Para a revista Forbes, o norte-americano Douglas Brian Trent é o “homem-pássaro do Brasil”, cuja missão é proteger as aves. Mas a paixão pelos pássaros é apenas uma das facetas do trabalho de defesa do meio ambiente que esse ecologista, especialista em turismo sustentável, pesquisador e observador de aves desenvolve desde os anos 1980, quando trocou os Estados Unidos pelo Brasil.
Douglas escolheu viver em Belo Horizonte, cidade que adora, de onde parte para incursões ao Pantanal do Mato Grosso, onde se tornou conhecido como defensor da onça-pintada, ou para viagens ao exterior, onde ministra cursos de formação de guias de observação de aves e de outras atividades sustentáveis de turismo.
“Belo Horizonte é uma grande cidade com um sentimento de cidade pequena. Quando cheguei aqui, quase todo mundo que conheci tinha vindo do interior. Por isso a cidade tem uma cultura diferente do Rio de Janeiro e de São Paulo, a qualidade de vida é melhor e estou perto de parques onde é possível fotografar e pesquisar aves”, diz Douglas num português claro, mas carregado de sotaque.
Aos 59 anos, o ambientalista tem muito o que contar sobre seu amor pela natureza e as aventuras que viveu. Nascido na pequena cidade de Russell, no Kansas, tão logo se formou em ecologia e comunicação interpessoal, em 1979, decidiu conhecer o mundo. Ele e sua primeira mulher começaram a viajar de carona e, em 1980, entraram no Brasil, vindos da Venezuela. De lá, foram para Manaus, pegaram um barco para Belém e resolveram ir para o Mato Grosso.
Foi em um ônibus de garimpeiros, numa viagem entre Cuiabá e Porto Jofre, que Douglas avistou uma onça pela primeira vez, o que mudou sua vida. “Eu estava na frente do ônibus, comprei uma vassoura para limpar a poeira dos vidros e observar a natureza.
Douglas criou uma companhia de turismo de natureza em 1981 e começou a trazer grupos dos Estados Unidos e da Europa, levando-os ao Pantanal para observar onças. Ao mesmo tempo, incentivava pantaneiros que viviam da caça ilegal e da pesca a trabalhar com turismo sustentável.
Na Reserva Ecológica do Jaguar, que ele ajudou a criar, turistas estrangeiros contribuem com a formação dos guias com aulas de inglês. “Tem um jovem americano que esteve no Pantanal pela primeira vez quando tinha 14 anos. Até hoje, 12 anos depois, ele vai lá dar aulas de inglês para os pantaneiros, para que eles recebam melhor os turistas.”
Amor às onças Em meio ao turismo de natureza, Douglas passou alguns meses na África, na Tanzânia, Zâmbia e Uganda, em projetos de desenvolvimento ambiental sustentável. Na volta, passou a se dedicar especificamente à pesquisa para a preservação da onça-pintada no Pantanal.
Em parceria com o Instituto Chico Mendes (ICMBio), iniciou um trabalho de identificação de onças-pintadas na Estação Ecológica do Taiamã, às margens do Rio Paraguai, no Mato Grosso. Conseguiu fotografar e identificar 47 exemplares. A identificação é feita por meio de fotos das cabeças dos animais. Também registrou 29 indivíduos diferentes entre os grupos de ariranhas que habitam a reserva.
Esse trabalho foi concluído em 2008, mas em 2013, com o apoio da Petrobras, Douglas Trent implantou o projeto “Bichos do Pantanal”, para educação ambiental, observação das onças, e contagem de aves na região da Estação Taiamã. A iniciativa permitiu que cerca de 40 mil crianças das escolas de Cáceres e outros municípios tivessem aulas práticas de educação ambiental, com binóculos para observar aves e informações sobre a proteção das espécies.
Café, boa cerveja e paixão pelo mato
Quando não está em Belo Horizonte, saboreando café expresso e cervejas artesanais, Douglas Trent está no meio do mato. Ele mesmo diz que não consegue ficar muito tempo sem se conectar com a natureza, e por isso, sempre que pode viaja para observar aves, nem que seja nos arredores de Belo Horizonte, como na Serra do Caraça ou na região de Ouro Preto.
Em março, ele passou quase três semanas na Costa Rica, a convite do Banco Mundial, para dar cursos de formação de guias de observação de aves para moradores locais, num projeto de turismo sustentável. Embora o país da América Central seja considerado um paraíso por causa da diversidade e quantidade de aves, Douglas Trent afirma que a riqueza da avifauna brasileira é maior.
Ele já fotografou, identificou e catalogou 2.224 espécies de aves brasileiras, e diz que não consegue sair de casa sem levar a câmera fotográfica ou o binóculo. Passou a se interessar pela observação de pássaros em 1983, quando guiava um pesquisador norte-americano que o contratou para guiá-lo na Chapada dos Guimarães para capturar aves, fotografá-las e libertá-las em seguida.
“Quando um udu-de-coroa-azul (ave de plumagem com cores chamativas) caiu na rede, me encantei e descobri que não poderia ficar mais sem observar, fotografar e pesquisar as aves.
COMBATE AO FOGO Atualmente, Douglas Trent elabora um projeto de trust fund para apresentar ao Banco Mundial e ajudar a combater os focos de incêndio florestal no Brasil. A proposta é capacitar e equipar moradores de áreas próximas às reservas ambientais para que eles possam combater os incêndios. Parcerias seriam estabelecidas com esses parques.
“No México, eles conseguem chegar a qualquer área de queimada em menos de 24 horas. No Brasil, ainda se usa a força bruta para combater os incêndios. Não há equipamentos, não há treinamento e, muitas vezes, não há sequer combustível para os veículos e água para apagar as chamas. Com uma política eficaz de controle de incêndios é possível reduzir em até 80% o número de focos e contribuir também para a diminuição do aquecimento global”, diz Douglas..