Diante do Santuário de São Judas Tadeu, no Bairro da Graça, em Belo Horizonte, que atrai milhares de devotos ao santo das causas impossíveis, padre Marco Antônio Gonçalves Porto, de 37 anos, age com naturalidade. Dispensando o uso da bengala retrátil, sobe com firmeza os quatro degraus que levam ao altar e depois mais um, até alcançar o púlpito, onde poderá ser visto de todos os ângulos pelos fiéis. “Acredito que Deus deu a todos nós um dom, que pode ser grande, pequeno, anônimo ou invisível. No meu caso, é visível, pois dou testemunho de mim mesmo”, reflete o primeiro deficiente visual a ser ordenado padre, entre os mais de 400 religiosos que pertencem à Arquidiocese Metropolitana de Belo Horizonte.
Na missa das crianças, celebrada ontem pelo religioso com a igreja lotada, impressionava a desenvoltura de Marco Antônio assentado em meio aos pequenos, que não despregavam o olho do padre. Com voz tranquila e segura, ele ensinou a cada um dos filhos, pais e avós presentes que “todos nós somos responsáveis por criar um ambiente mais bonito, harmônico e gostoso de ficar. Onde Jesus está, tudo fica claro como o dia e belo como a luz. É por isso que devemos sempre transmitir carinho aos nossos colegas de sala, amigos e irmãos”, pregou. Ele nasceu com descolamento espontâneo da retina no Bairro Caiçara e foi perdendo a visão em um processo gradativo, que culminou aos 13 anos de idade. Seu irmão também é deficiente visual, casado e com dois filhos.
Para atingir a calma interior, padre Marco Antônio aprendeu desde a juventude a dedicar 20 minutos pela manhã, ao acordar, à prática da meditação. Em seguida, dá início às laudes, como são denominadas as orações da manhã. Ele já se levanta rezando, com a ajuda de um aplicativo do celular, que vai ‘dizendo’ as orações em voz alta. Marco Antônio também aplica Reiki, que segundo o próprio, trata-se de prática areligiosa que emprega a cura pelas mãos, inspirada nos milagres feitos por Jesus Cristo pela imposição de mãos sobre os doentes. No término da homilia, na missa de ontem, o padre estendeu as mãos sobre as crianças: “Que Deus coloque a mão sobre a cabecinha de cada um de vocês, trazendo a paz”. “Venho todos os domingos. A missa dele é muito bem pregada, independentemente de ele ser ou não deficiente visual. Não vejo diferença”, comentou um idoso, morador do bairro.
CAPACIDADE INTELECTUAL Escolhido como padrinho da ordenação de Marco Antônio, padre Mauro Luiz da Silva, da paróquia Nossa Senhora do Morro, destaca a capacidade intelectual do pupilo. “Ele foi orientado a ser meu afilhado de ordenação porque eu coordenava a pastoral dos surdos. Não percebi nada nele que pudesse limitar a sua atuação no sacerdócio, pelo contrário, era de se admirar a formação sólida e capacidade intelectual dele. Ele é um dos padres com a homilia mais valorizada e de melhor comunicação nos dias de hoje”, elogia o mentor, lamentando que Marco Antônio não tenha ido reforçar a equipe da igreja da Barragem Santa Lúcia, onde celebrou sua primeira missa. “Na época, a comunidade ficou encantada com o trabalho dele”, completa.
Em 28 de outubro, dia de São Judas Tadeu, além de celebrar duas missas, que atraem uma multidão de fiéis de todos os lugares do país, padre Marco Antônio é um dos mais requisitados a atender nos confessionários. Ordenado há um ano e designado para a mesma igreja, Padre Wagner Douglas Gomes de Souza explica o motivo: “O gesto dele de estar pronto a escutar influencia muito. Padre Marco Antônio sempre foi muito intuitivo e tem uma palavra forte a oferecer a cada um”.
“Parece que a gente acaba enxergando com outros olhos”, sorri o padre, que costuma valorizar os momentos de silêncio nas missas. “São importantíssimos para internalizar as falas, as músicas, para contactar com Deus. Na liturgia, esse momento é chamado de silêncio sagrado”, explica Marco Antônio, lembrando que os deficientes visuais desenvolvem outro senso de percepção e direção, por meio de sons e cheiros. Para suprir a ausência da visão, portanto, permanecem o tempo inteiro ‘ligados’ em barulhos e sensações de movimento, como forma de interpretar o mundo.
Segundo a ministra da eucaristia Maria da Conceição de Farias, funcionária há 22 anos do santuário, o padre celebra casamentos, vai ao CTI ungir doentes, dá a comunhão. “Não há nada na igreja que padre Marco Antônio deixe de fazer. Ele tem o poder da luz divina”, completa ela, admitindo que há uma disputa saudável entre funcionários para oferecer o braço ao padre, conduzindo-o até o ponto de ônibus. “Além de ser um bom padre, ele é nosso amigo.”
