Manifestações cobram punição da tragédia em Mariana seis meses depois

A Polícia Civil indiciou sete pessoas pela tragédia, porém o inquérito está suspenso por decisão do Superior Tribunal de Justiça (STI) - Foto: Leandro Couri/EM/D.A Press
Mariana –
O drama das vítimas da Barragem do Fundão, de propriedade da Samarco, completou ontem seis meses sem que ninguém tenha sido punido pelo tsunami de lama que causou a morte de 19 pessoas, no maior desastre socioambiental do Brasil. A data foi lembrada com angústia pelas cerca de 300 famílias desalojadas dos distritos de Mariana devastados pelos quase 35 milhões de metros cúbicos de rejeitos de minério de ferro que vazaram da mina da empresa controlada pela brasileira Vale e pela anglo-australiana BHP Billiton.

A Polícia Civil indiciou sete pessoas pela tragédia, entre diretores da Samarco e responsáveis por laudos técnicos da mina, por 19 homicídios qualificados. Porém, o inquérito está suspenso, por decisão do Superior Tribunal de Justiça (STJ), até que o Judiciário decida se a competência pelo julgamento é do âmbito estadual ou federal. Ontem, a réplica do som de uma sirene voltou a ecoar na Praça da Sé, no Centro da cidade histórica, em protesto contra a falta do equipamento na Mina do Germano. Especialistas avaliam que vidas poderiam ser salvas se a empresa tivesse instalado um aparelho para ser usado em caso de alerta. A comunicação, lamentam parentes e amigos das vítimas, foi falha.

As manifestações contra o maior desastre socioambiental do Brasil começaram cedo em Mariana. Numa delas, fotos de algumas das 19 vítimas da onda de lama foram fixadas na entrada do salão onde ocorreu o seminário “O desastre da Samarco: balanço de seis meses de impactos e ações”. Duas das imagens eram de Emanuely Vitória, que tinha 5 anos, e Thiago Damasceno, de 7.
Eles moravam em Bento Rodrigues, o primeiro lugarejo devastado pelo mar de rejeitos.

“A lição desse desastre é: será que acontecerão outros? Há avaliações de que outras barragens têm situação igual ou pior que a de Fundão”, alertou Léo Heller, coordenador do grupo de pesquisa de Direitos Humanos e Políticas Públicas em Saúde e Saneamento da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).

Especialista no assunto, o professor Bruno Milanez, da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), recordou que, em um estudo em 2014, 27 barragens no estado não tinham garantia de estabilidade. Em outras 12 os auditores não conseguiram concluir se havia estabilidade. “Isso totaliza 39 barragens em risco. Temos de levar em consideração que a Barragem do Fundão, em 2014, foi considerada estável. Portanto, existe um risco real de novos desastres”.

TURISMO
A prefeitura local aposta no turismo para amenizar a perda dos royalties (R$ 4 milhões mensais) que deixaram de ser pagos pela empresa por meio da Compensação Financeira pela Exploração dos Recursos Minerais (CFEM). Ontem, a Associação do Circuito Turístico do Ouro (ACO) lançou novos roteiros para fomentar a economia na região..