No atual formato do Move, sistema de transporte rápido por ônibus (BRT, da sigla em inglês) implantado para a Copa do Mundo em Belo Horizonte, não foi possível retirar os carros das ruas, diz Resende. “A maior parte das viagens de longa distância que provocam os congestionamentos são feitas das cidades-moradia da Grande BH para o trabalho ou para a escola. Você pode ter o melhor sistema de transportes do mundo em BH, mas se ele não for tratado como metropolitano não vai resolver o problema”, acrescenta o professor. A previsão do especialista é que Belo Horizonte não suporte mais 10 anos de aumento de frota no mesmo ritmo.
O consultor em transporte e trânsito Osias Batista aponta que essas medidas poderiam ser ações como o rodízio de placas, pedágio urbano e restrições totais de estacionamento em áreas mais adensadas, como no Hipercentro de Belo Horizonte. Ele aponta que essa é a tendência em grandes cidades do mundo e só com práticas desse tipo o transporte público consegue melhorar o seu desempenho. “Essas medidas são voltadas para desaquecer o uso do automóvel e, consequentemente, abrir espaço para o transporte público. Cidades do mundo inteiro estão caminhando para isso, mas é claro que é necessário desenvolver um planejamento. Enquanto você não tiver uma decisão política de prestigiar o transporte coletivo sobre o automóvel, sempre estará fazendo um meio-termo e não melhora para nenhum dos dois lados”, afirma Batista.
CICLOVIAS Uma mudança importante para minimizar o quadro de gargalos espalhados por ruas e avenidas da cidade, segundo o consultor, seria considerar as bicicletas como parte importante de uma rede de transportes integrada, de forma que fossem criadas rotas inteligentes, percorridas pelas pessoas que vão ao trabalho ou a outros compromissos. “As ciclovias são modelos complementares muito importantes, mas elas têm que perder a característica de lazer e ganhar papel de transporte, com as pessoas indo de bicicleta até uma estação de metrô, por exemplo, e seguindo o caminho com o transporte público”, afirma Osias Batista.
Paulo Resende aponta ainda uma medida menos complexa, que não depende de obras e intervenções viárias de grande porte, que poderia impactar diretamente no comportamento dos motoristas da capital mineira e, consequentemente, melhorar a circulação: “Precisamos fiscalizar e punir absolutamente as condutas que aumentam os gargalos de trânsito, como as filas duplas na porta das escolas e estacionamento em locais proibidos, montando uma verdadeira operação de guerra. Além disso, seria muito importante criar um sistema de inspeção veicular que retirasse os carros mais antigos e que não têm mais condições de rodar das ruas. Nesse caso, além de minimizar o impacto para a circulação, a medida também poderia contribuir para o meio ambiente”, completa o professor da Fundação Dom Cabral..