No dia seguinte, quinta-feira, 31 de março, a equipe do hospital determinou a aplicação do antiviral no advogado, suspeito de ser portador da gripe do H1N1. “À noite, ele foi para o CTI com edema pulmonar. No dia 1º fui visitá-lo usando máscara e ele sentia muita falta de ar e febre. Não sei se ele pensou em morte, mas era visível sua piora. Ele mandou um beijo para as meninas e eu me recusei a levar, disse que ele iria entregar pessoalmente quando se levantasse da cama”, lembra.
Embora o marido aparentasse ser um homem forte e cheio de energia, era cardiopata. Em fevereiro último, havia se submetido a um checape no coração, com valvuloplastia. No sábado, quando chegou no horário de visitas, às 13h, a mulher já o encontrou entubado e sedado, com derrame pleural. Morreu horas depois. “Quase morri junto”, lamenta a viúva, de 36 anos. O quadro de saúde do advogado era diferente em relação ao da dona de casa R., de 44 anos, que havia chegado naquele mesmo hospital no início da semana, andando e conversando normalmente, com sintomas de uma gripe forte. Dedicada a cuidar dos filhos e sem histórico de doença preexistente, R. ficou em observação. Dois dias depois, estava entubada no CTI, onde resistiu por mais 20 dias até morrer por H1N1, segundo conta o irmão, o empresário André Alvarenga. “Ela não bebia, não fumava, tinha o corpo bom. Vivia para a menina de 9 anos e o mais velho, de 16, que são muito bem-educados. Reclamou de uma gripe forte no sábado. Aguentou firme no domingo e segunda-feira. Só foi buscar ajuda na terça-feira”, conta ele, sem querer acreditar na tragédia.
CUIDADO
Na avaliação do pediatra José Geraldo Leite Ribeiro, professor de epidemiologia da Faculdade de Ciências Médicas de Minas Gerais, os grupos de risco significam, na verdade, padrões de pessoas com maior chance de morrer depois de contrair o H1N1, convencionados no Brasil e no mundo pelas organizações de saúde, como crianças com menos de 5 anos e idosos com mais de 60. “Mas isso não quer dizer que outras faixas etárias estejam totalmente imunes ao vírus. Essa foi a forma encontrada para estabelecer parâmetros para a cobertura vacinal, já que não existem doses suficientes para imunizar toda a população mundial”, afirma o médico, lembrando que o Brasil é reconhecido como um dos países com a melhor campanha de vacinação. “Portadores de doenças crônicas e gestantes não devem se descuidar da vacina, que vai proteger também o bebê nos primeiros quatro meses. Quem estiver fora dos grupos de risco deve ficar atento aos sinais de gripe grave”, ensina.