A Universidade Federal de Lavras (UFLA) divulgou nesta sexta-feira nota de esclarecimento sobre o caso de dois seguranças que haviam impedido um aluno de entrar na instituição por trajar saia. O fato levou cerca de 100 estudantes a realizar na quarta-feira um protesto que chamaram de "saiaço". Os manifestantes usaram saias e fecharam as portas da universidade em repúdio à ação dos vigilantes.
Na última quarta-feira, Pablo Gabriel Galiza, de 19 anos, do 4º período de licenciatura em química, tentou entrar no câmpus usando a peça de roupa e foi questionado por dois vigilantes da segurança da universidade: "Você vai subir desse jeito?", perguntou um dos homens a Pablo. O jovem afirma que a saia faz parte do seu estilo e que nunca sofreu com esse tipo de abordagem na universidade.
Segundo Pablo, os seguranças apresentaram um papel que dizia sobre a proibição de trote dentro da universidade, mas o estudante afirmou que não era calouro. A Polícia Militar foi chamada por um dos funcionários, o que tornou a situação ainda mais constrangedora, na avaliação do universitário. "Eles me abordaram como se eu fosse um criminoso", disse.
O jovem conta que resolveu ir até a reitoria, mas, como o reitor não estava, passou pela sala da psicóloga e decidiu entrar. "Um dos vigilantes estava me seguindo. Eu estava chorando e só queria conversar com alguém naquele momento, para me acalmar, mas ele entrou na sala e não permitiu que conversássemos." Foi então que ele decidiu registrar o boletim de ocorrência contra os funcionários. O registro não foi feito, porque os nomes dos vigilantes não foram revelados. "Eles esconderam os crachás e não quiseram me falar os nomes", contou.
Pablo classifica a ação dos seguranças como homofóbica. "A roupa que eu estava usando poderia mostrar que sou homossexual. O meu jeito de ser, mais afeminado, também indica minha opção sexual. Os calouros que se vestem de mulher possuem caracteristicas diferentes", acredita Pablo, que pede que providências sejam tomadas pela instituição. "Já usei saia várias vezes na universidade, por que agora eles me barraram?", perguntou o jovem que afirma que outros homens adotam o estilo.
Protesto Felipe Fernandes, de 27 anos, professor e militante da Levante Popular da Juventude, foi um dos organizadores da manifestação e questiona o despreparo dos seguranças. "Convocamos a comunidade acadêmica, os integrantes do levante popular da juventude, os representantes do Diretório Central dos Estudantes e todos alunos da universidade para fechar a entrada da faculdade para que o reitor nos recebesse." As portas da instituição foram bloqueadas e, depois, como os pedidos dos alunos não foram atendidos, os estudantes marcharam até a reitoria.
Com a pressão dos estudantes, o reitor José Roberto Scolforo se reuniu com cinco participantes do protesto e um acordo foi fechado. "Inicialmente, eles propuseram que fosse feito um cadastro de quem se veste dessa forma, mas não aceitamos. O que acordamos com o reitor foi a abertura sindicância para discutir sobre os excessos praticados pelos vigilantes, além da promessa que será feito uma assembleia sobre política de segurança" afirma. Outra questão discutida foi sobre a formação da Comissão de Direitos Humanos para tratar da proibição ao trote e de outros conflitos relacionados à diversidade sexual na universidade. "Os nosso próximos passos serão reuniões com varias organização, como os coletivos de mulheres, para pressionarmos a reitoria para que as promessas sejam cumpridas" completa.
O Estado de Minas tentou entrar em contato com o reitor, mas ele estava viajando. A instituição se pronunciou por meio de uma nota, informando que "a abordagem teve a intenção de orientar o estudante sobre as normas da universidade relativas à proibição de ações constrangedoras contra estudantes ingressantes, caracterizadas como trote." A Direção Executiva lamentou o ocorrido e determinou a abertura de processo de sindicância investigativa.
Uma agenda para debater temas como respeito às diversidades também foi aceita, assim como a sugestão dos estudantes sobre o uso da carteirinha estudantil para distinguir veteranos de calouros, suscetíveis ao trote.
Segue a nota completa da UFLA:
"Na quarta-feira (4/5), por volta das 13 horas, um estudante da Universidade Federal de Lavras (UFLA) foi abordado por vigias da Instituição, por estar trajando saia. A ação teve como referência a Resolução do Conselho Universitário (Cuni) Nº 020, de 29 de abril de 2015, que trata da proibição de trote no câmpus universitário.
