Quatro meses. É esse o período que a maioria das mulheres com suspeita de câncer de mama leva para concluir o processo de diagnóstico. Na média, a espera pode chegar a nove meses. O dado é de uma pesquisa apresentada durante o Fórum de Políticas para o Câncer de Mama e o Encontro Estadual de Pacientes, realizado ontem no Rio de Janeiro, pela organização não governamental Laço Rosa. O encontro envolveu as principais entidades nacionais ligadas ao câncer, especialmente dedicados à neoplasia da mama.
Segundo o especialista, há problemas em todas as fases e eles ocorrem também na rede particular, mas são mais expressivos no SUS. Os principais gargalos são no início do processo. “Não há no Brasil um programa de rastreamento adequado. É uma questão de oportunidade. Quem tem mais consciência procura o posto, insiste. Isso faz com que a quantidade de mulheres tratadas seja baixa em proporção ao número de casos previstos. Se houver um achado na mamografia, o gargalo seguinte é voltar ao médico e conseguir o pedido para a biópsia”, relata.
Mas o problema ganha dimensões ainda maiores, segundo Amorim, em relação ao câncer de mama metastático. “Aí fica tudo mais difícil. O cardápio que o SUS tem para o tratamento desse tipo de câncer, seja em caso de recidiva ou quando já se descobre a doença em fase avançada, é muito restrito. O SUS tem basicamente quimioterapia para o câncer de mama metastático. Com isso, a sobrevida dessas pacientes é um terço da sobrevida daquelas tratadas na rede privada, que têm acesso às medicações usadas há mais de 15 anos em todo o mundo, inclusive nos nossos vizinhos na América Latina”, atesta.
O caso mais emblemático é o do trastuzumabe. Segundo Gilberto Amorim, não se trata de um medicamento novo. Ele já é inclusive oferecido no SUS para tratar um tipo específico de câncer de mama, aquele com o receptor HER-2 positivo. “Mas o Conitec, órgão responsável pelo estudo de custo/eficácia de medicamentos do governo federal, questiona a contribuição dessa droga para o tratamento. No ano passado, o trastuzumabe entrou numa lista básica de medicamentos para oncologia, definida pela Organização Mundial de Saúde (OMS). Até os países mais pobres da África usam, menos o Brasil”, lamenta.
No próximo mês, um estudo do qual Gilberto fez parte, será publicado em uma revista científica internacional mostrando que a cada ano 400 brasileiras morrem de câncer de mama metastático por falta de acesso ao medicamento que está no mercado há 15 anos. “O governo podia ter pedido até transferência de tecnologia. Sua patente já caiu, ou seja, a droga já poderia estar sendo produzida aqui mesmo no Brasil, pelos laboratórios do governo”, comenta.
A hora de fazer a mamografia
Cinquenta e sete por cento das mulheres ouvidas pela pesquisa suspeitaram do câncer de mama com o autoexame, o que acirra a discussão sobre a idade ideal para início da mamografia de rotina, método preconizado para rastreamento na atenção integral à saúde da mulher. De acordo com as Diretrizes para a Detecção Precoce do Câncer de Mama, revisada em 2015, a mamografia de rotina é recomendada para as mulheres de 50 a 69 anos, a cada dois anos. Outro problema é que nem essa faixa etária é totalmente coberta.
Segundo Mônica Assis, da Divisão de Detecção Precoce e Apoio à Organização da Rede do Instituto Nacional do Câncer José Alencar Gomes da Silva (Inca), a mamografia nessa faixa etária e nessa periodicidade é a mesma adotada na maioria dos países que implantaram o rastreamento organizado do câncer de mama. “A recomendação é baseada em evidências científicas do benefício dessa estratégia na redução da mortalidade, mas também leva em consideração os riscos da realização frequente e precoce do exame”, pondera.
Das pacientes entrevistadas, por exemplo, apenas 23% suspeitaram da doença a partir da mamografia. Dez por cento manifestaram sintomas e 10% tiveram o problema detectado pelo médico. Além disso, 79% delas já tinham passado por mamografia antes dessa suspeita. A designer de interiores Rosa Amélia Paixão, de 53 anos, sempre teve o hábito de fazer o autoexame e, assim, percebeu um nódulo que a preocupou, em novembro de 2014.
“Fui direto ao mastologista. Já sentia que era câncer”, relembra. Rosa tinha plano de saúde, mas esse não cobria a quimioterapia, motivo pelo qual fez o tratamento no SUS. Sede do Inca, o Rio de Janeiro hoje garante 73% do atendimento do câncer de mama na rede pública. Uma única unidade cobre quase 70% desses atendimentos. O problema é conseguir horário para as consultas e exames. Rosa, por exemplo, que está em fase de seguimento da doença, após ter terminado a quimioterapia, só conseguiu vaga para setembro para uma consulta que precisava fazer em junho.
