“Felizmente, não levaram nada, pois todas as peças foram retiradas logo após a tragédia e transportadas para o Museu Arquidiocesano de Mariana. Mas isso mostra que a mineradora Samarco não está cumprindo o acordo de proteger a área”, diz o titular da CPPC, Marcos Paulo de Souza Miranda. Ao lado de moradores e outras autoridades, ele participa hoje, às 18h, no Centro de Convenções da cidade, da audiência pública “Preservação da memória de Bento Rodrigues e Paracatu – A importância do tombamento”, promovida pelo Conselho Municipal do Patrimônio Cultural de Mariana (Compat).
Durante vistoria no último dia 9, a equipe contratada pela empresa para monitoramento da área notou a falta do cadeado inferior da porta de entrada da Igreja das Mercês, além de marcas da tentativa de arrombamento do cadeado superior. No relatório, os monitores informaram que, observando o entorno, outro local continha evidências de arrombamento, na extremidade frontal sul, onde o tapume se sobrepõe ao corte do terreno. “Nesse local, os dois materiais distintos que garantem o isolamento (tapume e madeira) estavam danificados, apresentando exposição suficiente para acessar a área restrita”, diz relatório da inspeção. Após a comprovação do arrombamento, funcionários pediram apoio à segurança patrimonial em Bento Rodrigues e registraram a ocorrência.
O relatório encaminhando à CPPC informa que na área interna do templo não havia evidências de arrombamento. O cadeado já foi substituído e a Igreja das Mercês está novamente lacrada e isolada.
TOMBAMENTO O destino de Bento Rodrigues, vilarejo quase riscado do mapa, e de Paracatu de Baixo, atingido duramente pela lama vazada da Barragem do Fundão, da Samarco, em 5 de novembro, será discutido hoje, às 18h, no Centro de Convenções de Mariana. “Vamos conversar com os antigos moradores sobre o que é melhor para as localidades onde viveram”, diz a presidente do Conselho Municipal do Patrimônio Cultural (Compat), Ana Cristina Maia. Ela conta que, dependendo dos depoimentos e ideias apresentadas, as discussões poderão conduzir ao pedido de tombamento de Bento Rodrigues, que perdeu a Capela de São Bento, com o rompimento da estrutura de rejeitos de minério, e de Paracatu, cuja Matriz de Santo Antônio teve os bens sacros retirados.
Na audiência pública de hoje, estará presente o promotor Antônio Carlos de Oliveira e representantes do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), do Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (Iepha), da prefeitura local, de universidades e de outras instituições e entidades.
Segundo Marcos Paulo de Souza Miranda, o objetivo na audiência é encontrar formas de proteção, para que Bento Rodrigues, em especial, não se torne apenas um cemitério de pessoas e casas. “É fundamental buscar alternativas, como transformar o subdistrito em um Museu de Território”, afirma.
Em resposta, a mineradora informa que “dentro do escopo do acordo assinado entre a Samarco, seus acionistas (Vale e BHP) e os governos federal, de Minas Gerais e do Espírito Santo, está contemplada a criação de um memorial na área do antigo Bento Rodrigues. Essa ação se encontra em fase inicial de tratativas junto à Prefeitura de Mariana e demais órgãos públicos. No dia 30 de novembro, a Samarco assinou um termo de compromisso preliminar com o MPMG, pelo qual a empresa ficou responsável pelo cercamento da Igreja das Mercês, medida acatada e realizada na semana seguinte”..