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Estado de Minas

Família de jovem morto por PMs exige justiça

Espancado até a morte na saída de uma boate em Contagem, corpo de Cristiano foi enterrado em BH. Dois soldados foram presos pelo crime. Um deles já teria cometido outro homicídio


postado em 10/04/2016 06:00 / atualizado em 11/04/2016 12:53

No Cemitério do Bonfim, amigos e parentes se despediram do universitário e se revoltaram com a forma como o rapaz foi assassinado por integrantes do Batalhão da Rotam(foto: Edésio Costa/EM/D.A.Press)
No Cemitério do Bonfim, amigos e parentes se despediram do universitário e se revoltaram com a forma como o rapaz foi assassinado por integrantes do Batalhão da Rotam (foto: Edésio Costa/EM/D.A.Press)

O sofrimento pela partida precoce e a revolta com a brutalidade do assassinato deram o tom à despedida de Cristiano Guimarães do Nascimento, de 22 anos, morto na madrugada de sexta na saída de uma boate em Contagem, na Região Metropolitana de Belo Horizonte. O homicídio teria sido cometido por dois soldados do Batalhão de Rondas Táticas Metropolitanas (Rotam) que não estavam em serviço e trabalhavam na casa noturna. O corpo do jovem chegou ao Cemitério do Bonfim, no bairro de mesmo nome na Região Noroeste, por volta das 10h30 de ontem, depois de ter sido velado no Bairro Funcionários, Região Centro-Sul.

Amigos e familiares deram adeus a Cristiano, lembrado como um jovem brincalhão e pacífico. “Quantos cristianos terão que vir para alguma coisa mudar? Ele foi só mais um. Não foi o primeiro e não será o último a ser assassinado por policiais. Isso ocorre nas favelas”, desabafou Ana Clara Palmeira, de 22, que passou a conviver com Cristiano desde que sua mãe iniciou relacionamento com o pai do jovem.

Bastante emocionados, o pai, Álvaro Nascimento, e o irmão, Fabiano Nascimento Guimarães, de 26, acompanharam o descendimento, enquanto amigos cantavam numa última homenagem. “É revoltante. Você está com a pessoa todos os dias, nunca imaginaria que meu irmão seria assassinado por quem deveria dar segurança à gente. Meu irmão era uma pessoa benquista por todos. Não tinha uma reclamação contra ele”, afirmou.

PELA PUNIÇÃO
Familiares e amigos clamaram pela punição dos autores do homicídio. “Dessa vez a Justiça não vai falhar. Quem fez isso vai pagar. Não só com a justiça dos homens, mas também com a justiça divina”, desabafou o irmão único. O primo do jovem, Marcelo Moura, informou que o caso será acompanhado pela Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa de Minas Gerais. Segundo ele, amanhã está marcado um encontro  entre os familiares e os integrantes da comissão. “Onde está o comando da PM para nos explicar os fatos e nos dizer o que aconteceu? Não há justificativa para uma morte tão brutal. Não deram a ele qualquer direito de defesa, o agrediram covardemente”, afirmou o primo.

De camisa azul-celeste, muitos amigos prestaram homenagem a Cristiano, que era torcedor do Cruzeiro. Foi o caso da família de Aloísio Visacro, de 67, que foi com os dois filhos se despedir do jovem com quem conviveram no Bairro Serra desde a infância. “Ele estudou com meu filho. O grupo de amigos deles sempre saía lá de casa para ir aos jogos”, disse. O administrador Fabrício Visacro, de 33, rebateu a versão de que o amigo poderia ter se envolvido em uma briga. “Ele era da paz”, disse. Os amigos lembraram que a morte brutal colocou um ponto final nos planos do jovem que estava no 7º período do curso de direito e pretendia fazer intercâmbio na Austrália para melhorar a fluência no inglês.

Companheiros de trabalho do pai do jovem também foram prestar solidariedade à família e reforçaram o coro por justiça. “Conhecia o Cristiano desde pequeno. Era um menino maravilhoso, bem criado e estudioso”, afirmou Cláudio Ministério. Para o amigo da família Rogério Araújo, de 44, é inadmissível que ocorram crimes como o que vitimou o jovem. “O problema está em todas as esferas do Brasil. Estamos no fundo do poço”, lamentou.

Na sexta-feira, os militares acusados de cometer o crime, Jonathas Elvis do Carmo, de 27, e Jonas Moreira Matias, de 28, prestaram depoimento na Delegacia de Investigação de Contagem. A Corregedoria acompanha o caso e os acusados podem ser expulsos pela corporação. Jonathas trabalha como soldado há cinco anos e Jonas há nove. Segundo a Polícia Civil, o soldado Jonas já cometeu outro homicídio.


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