Pastoral dos deficientes visuais
Aos poucos, empecilhos a fiéis e padres cegos vão sendo contornados pela Pastoral da Pessoa com Deficiência Visual, fundada também pelo padre Marco Antônio em agosto de 2013 nas proximidades do Instituto São Rafael, na Região do Barro Preto. Com cerca de 60 integrantes, o objetivo da pastoral é capacitar deficientes visuais para participarem das celebrações como leitores, ministros da comunhão e catequistas. Os encontros são realizados todo terceiro sábado de cada mês, das 14h às 16h, na Igreja de São Sebastião.
Na missa das crianças, celebrada ontem pelo religioso com a igreja lotada, impressionava a desenvoltura de Marco Antônio assentado em meio aos pequenos, que não despregavam o olho do padre. Com voz tranquila e segura, ele ensinou a cada um dos filhos, pais e avós presentes que “todos nós somos responsáveis por criar um ambiente mais bonito, harmônico e gostoso de ficar. Onde Jesus está, tudo fica claro como o dia e belo como a luz. É por isso que devemos sempre transmitir carinho aos nossos colegas de sala, amigos e irmãos”, pregou. Ele nasceu com descolamento espontâneo da retina no Bairro Caiçara e foi perdendo a visão em um processo gradativo, que culminou aos 13 anos de idade. Seu irmão também é deficiente visual, casado e com dois filhos.
Para atingir a calma interior, padre Marco Antônio aprendeu desde a juventude a dedicar 20 minutos pela manhã, ao acordar, à prática da meditação. Em seguida, dá início às laudes, como são denominadas as orações da manhã. Ele já se levanta rezando, com a ajuda de um aplicativo do celular, que vai ‘dizendo’ as orações em voz alta. Marco Antônio também aplica Reiki, que segundo o próprio, trata-se de prática areligiosa que emprega a cura pelas mãos, inspirada nos milagres feitos por Jesus Cristo pela imposição de mãos sobre os doentes. No término da homilia, na missa de ontem, o padre estendeu as mãos sobre as crianças: “Que Deus coloque a mão sobre a cabecinha de cada um de vocês, trazendo a paz”. “Venho todos os domingos. A missa dele é muito bem pregada, independentemente de ele ser ou não deficiente visual. Não vejo diferença”, comentou um idoso, morador do bairro.
CAPACIDADE INTELECTUAL Escolhido como padrinho da ordenação de Marco Antônio, padre Mauro Luiz da Silva, da paróquia Nossa Senhora do Morro, destaca a capacidade intelectual do pupilo. “Ele foi orientado a ser meu afilhado de ordenação porque eu coordenava a pastoral dos surdos. Não percebi nada nele que pudesse limitar a sua atuação no sacerdócio, pelo contrário, era de se admirar a formação sólida e capacidade intelectual dele. Ele é um dos padres com a homilia mais valorizada e de melhor comunicação nos dias de hoje”, elogia o mentor, lamentando que Marco Antônio não tenha ido reforçar a equipe da igreja da Barragem Santa Lúcia, onde celebrou sua primeira missa. “Na época, a comunidade ficou encantada com o trabalho dele”, completa.
Em 28 de outubro, dia de São Judas Tadeu, além de celebrar duas missas, que atraem uma multidão de fiéis de todos os lugares do país, padre Marco Antônio é um dos mais requisitados a atender nos confessionários. Ordenado há um ano e designado para a mesma igreja, Padre Wagner Douglas Gomes de Souza explica o motivo: “O gesto dele de estar pronto a escutar influencia muito. Padre Marco Antônio sempre foi muito intuitivo e tem uma palavra forte a oferecer a cada um”.
“Parece que a gente acaba enxergando com outros olhos”, sorri o padre, que costuma valorizar os momentos de silêncio nas missas. “São importantíssimos para internalizar as falas, as músicas, para contactar com Deus. Na liturgia, esse momento é chamado de silêncio sagrado”, explica Marco Antônio, lembrando que os deficientes visuais desenvolvem outro senso de percepção e direção, por meio de sons e cheiros. Para suprir a ausência da visão, portanto, permanecem o tempo inteiro ‘ligados’ em barulhos e sensações de movimento, como forma de interpretar o mundo.
Segundo a ministra da eucaristia Maria da Conceição de Farias, funcionária há 22 anos do santuário, o padre celebra casamentos, vai ao CTI ungir doentes, dá a comunhão. “Não há nada na igreja que padre Marco Antônio deixe de fazer. Ele tem o poder da luz divina”, completa ela, admitindo que há uma disputa saudável entre funcionários para oferecer o braço ao padre, conduzindo-o até o ponto de ônibus. “Além de ser um bom padre, ele é nosso amigo.”
Pastoral dos deficientes visuais
Aos poucos, empecilhos a fiéis e padres cegos vão sendo contornados pela Pastoral da Pessoa com Deficiência Visual, fundada também pelo padre Marco Antônio em agosto de 2013 nas proximidades do Instituto São Rafael, na Região do Barro Preto. Com cerca de 60 integrantes, o objetivo da pastoral é capacitar deficientes visuais para participarem das celebrações como leitores, ministros da comunhão e catequistas. Os encontros são realizados todo terceiro sábado de cada mês, das 14h às 16h, na Igreja de São Sebastião.