392 ocorrências, seguida pelas regionais Barreiro (2.496) e Noroeste (2.125).
O volume de entulho recolhido nos mutirões de combate ao Aedes realizados pela Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) neste ano sinalizam a dimensão do problema. Até quarta-feira, foram 3.257 toneladas de materiais que poderiam se tornar criadouro de dengue, retirados nas nove regionais da capital, durante os mutirões intersetoriais coordenados pela Secretaria Municipal de Saúde, Defesa Civil e secretariais regionais, com apoio da Superintendência de Limpeza Urbana (SLU).
Quando a população está sensibilizada pelo vírus da dengue, uma nova infecção pode trazer riscos de manifestação mais grave da doença, conforme alertou, na semana passada, ao Estado de Minas, o superintendente de Vigilância Epidemiológica, Ambiental e de Saúde do Trabalhador da SES, Rodrigo Said. Os especialistas reforçam a necessidade de buscar o serviço de saúde diante do aparecimento dos primeiros sintomas.
COMBATE permanente A médica infectologista Tânia Marcial, do Centro de Informações Estratégica em Vigilância e Saúde da SES, lembra que, apesar de esse período do ano ter o pico de casos na Região Sudeste do país, parte da população não adota os cuidados necessários para evitar a proliferação do mosquito. Ela lembra que, em junho, o número de casos começa a recuar.
Palavra de especialista
Coronel Alexandre Lucas, coordenador da Defesa Civil de BH
Responsabilidade individual
“O que a gente percebe é uma cultura perversa de acumular inservíveis. As pessoas ainda não entenderam que a responsabilidade primeira para a prevenção das doenças é individual. É preciso entender que autoproteção e proteção comunitária vêm antes da proteção pública, porque não podemos estar o tempo todo dentro das casas das pessoas. No caso da dengue, 75% dos focos estão nas casas. Só na Pampulha, recolhemos 16 mil pneus. Temos que vencer a cultura do acúmulo, da dependência do poder público, do “isso não vai acontecer comigo” e de que o mosquito está sempre no vizinho. Desde dezembro, estamos realizando os mutirões de limpeza e a quantidade de lixo que existe nas residências mostra que as pessoas ainda esperam a gente ir. Enquanto isso, o mosquito vai se proliferando. Este é um desafio grande, porque trata de mudar a cultura no mesmo momento em que pessoas estão morrendo”.
Aplicativo ajuda na prevenção
Foi criado o aplicativo para ajudar na prevenção e erradicação dos focos do mosquito Aedes aegypti . A ferramenta está disponível no endereço www.img.com.br/semzika. Para criar mapas interativos, basta que o usuário faça o login no Facebook e escolha um dos quatro ícones disponíveis que deseja informar (Foco de Mosquito, Caso de Chikungunya, de Dengue ou de Zika). “Com projetos de mapeamento colaborativo, cada cidadão se torna protagonista no combate ao mosquito, compartilhando informações em redes sociais, sendo o mapa não só a representação gráfica, mas uma forma de resistência e denúncia. Poderá usar recursos como fotos e visualizações de possíveis focos do mosquito”, afirma Abimael Cereda Junior, gestor de Educação na Imagem, empresa desenvolvedora da plataforma. .