O lixo ainda chega em grandes quantidades e forma pequenas ilhas flutuantes no meio do espelho d’água, nas margens e remansos. Em meio aos dejetos, a vida selvagem que habita a lagoa acaba relegada a cenas degradantes como a de pássaros revirando e comendo lixo. Ontem, um dos jacarés-de-papo-amarelo que vivem no manancial tomava banho de sol entre sacolas velhas de plástico e garrafinhas que foram parar na água. Das tubulações de drenagem que direcionam as águas das chuvas para o reservatório, línguas negras de esgoto envolviam o réptil, uma prova de que ainda há muitas ligações clandestinas de redes de saneamento chegando ao local.
Ao todo, serão investidos R$ 30 milhões dos cofres municipais para limpar a água da lagoa. Os processos utilizados pelo consórcio deverão tornar a água de classe 3, que é definida pelo Conselho Nacional de Meio Ambiente (Conama) como apropriada ao abastecimento para consumo humano, após tratamento convencional ou avançado; à irrigação de culturas arbóreas, cerealíferas e forrageiras; à pesca amadora; à recreação de contato secundário; e à dessedentação de animais. Segundo a Superintendência de Desenvolvimento da Capital (Sudecap), o tratamento livraria a Pampulha das florações de algas que dominam o ambiente aquático, dos maus odores advindos da poluição e da mortandade de peixes.
Na primeira etapa dos trabalhos são feitas coletas e análises da água e dos sedimentos em diversos níveis de profundidade. As amostras são enviadas para um laboratório na Alemanha e outros dois no Brasil, em Minas Gerais e Rio Grande do Sul. A partir dessas análises, será elaborado um relatório que apresentará um diagnóstico das condições atuais. No tratamento da água está sendo utilizado um produto chamado Phoslock, que impede que o fósforo advindo da poluição e do assoreamento se transforme em alimento para as cianobactérias – controlando também as algas, os níveis de clorofila-A e alguns metais pesados. Como complemento do tratamento, outro produto. chamado Enzilimp. está sendo utilizado com o objetivo de atuar diretamente na redução dos coliformes.
“Melhorou muito pouco o aspecto da água e acho que perdeu aquele cheiro forte que tinha. Se conseguirem resolver mesmo o problema da poluição, vai ser um presente para nós, cidadãos, e para os turistas que frequentam a Pampulha”, disse o cabeleireiro Failer Abdala, de 32, que mora na região e gosta de passear de bicicleta pela orla. “A região mais poluída da Pampulha fica em frente ao Parque Guanabara. Ali tem todo o tipo de lixo e aquela sujeira verde flutuando. Reparei que diminuiu demais isso naquele local. É um começo, mas ainda está longe de ser a lagoa limpa que a gente gostaria como símbolo de BH”, disse o gerente administrativo Valcir Vilela Lara, de 48.
Para se tornar patrimônio
Veja o que o Conselho Internacional de Monumentos e Sítios (Icomos) solicitou para que a Pampulha possa ser considerada bem cultural da humanidade
Plano detalhado do processo de despoluição da Lagoa da Pampulha, inclusive com compromisso de execução e cronograma
Demonstrar que não há outros lugares com a combinação arquitetônica semelhante na lista de patrimônio mundial
Melhorar a visibilidade de alguns dos principais elementos do conjunto, como o Iate Tênis Clube, que tem um anexo que precisa ser eliminado
Restaurar as paisagens de Burle Marx e os edifícios de Niemeyer