UnB pede monitoramento após tremor

Depois de susto em Matozinhos, Observatório Sismológico da UnB volta atenção para Grande BH

Depois de um tremor de terra assustar moradores de Matozinhos na terça-feira, o 40º abalo sísmico sentido em Minas Gerais este ano, o chefe do Observatório Sismológico da Universidade de Brasília (UnB), professor Lucas Vieira Barros, voltou a sugerir a instalação de uma rede de monitoramento na Grande BH sem a qual, afirma ele, será “impossível” apontar com precisão o motivo desses fenômenos geológicos, suas extensões e perigos.

“O terremoto ocorre numa região de falha, é uma ruptura da parte externa da terra que ocorre em regiões de fraqueza.

Mas não há ainda dimensões e extensão disso porque os estudos são feitos à distância. Era preciso ter uma rede local para uma melhor eficiência”, disse Barros.

O tremor de terra em Matozinhos chegou a 2,2 graus na Escala Richter e foi registrado pela UnB às 19h35 da noite de terça-feira. Na cidade, a 51 quilômetros de Belo Horizonte, outros quatro abalos já ocorreram este ano. Por isso, a prefeitura convocou especialistas, sobretudo para identificar riscos e orientar a população.

O abalo foi sentido em todo município, de acordo com a Coordenadoria Municipal de Defesa Civil (Comdec). Os relatos da população são de que o ruído foi semelhante ao de um trovão. Os testemunhos de moradores sobre o fenômeno se concentraram nos bairros Vista Alegre, Conjunto Vitalino, Araçás, São Cristóvão e Cruzeiro. Segundo a Comdec, “Estão se tornando muito frequentes esses tremores aqui na região, entre Matozinhos e Sete Lagoas, por isso muitas pessoas estão se acostumando e sequer sentem os abalos menores, abaixo de 3 graus, por exemplo”, disse o coordenador da Comdec, Rogério Ribeiro.

Segundo ele, a prefeitura local trouxe uma equipe ligada ao Centro de Estudos Geológicos de Brasília para estudar esses efeitos.
“Tenho apenas a preocupação de que isso possa gerar pânico, já que os especialistas que foram chamados e vieram aqui garantem que, para causar danos maiores, só com abalos acima de 5 graus”, reforça o coordenador.

A dona de casa aposentada Benvida Pinheiro da Silva, de 86 anos, conta ter se assustado todas as cinco vezes em que a terra tremeu em Matozinhos. “A primeira vez foi de madrugada. Outra foi bem cedo. Estava com o copo de café na porta de casa, quando começou a tremedeira. A gente fica assustada, porque não sabe o que é isso nem o que devemos fazer. Então eu rezo”, disse a mulher, que vive há 50 anos na cidade.

O estudante Marcos Paulo de Oliveira, de 14, conta que estava dormindo quando sentiu o tremor de terra e que a família procurou abrigo. “Acordei assustado. Fomos todos para debaixo do marco da porta para nos proteger”, lembra. Segundo o adolescente, o abalo durou apenas alguns instantes, mas provocou muito barulho. “Atrás aqui de casa tem uma mineradora. Aí, o barulho parecia aquelas dinamites que explodem na mina. Depois disso, a gente ficou acordado”, afirma.

Segundo levantamentos do professor João Roberto Barbosa, da Universidade de São Paulo (USP), a falha geológica causadora desses abalos pode estar situada entre Esmeraldas e Betim. O maior tremor registrado neste ano ocorreu em Esmeraldas, no dia 2 deste mês, e chegou a 3,7 graus, também sem deixar prejuízos consideráveis ou vítimas.


Estudos Sobre os abalos registrados na Região Metropolitana de Belo Horizonte, o Sistema Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Sisema-MG) informou, por meio de nota, que estudos sobre os eventos são de responsabilidade da Rede Sismográfica Brasileira, ligada ao governo federal.

“A Rede Sismográfica Brasileira é quem realiza esses estudos. Ela está ligada ao Observatório Nacional e tem por objetivo monitorar a sismicidade do território nacional e gerar informações, que suportem a investigação da estrutura interna da terra através da implantação e manutenção de estações sismográficas permanentes”.

A nota afirma ainda que “não há estudo conclusivo que possa afirmar que esses tremores estejam relacionados aos efeitos da mineração”. E acrescentou que, no país, os responsáveis pelas medidas a serem adotadas com relação a esse tipo de evento é o Sistema Nacional de Defesa Civil (Sindec).

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