Em 23 e 24 de novembro e 3 de dezembro, técnicos do DNPM fizeram vistorias na Barragem do Fundão e na mina da Vale, vizinha ao depósito. Eles constataram que, por meio de tubulação, a empresa despejava rejeito de minério no reservatório da Samarco. Relatório dos técnicos, em poder da PF, aponta que em 2014 foram lançados 18 milhões de metros cúbicos de rejeitos líquidos na barragem, dos quais 12% despejados pela Vale, que havia declarado ser responsável por apenas 5% do material.
Antes do rompimento da barragem, a empresa despejava no reservatório lama e arenosos extraídos de sua mina. Segundo a reportagem, o relatório da PF aponta que os dados oficiais sobre o teor de concentração de minério na Barragem do Fundão foram reduzidos, de forma a demonstrar um volume de lama menor lançado na represa em relação ao informado em documentos anteriores encaminhados ao DNPM. Junto com anglo-australiana BHP Billiton, a Vale controla a mineradora Samarco, responsável pela Barragem do Fundão.
O despejo de toneladas de rejeito de minério da barragem, devido ao rompimento, além de provocar 19 mortes, devastou o subdistrito de Bento Rodrigues, deixando centenas de desabrigados, e poluiu o Vale Rio Doce, provocando a mortandade de peixes e o desabastecimento de água em cidades ribeirinhas. A poluição chegou à foz do rio e também causou danos ambientais no litoral do Espírito Santo.
Por meio de nota, a Vale negou “veementemente”, na noite de ontem, que tenha adulterado dados em documentos oficiais sobre o volume de lama que jogava na Barragem do Fundão. A empresa, porém, informou ter havido, de fato, retificações nos relatórios (RALs) referentes aos anos-base de 2010 a 2014, por divergência no entendimento de conceitos técnicos em alguns itens. “Tal divergência técnica foi sanada após reunião de alinhamento, em 18 de dezembro de 2015, com o Departamento Nacional de Produção Mineral.”
Correções necessárias pela internet
Como resultado da reunião, a Vale diz que procedeu as correções necessárias via sistema RALWeb, em 22 de dezembro de 2015, das quais o DNPM foi cientificado. “Dos mais de 3.400 campos presentes no RAL, houve necessidade de retificação de apenas 1% das informações. Um dado que foi mantido inalterado foi o de teor de concentração de minério de ferro nas operações da usina de Alegria”, afirma a nota.
De acordo com a empresa, a informação sobre a retificação dos RALs foi também passada à Polícia Federal e ao Ministério Público. E, em 16 de março deste ano, apresentou novos esclarecimentos ao DNPM sobre a retificação do RAL ano-base 2014, já que o sistema RALWeb “estaria programado para efetuar automaticamente cálculos que desconsiderariam algumas importantes variáveis, o que demandaria, portanto, atualização sistêmica pela autarquia minerária para que as informações prestadas por todas as mineradoras (e não apenas pela Vale) ficassem aderentes à realidade”, justificou. “Tal informação foi igualmente participada ao delegado de Polícia Federal, por meio de petição, em 21 de março de 2016”, completou a empresa.
(RB)