A abordagem teve a intenção de orientar o estudante sobre as normas da Universidade relativas à proibição de ações constrangedoras contra estudantes ingressantes, caracterizadas como trote. Isso porque a Universidade vivencia neste momento a recepção de novos calouros.
A Direção Executiva da Universidade reforça que não corrobora com atitudes que evidenciem qualquer forma de opressão, preconceito ou discriminação (racismo, machismo, homofobia, lesbofobia, transfobia entre outros). Também não é prática na Universidade o impedimento ou cerceamento às liberdades individuais, preceitos fundamentais ao Estado Democrático de Direito.
A Direção Executiva lamenta o fato ocorrido e, reforçando sua postura de respeito à diversidade e as diferenças, determinou a abertura de processo de sindicância investigativa. Vale ressaltar que o processo destina-se a apurar a existência de irregularidade praticada no serviço público prevista pela Lei nº 8.112/1990. Aplicam-se à sindicância as disposições relativas ao contraditório e ao direito à ampla defesa.
Adicionalmente, em reunião com o grupo de estudantes mobilizados em torno da causa de 'identidades e expressões de gênero, sexualidades, diferenças e diversidades', ficou definida uma agenda para debate aberto sobre temas de interesse da comunidade acadêmica, com ações continuadas de educação e incentivo aos movimentos sociais de respeito às diversidades. Essa agenda vai contemplar campanhas educativas, audiências públicas, apresentações e treinamentos.
Quando questionado sobre a forma de aliar a proibição ao trote na Universidade e ao mesmo tempo respeitar as diferentes formas de expressão e identidades de gênero, o reitor da UFLA, professor José Roberto Scolforo, sugeriu que a opção de vestimenta do estudante poderia ser registrada, como já foi aprovado na Universidade o uso de nome social. Todavia, acatou prontamente a sugestão dos estudantes para o uso da carteirinha estudantil para distinguir estudantes veteranos de calouros, esses suscetíveis ao trote. A solução proposta é simples e prática, evitando-se interpretações enviesadas de preconceito. A equipe de segurança da Universidade já foi orientada a adotar o procedimento, com especial atenção à livre forma de expressão, incluindo os estudantes ingressantes. Vale ressaltar que a medida será complementada com ações educativas em curto, médio e longo prazos.
Ressalta-se, ainda, que o trote continua sendo ato proibido na Universidade, com todas as implicações contidas na Resolução que dispõe sobre o tema."
Na última quarta-feira, Pablo Gabriel Galiza, de 19 anos, do 4º período de licenciatura em química, tentou entrar no câmpus usando a peça de roupa e foi questionado por dois vigilantes da segurança da universidade: "Você vai subir desse jeito?", perguntou um dos homens a Pablo. O jovem afirma que a saia faz parte do seu estilo e que nunca sofreu com esse tipo de abordagem na universidade.
Segundo Pablo, os seguranças apresentaram um papel que dizia sobre a proibição de trote dentro da universidade, mas o estudante afirmou que não era calouro. A Polícia Militar foi chamada por um dos funcionários, o que tornou a situação ainda mais constrangedora, na avaliação do universitário. "Eles me abordaram como se eu fosse um criminoso", disse.
O jovem conta que resolveu ir até a reitoria, mas, como o reitor não estava, passou pela sala da psicóloga e decidiu entrar. "Um dos vigilantes estava me seguindo. Eu estava chorando e só queria conversar com alguém naquele momento, para me acalmar, mas ele entrou na sala e não permitiu que conversássemos." Foi então que ele decidiu registrar o boletim de ocorrência contra os funcionários. O registro não foi feito, porque os nomes dos vigilantes não foram revelados. "Eles esconderam os crachás e não quiseram me falar os nomes", contou.
Pablo classifica a ação dos seguranças como homofóbica. "A roupa que eu estava usando poderia mostrar que sou homossexual. O meu jeito de ser, mais afeminado, também indica minha opção sexual. Os calouros que se vestem de mulher possuem caracteristicas diferentes", acredita Pablo, que pede que providências sejam tomadas pela instituição. "Já usei saia várias vezes na universidade, por que agora eles me barraram?", perguntou o jovem que afirma que outros homens adotam o estilo.
