As recepções lotadas e as muitas horas de espera desenham o retrato da emergência nas unidades de pronto atendimento (UPAs) de Belo Horizonte, onde diariamente milhares de pacientes aguardam por algum tipo de serviço médico. A demora estampada em semblantes aflitos é histórica, mas ao longo dos anos ganhou força. Além da crescente demanda de pacientes da capital, as unidades de saúde estão tendo, progressivamente, que dar conta de outro tipo de atendimento: por causa do fechamento de unidades de emergência e da falta de médicos, serviços e infraestrutura em cidades da região metropolitana e do interior de Minas, cada vez mais a população de fora de BH tem buscado assistência na capital. A participação desse público, que em 2009 girava em torno de 30% da demanda das UPAs de BH, dobrou ao longo de sete anos e bateu em 60% em 2015. Nos dois primeiros meses deste ano, o índice foi ainda maior: atingiu a marca de 65%, de acordo com a Secretaria Municipal de Saúde.
A lista de cidades que recorrem às UPAs de BH é extensa, segundo a pasta, e inclui principalmente os vizinhos da região metropolitana, a exemplo de Ribeirão das Neves, Santa Luzia, Betim e Vespasiano. E, segundo pacientes que vêm dessas cidades, a viagem até a capital é desgastante e cara. O tempo para consulta também demora. Ainda assim, há um atrativo importante.
Uma das baixas na saúde de Santa Luzia ocorreu no início do ano passado, quando o pronto atendimento do Hospital São João de Deus fechou as portas. Moradora da cidade, a dona de casa Maria do Socorro, de 52, também recorre à UPA Norte sempre que está doente. Na última quarta-feira, ela estava na unidade aguardando diagnóstico para uma forte dor no peito e nas costas. “Tenho angina (dor ou desconforto torácico) e preciso de acompanhamento médico. Mas sempre tenho que recorrer à emergência em BH, porque em Santa Luzia a saúde está um caos. Só venho aqui ou vou à UPA Centro-Sul (no Bairro Santa Efigênia)”, relatou.
Em Ribeirão das Neves o problema é semelhante. A auxiliar de serviços gerais Viviane Alves Marcelino, de 36, conta que já desistiu de buscar atendimento na cidade.
Os bancos da recepção da UPA Venda Nova também recebem moradores de Vespasiano, que se queixam de demora e falta de atendimento na cidade. De acordo com a cabeleireira Cláudia Roberto Arcanjo, de 23, faltam investimentos na rede, precária e pequena para o município. “Em todas as vezes em que fui à UPA, nunca consegui ser atendida, de tão cheia que estava. Hoje mesmo eu voltei lá e nem fiz a ficha, porque estava lotada”, contou.
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