Christopher soube da boa notícia, por volta das 14h30, pouco antes de começar a aula no Studio Arte e Passo, no Bairro Santa Efigênia, na Região Centro-Sul de BH, onde integra o grupo jovem da escola de dança. Não parava mais de rir e de receber o carinho da turma. “Estou muito feliz mesmo. Não esperava uma resposta tão rápida”, afirmou, ao lado da professora de dança e diretora da escola, Liana Sáfadi. Para ela, com certeza, será um novo tempo na vida do garoto chamado carinhosamente de “meu pequeno príncipe” e que divide o dia corrido entre o balé, o nono ano na Escola Municipal Francisca Alves, no Bairro Santa Terezinha, na Região da Pampulha, e os deveres de casa. “Técnica e artisticamente, ele é muito bom bailarino, tem grande futuro”, afirma Liana.
DESCULPAS Os dois últimos dias foram de muitas emoções para o filho de um motorista e de uma auxiliar odontológica e irmão de Sabrina, de 17, e de um menino autista, Cauã, de 6, que, no sábado, postou nas redes sociais um desabafo seguido de uma campanha para conseguir o sonhado tratamento e os medicamentos. O motivo de aflição foi verificar, numa farmácia, o preço da vacina somatropina (hormônio de crescimento humano) recomendada: R$ 88 a dose diária, totalizando mais de R$ 2,5 mil mensais. Ao EM, Christopher contou que lutava contra o tempo, pois a explicação de uma médica, que consultara na semana passada, era de que a aplicação fosse iniciada imediatamente, antes que a puberdade avance e venha a fase do estirão (crescimento acelerado na puberdade).
Christopher tem idade óssea de 12 anos e agora seu talento vai ter ajuda da ciência para levá-lo, conforme seu desejo, pelo mundo afora. O endocrinologista Levimar esclarece que o ser humano cresce até os 18 anos, mas na idade óssea e não cronológica. Se Christopher tem idade óssea de 12 anos, pode crescer até os 20 anos (na idade cronológica).
A aula está quase começando e o aluno aplicado ainda precisa vestir a malha preta e se juntar ao grupo. Nesses minutos preciosos, tem uma revelação importante a fazer. “Sempre tive alguns problemas, na escola pública, por causa do bullying. Eram muitos os apelidos que me punham, ficava sempre chateado. Pois ontem (terça-feira), a aula até começou 10 minutos mais tarde, pois a matéria do jornal foi comentada pelos professores e alunos. Muitos se surpreenderam, pois não sabiam que eu estava sofrendo tanto. Tão importante como isso foi receber mensagens, com pedido de desculpas, de colegas que faziam o bullying comigo”, contou o adolescente. O assunto voltará a ser discutido na instituição de ensino.
GUERREIRO O interesse de Christopher pela dança começou aos oito anos, quando assistiu, no site YouTube, a um vídeo do bailarino russo naturalizado norte-americano Mikhail Baryshnikov. Mas lá pelos 10, 11 anos, viu o seu crescimento estacionar e, com ele, todas as esperanças de ser um profissional com porte e força suficientes para levantar as bailarinas nos braços ou participar de coreografias em grupo. “Tenho colegas de 15 anos muito altos. Sou o menor da turma e isso me deixa muito infeliz. Não quero ser solista, quero o crescimento em todos os sentidos: na estatura e no palco”, afirma o jovem.
Com 15 anos e 1,80m de altura, o colega de dança e também residente em Contagem, Pablo Garcia, elogia a garra de Christopher, a quem considera um guerreiro, tanto pela dedicação extrema ao balé como ao fato de “correr atrás do seu sonho”. Ao lado, Mariana Fiorini, de 17, considera “linda” a determinação do amigo e enaltece o jeito de ser do bailarino, “uma pessoa muito querida por todos nós”.
Mais feliz nessa história está a mãe do adolescente, Márcia Rita Januário, que, junto ao marido, Wanderson, dá apoio integral à escolha do filho. “Não temos condições de bancar um tratamento desses, é muito alto para nosso orçamento. Fico feliz que tenham compreendido os seus objetivos. Vou acompanhá-lo em tudo”, afirma Márcia. Enquanto isso, o garoto volta a sorrir e exprime em três palavras todos os seus planos: “Quero ser bailarino”.