Jovem bailarino com problema de crescimento consegue o tratamento de que precisa

Após Estado de Minas publicar história do bailarino Christopher Cruz, que tem 14 anos e 1,47m de altura, faculdade de medicina oferece tratamento sonhado pelo adolescente

Gustavo Werneck
Christopher Cruz, que chorou ao iniciar uma campanha nas redes sociais para conseguir comprar hormônios de crescimento, agora sorri, depois de saber que conquistou o tratamento gratuito - Foto: Cristina Horta/EM/DA Press
O sorriso da esperança substitui agora as lágrimas de frustração, ansiedade e falta de perspectivas. O adolescente bailarino Christopher Cruz, de 14 anos, morador de Contagem, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, vai fazer o tratamento para crescer – ele tem 1,47 metro de altura e pesa 39 quilos – no Hospital Universitário São José, da Faculdade de Ciências Médicas, na capital. O serviço gratuito oferecido pela instituição poderá ser iniciado na semana que vem, informou, ontem, o chefe do Setor de Endocrinologia, professor Levimar Rocha de Araújo. “Vamos identificar o problema, fazer uma série de exames, enfim, uma avaliação completa”, explicou o endocrinologista, que tomou conhecimento da história do adolescente ao ler a reportagem publicada na terça-feira no Estado de Minas. “Ficamos muito sensibilizados com o relato dele”, afirmou.


O médico explicou que os medicamentos poderão ser obtidos por meio de uma campanha ou de uma cotização na própria instituição. “Vai dar tudo certo”, tranquilizou Levimar. A primeira consulta, tudo indica, deverá ser na próxima terça-feira, no hospital localizado no Barro Preto, na Região Centro-Sul da cidade. No tratamento, estão incluídos vários aspectos como medicação, alimentação, com dieta rica em cálcio, atividades físicas e educação.

“Esse último significa você ser o seu próprio médico, sendo muito importante dormir cedo e ter outros cuidados. Como ele ensaia muito, a atividade física não será empecilho”, explica o médico.

Christopher soube da boa notícia, por volta das 14h30, pouco antes de começar a aula no Studio Arte e Passo, no Bairro Santa Efigênia, na Região Centro-Sul de BH, onde integra o grupo jovem da escola de dança. Não parava mais de rir e de receber o carinho da turma. “Estou muito feliz mesmo. Não esperava uma resposta tão rápida”, afirmou, ao lado da professora de dança e diretora da escola, Liana Sáfadi. Para ela, com certeza, será um novo tempo na vida do garoto chamado carinhosamente de “meu pequeno príncipe” e que divide o dia corrido entre o balé, o nono ano na Escola Municipal Francisca Alves, no Bairro Santa Terezinha, na Região da Pampulha, e os deveres de casa. “Técnica e artisticamente, ele é muito bom bailarino, tem grande futuro”, afirma Liana.

Veja o depoimento de Christopher Cruz



DESCULPAS Os dois últimos dias foram de muitas emoções para o filho de um motorista e de uma auxiliar odontológica e irmão de Sabrina, de 17, e de um menino autista, Cauã, de 6, que, no sábado, postou nas redes sociais um desabafo seguido de uma campanha para conseguir o sonhado tratamento e os medicamentos. O motivo de aflição foi verificar, numa farmácia, o preço da vacina somatropina (hormônio de crescimento humano) recomendada: R$ 88 a dose diária, totalizando mais de R$ 2,5 mil mensais. Ao EM, Christopher contou que lutava contra o tempo, pois a explicação de uma médica, que consultara na semana passada, era de que a aplicação fosse iniciada imediatamente, antes que a puberdade avance e venha a fase do estirão (crescimento acelerado na puberdade).

Christopher tem idade óssea de 12 anos e agora seu talento vai ter ajuda da ciência para levá-lo, conforme seu desejo, pelo mundo afora. O endocrinologista Levimar esclarece que o ser humano cresce até os 18 anos, mas na idade óssea e não cronológica. Se Christopher tem idade óssea de 12 anos, pode crescer até os 20 anos (na idade cronológica).

A aula está quase começando e o aluno aplicado ainda precisa vestir a malha preta e se juntar ao grupo. Nesses minutos preciosos, tem uma revelação importante a fazer. “Sempre tive alguns problemas, na escola pública, por causa do bullying.

Eram muitos os apelidos que me punham, ficava sempre chateado. Pois ontem (terça-feira), a aula até começou 10 minutos mais tarde, pois a matéria do jornal foi comentada pelos professores e alunos. Muitos se surpreenderam, pois não sabiam que eu estava sofrendo tanto. Tão importante como isso foi receber mensagens, com pedido de desculpas, de colegas que faziam o bullying comigo”, contou o adolescente. O assunto voltará a ser discutido na instituição de ensino.

Levimar Rocha de Araújo, chefe do Setor de Endocrinologia do Hospital Universitário São José, da Faculdade de Ciências Médicas, vai coordenar tratamento do adolescente - Foto: Cristina Horta/EM/D.A Press
GUERREIRO O interesse de Christopher pela dança começou aos oito anos, quando assistiu, no site YouTube, a um vídeo do bailarino russo naturalizado norte-americano Mikhail Baryshnikov. Mas lá pelos 10, 11 anos, viu o seu crescimento estacionar e, com ele, todas as esperanças de ser um profissional com porte e força suficientes para levantar as bailarinas nos braços ou participar de coreografias em grupo. “Tenho colegas de 15 anos muito altos. Sou o menor da turma e isso me deixa muito infeliz. Não quero ser solista, quero o crescimento em todos os sentidos: na estatura e no palco”, afirma o jovem.

Com 15 anos e 1,80m de altura, o colega de dança e também residente em Contagem, Pablo Garcia, elogia a garra de Christopher, a quem considera um guerreiro, tanto pela dedicação extrema ao balé como ao fato de “correr atrás do seu sonho”. Ao lado, Mariana Fiorini, de 17, considera “linda” a determinação do amigo e enaltece o jeito de ser do bailarino, “uma pessoa muito querida por todos nós”.

Mais feliz nessa história está a mãe do adolescente, Márcia Rita Januário, que, junto ao marido, Wanderson, dá apoio integral à escolha do filho.
“Não temos condições de bancar um tratamento desses, é muito alto para nosso orçamento. Fico feliz que tenham compreendido os seus objetivos. Vou acompanhá-lo em tudo”, afirma Márcia. Enquanto isso, o garoto volta a sorrir e exprime em três palavras todos os seus planos: “Quero ser bailarino”.

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