A Barragem do Fundão se rompeu em 5 de novembro, despejando 50 milhões de metros cúbicos de lama e rejeitos, em uma onda que desceu pelo vale atingindo depois a Barragem de Santarém, que continha água, e depois arrasando o subdistrito de Bento Rodrigues. A inundação avançou sobre mais comunidades de Mariana e de Barra Longa, matou 19 pessoas e trouxe problemas de abastecimento, soterramento de pastos, plantações e hábitats entre Minas Gerais e Espírito Santo naquela que é considerada a maior tragédia socioambiental do Brasil.
Ontem, a equipe do EM teve acesso às ruínas do subsdistrito de Bento Rodrigues, algo que tem se tornado cada vez mais difícil, já que agora alguns dos acessos ao antigo povoado são controlados com portões e seguranças. A construção dos diques se destaca na paisagem. O complexo de três reservatórios foi apresentado pela empresa no primeiro termo acordado com o Ministério Público estadual, na tentativa de cessar o dano ambiental continuado que o carreamento de lama e minério continuava representando para os córregos.
Nas imediações de Bento Rodrigues, tratores empurram pedras e caminhões pesados transportam terra em ritmo acelerado, na tentativa de adequar o sistema de três diques e impedir que a lama e os rejeitos minerários continuem a poluir os rios. Mas, mesmo no atual estágio, no qual a empresa considera que os reservatórios estejam prontos e retendo a água contaminada para que decante, o líquido que continua a escorrer é barrento e deposita um pó cinzento e brilhante nos leitos e margens dos cursos em que desemboca, como constatou a reportagem do EM.
O córrego vermelho que desce da terceira estrutura de contenção, construída quase em cima de Bento Rodrigues, é apenas uma fração do rio que costumava passar pelo subdistrito, já que um lago enorme se formou a partir do barramento e libera pouco volume. O reservatório criado para melhorar a qualidade da água inundou pastagens e bosques que estavam cobertos pelos rejeitos.
CONTENÇÃO REFORÇADA Questionada sobre a eficácia dos diques, a Samarco informou que eles tiveram construção concluída em fevereiro e avalia que têm “contribuído para a melhoria dos aspectos de cor e turbidez dos rios afetados”. “No período anterior à implantação do dique S3 (próximo a Bento Rodrigues), por exemplo, o Córrego Santarém seguia para os cursos hídricos à jusante (abaixo) com elevada carga de sólidos suspensos, da ordem de 20% em peso”, diz nota da empresa, acrescentando que, após a implantação, a lama passou a ficar sedimentada no reservatório do dique. A mineradora sustenta também que planeja novas estruturas para diminuir a atual concentração de sedimentos.
Ainda segundo a empresa, está sendo feito plantio emergencial de gramíneas nas margens dos rios atingidos, para conter sedimentos. Até agora, garante, foram plantados mais de 500 hectares dos 800 hectares previstos. Também há intervenções como a colocação de pedras (enroncamento) e aplicação de mantas em áreas marginais dos cursos d’água, parte do plano de recuperação entregue ao Ibama. A empresa acrescentou que trabalha na dragagem do reservatório da usina de Candonga, em Santa Cruz do Escalvado, que reteve grande quantidade de rejeitos após o desastre. A ação contribuirá para a melhoria da qualidade da água na Bacia do Rio Doce, diz a Samarco. “Também já está em andamento a reabertura dos canais dos pequenos afluentes dos rios Doce e Gualaxo, permitindo que a água chegue mais limpa aos rios”, informou..