Na pasta de couro que carrega debaixo do braço em sua peregrinação pela Ouvidoria Geral do Estado, Delegacia de Homicídios e Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa (ALMG), o corretor de seguros Álvaro Abílio Nascimento Neto, de 57 anos, traz lembranças de quem foi seu filho, que são combustível para que não deixe sua morte passar impune. Entre cópias de ocorrências e documentos que reuniu nesses órgãos, leva o telefone celular, as carteiras de identidade e de trabalho e o passaporte recém-emitido para o caçula, Cristiano Guimarães Nascimento, de 22. “É a luz dele, a sua memória, que me dão força para que essa morte não fique em branco. Não vai ficar impune. Chega, nenhum pai vai mais sofrer o que estou sofrendo”, desabafa, enquanto atende a telefonemas de autoridades e amigos solidários. Cristiano foi espancado até a morte em uma briga na madrugada de sexta-feira, em uma boate de Contagem, na Grande BH. A confusão envolveu quatro colegas da vítima, dois soldados do Batalhão Rotam, da Polícia Militar, que estão presos, e uma terceira pessoa, que pode ser um promoter da casa noturna, informação ainda não confirmada. Ontem, a Justiça determinou a prisão preventiva (sem prazo fixado para soltura) dos dois militares detidos em flagrante.
Esta não é a primeira luta que esse pai trava pela família. Há cinco anos, Álvaro e os parentes se uniram pela recuperação da esposa, que batalhava contra um câncer, mas ela acabou morrendo e ele ficou com os dois filhos para criar. A busca agora é por justiça e começou cedo, nesta segunda-feira, entre reuniões com o ouvidor de polícia, Paulo Alkmin, e o delegado do caso, Alexandre Oliveira, em Contagem. O rosto abatido e a respiração ofegante do corretor dão a impressão de que se trata de um homem cansado, mas sua determinação ao atender telefonemas seguidos e se deslocar pela Grande BH para cobrar atitude das autoridades mostra sua obstinação. O único momento em que o homem se permitiu emocionar foi quando entrou no quarto do filho, todo decorado com as cores azul e branca do Cruzeiro, o time do coração. “Ligaram para mim da boate, às 4h45, dizendo que meu filho tinha se machucado num acidente e era para eu ir até lá. Respondi que era melhor encaminhá-lo a um hospital, que eu o encontraria lá. Mas disseram que o Cristiano só iria se fosse comigo”, lembra Álvaro. O corretor de seguros achou estranho. Quando chegou ao estabelecimento e viu os amigos do filho consternados ao lado da viatura do Instituto Médico-Legal, soube que algo gravíssimo tinha ocorrido. “Perguntei para eles se o Cristiano estava lá dentro do rabecão e me disseram que sim”, conta.
Os dois militares presos em batalhões da PM, Jonathas Elvis do Carmo, de 27, e Jonas Moreira Matias, de 28, foram reconhecidos por testemunhas e também pelo fato de um deles ter deixado que sua arma de fogo registrada na corporação caísse no chão durante a briga. Eles foram detidos na sexta-feira mesmo, enquanto faziam educação física na sede do Batalhão Rotam. Segundo apurou a reportagem, os dois são homens altos, fortes e tinham escoriações nas mãos que podem ter sido resultado dos socos desferidos durante a briga. A reportagem apurou também que os dois grupos estavam em uma festa em que foi intenso o consumo de álcool, e que a briga começou dentro do estabelecimento, com uma troca de empurrões e tapas. Cristiano teria pedido ajuda a um segurança do estabelecimento, mas não recebeu nenhum auxílio, segundo informações da polícia. A reportagem tentou entrar em contato com a casa noturna, mas ninguém quis se pronunciar. O delegado que apura o caso, Alexandre Oliveira, analisa a filmagem dos circuitos interno e externo de segurança do estabelecimento, que teriam registrado todo o tumulto.
JUSTIÇA COMUM O pedido de prisão preventiva dos suspeitos se estende até que haja relaxamento da detenção ou condenação. É concedida quando há indícios que liguem o suspeito ao delito e é pedida para proteger o inquérito, a ordem pública e a aplicação da lei. O delegado preferiu não dar nenhuma declaração sobre o curso da investigação, que é também acompanhada pela Corregedoria da Polícia Militar. A morte de Cristiano é tida como crime comum, uma vez que os militares não estavam em serviço na hora da briga, e por isso será investigada pela Polícia Civil e julgada pela Justiça comum. A reportagem apurou ainda que o soldado Jonathas responde por homicídio ocorrido durante o cumprimento do dever.
