Por meio de nota, a Polícia Civil lamentou o ocorrido, “quando um investigador da Polícia Civil, lotado no Departamento Estadual de Combate ao Narcotráfico (Denarc), foi arbitrariamente abordado por policiais militares na região Central de Belo Horizonte”, diz o texto.
Os envolvidos prestaram depoimento em uma delegacia ainda na quarta-feira. “Segundo o delegado que realizou a oitiva, os militares alegaram que estavam rastreando um aparelho celular roubado, o que os teria levado até um grupo próximo ao terminal e, quando chegaram ao local apontado, o policial civil não se identificou de forma correta e, ainda, tentou impedir a abordagem aos suspeitos e, por isso, foi contido. Os policiais militares ainda relatam que foi necessário pedido de reforço e da pistola taser para conter o policial, que estava muito exaltado”, explica a corporação.
O investigador disse que foi abordado de forma truculenta e, conforme a Polícia Civil, testemunhas confirmaram a versão dele. “(...) o policial civil contou que esperava pelo filho quando os militares iniciaram a abordagem 'de forma truculenta''. O investigador contou que se apresentou como policial lotado no Denarc e explicou que estava acompanhado do filho adolescente e de um amigo. As testemunhas encaminhadas pelos policiais militares à Central de Flagrante II ratificam as informações do policial civil, versão também confirmada pelas imagens registradas por transeuntes”.
Ainda de acordo com a Polícia Civil, foram expedidas guias de corpo de delito para o policial civil, um dos militares e duas vítimas. A arma do investigador foi apreendida e encaminhada à perícia. As circunstâncias do disparo também serão investigadas. A corporação finaliza dizendo que o caso está sendo acompanhado pelas corregedorias das duas instituições e que um inquérito foi instaurado para esclarecer os fatos.
Entenda o caso
De acordo com a Polícia Militar, policiais do Gepar foram até a Rua 21 de Abril, no Centro, onde o rastreamento de um telefone celular apontou a localização do aparelho. Ainda na versão da PM, no local estavam quatro homens, entre eles o filho de um investigador da Polícia Civil, de 16 anos. O policial civil teria se identificado para tentar impedir a abordagem dos militares. No entanto, os PMs continuaram a ação ao reconhecerem dois receptadores que atuam na região.
Segundo o major Renato Federici, do 1º Batalhão, o policial civil teria agido de forma agressiva e pegou a arma. Dois militares tentaram imobilizá-lo. Durante a confusão a arma disparou. A bala atingiu o chão e depois a barriga de Kemerson Kelly dos Santos, de 23 anos. Vídeo feito pelo filho do policial civil mostra o momento da abordagem e o disparo da arma. Na gravação, é possível ouvir o investigador mandando os PMs tirarem a mão da arma e, após o tiro, criticando a dupla pelo tiro. Outro pedestre, identificado como Carlos Alberto Tertuliano, de 62, foi atingido por estilhaços de uma arma de choque usada pelos militares.
O filho do investigador contestou a versão dos militares. "Meu pai se identificou como policial e eles continuaram batendo nele, quebraram um cassetete nele. Só pararam porque liguei para a delegacia da Polícia Civil e pedi uma viatura para eles pararem de espancar o meu pai", contou G., de 16 anos. O rapaz contou que estava de saída do trabalho quando foi abordado por PMs à procura de um aparelho celular roubado na região do shopping popular Oiapoque.
O amigo do investigador também deu outra versão sobre o caso. Segundo ele, o policial civil tinha ido ao Centro buscar o filho. O garoto teria sido abordado de forma truculenta. Ao ver a cena, o investigador teria se identificado e também acabou agredido pelos PMs. A testemunha afirma ainda que o civil não sacou a arma.
Kemerson Kelly segue internado no Hospital João XXIII nesta quinta-feira. De acordo com a Fundação Hospitalar de Minas Gerais (Fhemig), ele se encontra na clínica cirúrgica e o estado de saúde dele é estável. Já Carlos Alberto foi socorrido na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) Centro-Sul e recebeu alta.