Segundo Lourenço, até agora estimava-se que o Aedes aegypti fosse o transmissor do zika apenas pela coincidência geográfica em termos uma epidemia urbana da doença, e também pela presença do mosquito. Também havia comprovação da transmissão do vírus por mosquitos infectados em laboratório. Além disso, sabia-se que na década de 1960 foram encontrados Aedes aegypti naturalmente infectados na Malásia.
“A primeira peça do quebra-cabeças do zika era provar no Brasil a capacidade de o mosquito transmitir o vírus.
Para Lourenço, a partir dessa descoberta fica claro que até agora a comunidade científica e o poder público estavam combatendo o mosquito certo: “Com essa informação, cria-se uma confirmação de que estamos combatendo o vetor certo. Além disso, não achamos nenhuma espécie de mosquito com o vírus. Isso significa que a gente não precisa combater todos os mosquitos, mas não muda a estratégia de combate, apenas reforça que ela está correta. Mostra que estamos pesquisando tecnologias novas para combater o mosquito certo.
O pesquisador afirma que a presença de mosquitos infectados no ambiente é muito pequena, por isso só agora foram encontrados. “Fazendo uma estimativa a grosso modo, se há 100 Aedes aegypti numa rua, por exemplo, cerca de 50% são machos, ou são fêmeas que nunca picaram. Do restante, só 10% vão ter a chance de ter contato com uma pessoa infectada pelo vírus zika. Mesmo assim, nem todos os que picaram vão contrair o vírus. É como a gripe. Se alguém espirrar do lado de duas pessoas, uma pode pegar a doença, a outra não. Além disso, o mosquito que pode contrair o vírus tem que ter contato com uma pessoa com ele ainda ativo no organismo, o que ocorre durante apenas três dias. Ou seja, as chances são muito pequenas”, disse.
A identificação inédita ocorreu durante os estudos de vigilância e monitoramento conduzidos pelo Laboratório de Mosquitos Transmissores de Hematozoários do IOC, que vem coletando mosquitos em localidades onde foram identificados casos de zika no estado do Rio. Até então, em todo o continente americano, havia apenas um relato recente sobre um conjunto de mosquitos Aedes albopictus naturalmente infectados pelo vírus zika, feito pelo Ministério da Saúde do México.
Segundo a Fiocruz, o trabalho de captura de mosquitos na busca de identificação dos vírus circulantes é realizado nos entornos e nas residências de pacientes com sintomas de zika, por meio de uma parceria com a médica Patrícia Brasil, pesquisadora do Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas (INI/Fiocruz), e com a Prefeitura do Rio de Janeiro.
Saiba mais
Dez meses
de estudos
Cerca de 1,5 mil mosquitos adultos de diversas espécies – entre machos e fêmeas – foram capturados por meio de equipamento de aspiração e levados para análise em laboratório, num trabalho realizado ao longo de 10 meses.