Além de mapear a região, o grupo de pesquisadores está garimpando documentos sobre as antigas jazidas. As primeiras foram cavadas nos sopés de montanhas, na segunda metade dos anos 1800, quando bandeirantes já haviam explorado o ouro de aluvião, retirado com facilidade de rios, córregos e encostas. Foi naquela época que terras que hoje pertencem a Onça do Pitangui se transformaram em palco da última batalha da Revolta da Cachaça, um dos primeiros motins de brasileiros contra a Coroa Portuguesa.
Após a Proclamação da República, em 1889, outras cavernas foram abertas por investidores estrangeiros, sobretudo, alemães. A intenção dos pesquisadores vai além da localização exata das minas. Eles querem transformar as jazidas em pontos turísticos, como afirma Vandeir Santos.
No sábado, pesquisadores e turistas interessados em conhecer um pouco mais da história do estado visitaram quatro minas na companhia de pesquisadores e turistas. Uma delas foi descoberta por acaso, há poucos meses, durante a construção de uma praça próxima ao Centro do município.
No percurso, tucanos, seriemas e outras aves puderam ser vistos e acompanharam de longe a movimentação do grupo. Já nas cavernas, a quantidade de morcegos chamou a atenção. “Não há iluminação e a umidade é muito grande, mas há bichos que vivem nesse ambiente”, explicou o geólogo William Campos, enquanto iluminava um shaft. Trata-se de uma espécie de túnel vertical, que liga a mina ao ambiente externo. “Em inglês, significa poço. É usado, por exemplo, para ventilar o local”, esclareceu o geólogo. Cláudio Faria acrescentou informações sobre a jazida em que estavam. “Nessa mina, por exemplo, há duas galerias, uma sobre a outra.
POLÊMICA Há quem diga que as minas são importantes e que o primeiro nome da cidade foi inspirado na unidade de medida massa usada, entre outras, para pesar ouro. Uma onça troy, segundo o Banco Central, corresponde a 31,1035 gramas do metal. O assunto é polêmico.
No livro Sinhá Braba, que romanceia a vida de Joaquina de Pompéu, uma empreendedora do Centro-Oeste mineiro, o autor não descarta a possibilidade de o nome ser associado ao metal precioso. Na página 16, Agripa Vasconcelos escreveu: “Bueno, com o ouro apertado na mão, repetia delirando: – Uma onça e oito oitavas! Essa medida de peso daria nome ao futuro Arraial de Nossa Senhora da Conceição da Onça”.
Vandeir Santos, porém, contesta a veracidade do caso narrado pelo romancista. Para ele, o nome se deve ao Ribeirão do Onça Brava. Ele cita uma pesquisa do historiador Sílvio Gabriel Diniz, baseada em documentos oficiais. “O historiador transcreveu das páginas do livro de guardamoria, da segunda metade do século 18, o seguinte: ‘Provisão de água e datas minerais concedidas a Romão da Mata Botelho, na passagem do caminho que vai para o Ribeiro da Onça Brava, chamado o Caxingó, por umas capoeiras até suas nascenças, de uma e outra parte’”, pontua o pesquisador.
BATALHA CONTRA PORTUGUESES
Em 1719, Portugal determinou o estanco da aguardente em Pitangui. Dessa forma, apenas a coroa poderia vender cachaça na região. A decisão irritou os bandeirantes, pois a bebida era gênero de primeira necessidade à exploração do ouro: era o “combustível” dos escravos.