O coração adolescente de Christopher Cruz não se acalma nem mesmo quando o jovem de 14 anos ouve alguém dizer que seu ídolo Mikhail Baryshnikov não é nenhum gigante, a não ser da dança.
Além dos apelidos pejorativos, Christopher já sofreu humilhações até no transporte coletivo. “Estou acostumado a andar pela cidade, mas já teve motorista de ônibus que me impediu de entrar, pois eu não estava acompanhado dos pais.
ARTE E TÉCNICA Na tarde de ontem, no Studio Arte e Passo, no Bairro Santa Efigênia, na Região Centro-Sul da capital, o integrante do Grupo Jovem da escola de dança mostrava sua arte, revelava os sonhos e deixava transparecer, sem barreiras e com jeito articulado, a frustração por não estar na mesma altura dos demais meninos de turma na mesma faixa etária. Durante os ensaios, na hora de se alongar, ele consegue alcançar apenas a barra mais baixa, da mesma forma que atuar com as colegas se tornou impossível. “Na idade dele, todas são maiores. E na ponta da sapatilha ficam maiores ainda, inviabilizando um pas-de-deux”, conta a professora de dança e diretora do Studio Arte Passo, Liana Sáfadi.
Admiradora de Christopher, a quem chama de “meu pequeno príncipe”, Liana explica que, tecnicamente, o adolescente é muito bom bailarino “e tem grande futuro”. Mas ela reconhece as limitações e apoia a iniciativa da campanha para o aluno obter o medicamento, a vacina somatropina, que é o hormônio de crescimento humano. Na semana passada, o jovem, filho de um motorista e de uma auxiliar de odontologia, foi ao consultório de uma médica endocrinologista e, de posse da receita, na farmácia assustou-se com o preço: R$ 88 cada dose e mais de R$ 2,5 mil no mês. “Quem sabe consigo as vacinas e o tratamento”, disse, esperançoso.
A ansiedade do jovem de rosto bonito, conversa inteligente e jeito despachado está nas alturas, pois ele vive uma corrida contra o tempo. “A médica explicou que preciso tomar a vacina com urgência, pois deve ser antes que a puberdade avance e venha a fase do estirão . Depois, não vai adiantar mais. Fizemos um pedido no Sistema Único de Saúde (SUS), mas preciso esperar na fila. Também fui ao Hospital das Clínicas, da Faculdade de Medicina, mas o processo seria igualmente demorado”, conta Christopher, que está no nono ano de uma escola pública de Contagem e se considera um bom aluno. “Meu sonho mesmo é ser bailarino profissional.
DE PONTA A PONTA O gosto de Christopher pelo balé surgiu por volta dos 8, 9 anos, quando ele conheceu na plataforma de vídeos YouTube toda a arte de Baryshnikov. Com esse encantamento, ele descobriu a vocação e fez o talento desabrochar em outras escolas de dança. “Meu filho é muito decidido, corre atrás dos seus sonhos, todo dia sai cedo de casa. Tudo o que consegue é por conta própria, ele anda por esta cidade de ponta a ponta sozinho. Já falei que não temos recursos para bancar o balé, mas, se ele quer, devemos apoiar”, diz a mãe toda orgulhosa e certa de que tem uma joia em casa – na verdade, duas, pois tem o caçula Cauã, autista, de 6 anos. “Ele é grandão, já está quase da altura do irmão. Nós, os pais, não somos pessoas altas.”
Na aula de ontem, o jovem bailarino mostrava atitude em meio a garotos mais altos, alguns de barba. “Olha só, sou o menor da turma. Esse meu colega tem 15 anos e 1,80m”, apontou para o rapaz à sua frente, que apenas sorriu com simpatia.
COMO AJUDAR: Quem quiser ajudar o jovem a realizar o tratamento, pode depositar qualquer quantia na conta do pai de Christopher Cruz:
Banco Itaú
Agência: 0689 Conta: 65541-3
Depoimento
Ofensas e vergonha