Protesto Felipe Fernandes, de 27 anos, professor e militante da Levante Popular da Juventude, foi um dos organizadores da manifestação e questiona o despreparo dos seguranças. "Convocamos a comunidade acadêmica, os integrantes do levante popular da juventude, os representantes do Diretório Central dos Estudantes e todos alunos da universidade para fechar a entrada da faculdade para que o reitor nos recebesse." As portas da instituição foram bloqueadas e, depois, como os pedidos dos alunos não foram atendidos, os estudantes marcharam até a reitoria.
Com a pressão dos estudantes, o reitor José Roberto Scolforo se reuniu com cinco participantes do protesto e um acordo foi fechado. "Inicialmente, eles propuseram que fosse feito um cadastro de quem se veste dessa forma, mas não aceitamos. O que acordamos com o reitor foi a abertura sindicância para discutir sobre os excessos praticados pelos vigilantes, além da promessa que será feito uma assembleia sobre política de segurança" afirma. Outra questão discutida foi sobre a formação da Comissão de Direitos Humanos para tratar da proibição ao trote e de outros conflitos relacionados à diversidade sexual na universidade. "Os nosso próximos passos serão reuniões com varias organização, como os coletivos de mulheres, para pressionarmos a reitoria para que as promessas sejam cumpridas" completa.
O Estado de Minas tentou entrar em contato com o reitor, mas ele estava viajando. A instituição se pronunciou por meio de uma nota, informando que "a abordagem teve a intenção de orientar o estudante sobre as normas da universidade relativas à proibição de ações constrangedoras contra estudantes ingressantes, caracterizadas como trote." A Direção Executiva lamentou o ocorrido e determinou a abertura de processo de sindicância investigativa.
Uma agenda para debater temas como respeito às diversidades também foi aceita, assim como a sugestão dos estudantes sobre o uso da carteirinha estudantil para distinguir veteranos de calouros, suscetíveis ao trote.
Segue a nota completa da UFLA:
"Na quarta-feira (4/5), por volta das 13 horas, um estudante da Universidade Federal de Lavras (UFLA) foi abordado por vigias da Instituição, por estar trajando saia. A ação teve como referência a Resolução do Conselho Universitário (Cuni) Nº 020, de 29 de abril de 2015, que trata da proibição de trote no câmpus universitário.
A abordagem teve a intenção de orientar o estudante sobre as normas da Universidade relativas à proibição de ações constrangedoras contra estudantes ingressantes, caracterizadas como trote. Isso porque a Universidade vivencia neste momento a recepção de novos calouros.
A Direção Executiva da Universidade reforça que não corrobora com atitudes que evidenciem qualquer forma de opressão, preconceito ou discriminação (racismo, machismo, homofobia, lesbofobia, transfobia entre outros). Também não é prática na Universidade o impedimento ou cerceamento às liberdades individuais, preceitos fundamentais ao Estado Democrático de Direito.
A Direção Executiva lamenta o fato ocorrido e, reforçando sua postura de respeito à diversidade e as diferenças, determinou a abertura de processo de sindicância investigativa. Vale ressaltar que o processo destina-se a apurar a existência de irregularidade praticada no serviço público prevista pela Lei nº 8.112/1990. Aplicam-se à sindicância as disposições relativas ao contraditório e ao direito à ampla defesa.
Adicionalmente, em reunião com o grupo de estudantes mobilizados em torno da causa de 'identidades e expressões de gênero, sexualidades, diferenças e diversidades', ficou definida uma agenda para debate aberto sobre temas de interesse da comunidade acadêmica, com ações continuadas de educação e incentivo aos movimentos sociais de respeito às diversidades. Essa agenda vai contemplar campanhas educativas, audiências públicas, apresentações e treinamentos.
Quando questionado sobre a forma de aliar a proibição ao trote na Universidade e ao mesmo tempo respeitar as diferentes formas de expressão e identidades de gênero, o reitor da UFLA, professor José Roberto Scolforo, sugeriu que a opção de vestimenta do estudante poderia ser registrada, como já foi aprovado na Universidade o uso de nome social. Todavia, acatou prontamente a sugestão dos estudantes para o uso da carteirinha estudantil para distinguir estudantes veteranos de calouros, esses suscetíveis ao trote. A solução proposta é simples e prática, evitando-se interpretações enviesadas de preconceito. A equipe de segurança da Universidade já foi orientada a adotar o procedimento, com especial atenção à livre forma de expressão, incluindo os estudantes ingressantes. Vale ressaltar que a medida será complementada com ações educativas em curto, médio e longo prazos.
Ressalta-se, ainda, que o trote continua sendo ato proibido na Universidade, com todas as implicações contidas na Resolução que dispõe sobre o tema."