O pai de Cristiano, Álvaro Nascimento, disse que só vai sossegar quando os responsáveis forem julgados e condenados. “Se alguém me perguntar, hoje, se eu perdoo os soldados, digo que não consigo. Somos humanos e o tempo nos afeta demais. Por isso, não sei se os perdoaria com o tempo. Só sei que são dois bandidos, que foram treinados para proteger a sociedade, não para matar os filhos que saem para se divertir e terminam mortos”, afirma.
A casa noturna Clube Havanna se limitou a informar que os dois soldados eram clientes e pagaram normalmente suas contas. Informou, ainda, que disponibilizou espontaneamente as imagens de segurança e todas as informações requisitadas pela polícia. (Com João Henrique do Vale)
Esta não é a primeira luta que esse pai trava pela família. Há cinco anos, Álvaro e os parentes se uniram pela recuperação da esposa, que batalhava contra um câncer, mas ela acabou morrendo e ele ficou com os dois filhos para criar. A busca agora é por justiça e começou cedo, nesta segunda-feira, entre reuniões com o ouvidor de polícia, Paulo Alkmin, e o delegado do caso, Alexandre Oliveira, em Contagem. O rosto abatido e a respiração ofegante do corretor dão a impressão de que se trata de um homem cansado, mas sua determinação ao atender telefonemas seguidos e se deslocar pela Grande BH para cobrar atitude das autoridades mostra sua obstinação. O único momento em que o homem se permitiu emocionar foi quando entrou no quarto do filho, todo decorado com as cores azul e branca do Cruzeiro, o time do coração. “Ligaram para mim da boate, às 4h45, dizendo que meu filho tinha se machucado num acidente e era para eu ir até lá. Respondi que era melhor encaminhá-lo a um hospital, que eu o encontraria lá. Mas disseram que o Cristiano só iria se fosse comigo”, lembra Álvaro. O corretor de seguros achou estranho. Quando chegou ao estabelecimento e viu os amigos do filho consternados ao lado da viatura do Instituto Médico-Legal, soube que algo gravíssimo tinha ocorrido. “Perguntei para eles se o Cristiano estava lá dentro do rabecão e me disseram que sim”, conta.
Os dois militares presos em batalhões da PM, Jonathas Elvis do Carmo, de 27, e Jonas Moreira Matias, de 28, foram reconhecidos por testemunhas e também pelo fato de um deles ter deixado que sua arma de fogo registrada na corporação caísse no chão durante a briga. Eles foram detidos na sexta-feira mesmo, enquanto faziam educação física na sede do Batalhão Rotam. Segundo apurou a reportagem, os dois são homens altos, fortes e tinham escoriações nas mãos que podem ter sido resultado dos socos desferidos durante a briga. A reportagem apurou também que os dois grupos estavam em uma festa em que foi intenso o consumo de álcool, e que a briga começou dentro do estabelecimento, com uma troca de empurrões e tapas. Cristiano teria pedido ajuda a um segurança do estabelecimento, mas não recebeu nenhum auxílio, segundo informações da polícia. A reportagem tentou entrar em contato com a casa noturna, mas ninguém quis se pronunciar. O delegado que apura o caso, Alexandre Oliveira, analisa a filmagem dos circuitos interno e externo de segurança do estabelecimento, que teriam registrado todo o tumulto.
JUSTIÇA COMUM O pedido de prisão preventiva dos suspeitos se estende até que haja relaxamento da detenção ou condenação. É concedida quando há indícios que liguem o suspeito ao delito e é pedida para proteger o inquérito, a ordem pública e a aplicação da lei. O delegado preferiu não dar nenhuma declaração sobre o curso da investigação, que é também acompanhada pela Corregedoria da Polícia Militar. A morte de Cristiano é tida como crime comum, uma vez que os militares não estavam em serviço na hora da briga, e por isso será investigada pela Polícia Civil e julgada pela Justiça comum. A reportagem apurou ainda que o soldado Jonathas responde por homicídio ocorrido durante o cumprimento do dever.
O pai de Cristiano, Álvaro Nascimento, disse que só vai sossegar quando os responsáveis forem julgados e condenados. “Se alguém me perguntar, hoje, se eu perdoo os soldados, digo que não consigo. Somos humanos e o tempo nos afeta demais. Por isso, não sei se os perdoaria com o tempo. Só sei que são dois bandidos, que foram treinados para proteger a sociedade, não para matar os filhos que saem para se divertir e terminam mortos”, afirma.
A casa noturna Clube Havanna se limitou a informar que os dois soldados eram clientes e pagaram normalmente suas contas. Informou, ainda, que disponibilizou espontaneamente as imagens de segurança e todas as informações requisitadas pela polícia. (Com João Henrique do Vale)