Poucas também conseguem fazer a reconstrução mamária imediata, como previsto em lei. Segundo o mastologista Ruffo de Freitas Júnior, presidente da Sociedade Brasileira de Mastologia, apenas 30% das pacientes se beneficiam da cirurgia no mesmo momento em que retiram os tumores. “Faltam mastologistas preparados, mas também infraestrutura para a cirurgia. Na rede pública, temos que optar em fazer duas cirurgias para retirada do tumor ou uma de reconstrução”, lamenta.
Segundo o especialista, há problemas em todas as fases e eles ocorrem também na rede particular, mas são mais expressivos no SUS. Os principais gargalos são no início do processo. “Não há no Brasil um programa de rastreamento adequado. É uma questão de oportunidade. Quem tem mais consciência procura o posto, insiste. Isso faz com que a quantidade de mulheres tratadas seja baixa em proporção ao número de casos previstos. Se houver um achado na mamografia, o gargalo seguinte é voltar ao médico e conseguir o pedido para a biópsia”, relata.
Mas o problema ganha dimensões ainda maiores, segundo Amorim, em relação ao câncer de mama metastático. “Aí fica tudo mais difícil. O cardápio que o SUS tem para o tratamento desse tipo de câncer, seja em caso de recidiva ou quando já se descobre a doença em fase avançada, é muito restrito. O SUS tem basicamente quimioterapia para o câncer de mama metastático. Com isso, a sobrevida dessas pacientes é um terço da sobrevida daquelas tratadas na rede privada, que têm acesso às medicações usadas há mais de 15 anos em todo o mundo, inclusive nos nossos vizinhos na América Latina”, atesta.
O caso mais emblemático é o do trastuzumabe. Segundo Gilberto Amorim, não se trata de um medicamento novo. Ele já é inclusive oferecido no SUS para tratar um tipo específico de câncer de mama, aquele com o receptor HER-2 positivo. “Mas o Conitec, órgão responsável pelo estudo de custo/eficácia de medicamentos do governo federal, questiona a contribuição dessa droga para o tratamento. No ano passado, o trastuzumabe entrou numa lista básica de medicamentos para oncologia, definida pela Organização Mundial de Saúde (OMS). Até os países mais pobres da África usam, menos o Brasil”, lamenta.
No próximo mês, um estudo do qual Gilberto fez parte, será publicado em uma revista científica internacional mostrando que a cada ano 400 brasileiras morrem de câncer de mama metastático por falta de acesso ao medicamento que está no mercado há 15 anos. “O governo podia ter pedido até transferência de tecnologia. Sua patente já caiu, ou seja, a droga já poderia estar sendo produzida aqui mesmo no Brasil, pelos laboratórios do governo”, comenta.
A hora de fazer a mamografia
Cinquenta e sete por cento das mulheres ouvidas pela pesquisa suspeitaram do câncer de mama com o autoexame, o que acirra a discussão sobre a idade ideal para início da mamografia de rotina, método preconizado para rastreamento na atenção integral à saúde da mulher. De acordo com as Diretrizes para a Detecção Precoce do Câncer de Mama, revisada em 2015, a mamografia de rotina é recomendada para as mulheres de 50 a 69 anos, a cada dois anos. Outro problema é que nem essa faixa etária é totalmente coberta.
Segundo Mônica Assis, da Divisão de Detecção Precoce e Apoio à Organização da Rede do Instituto Nacional do Câncer José Alencar Gomes da Silva (Inca), a mamografia nessa faixa etária e nessa periodicidade é a mesma adotada na maioria dos países que implantaram o rastreamento organizado do câncer de mama. “A recomendação é baseada em evidências científicas do benefício dessa estratégia na redução da mortalidade, mas também leva em consideração os riscos da realização frequente e precoce do exame”, pondera.
Das pacientes entrevistadas, por exemplo, apenas 23% suspeitaram da doença a partir da mamografia. Dez por cento manifestaram sintomas e 10% tiveram o problema detectado pelo médico. Além disso, 79% delas já tinham passado por mamografia antes dessa suspeita. A designer de interiores Rosa Amélia Paixão, de 53 anos, sempre teve o hábito de fazer o autoexame e, assim, percebeu um nódulo que a preocupou, em novembro de 2014.
“Fui direto ao mastologista. Já sentia que era câncer”, relembra. Rosa tinha plano de saúde, mas esse não cobria a quimioterapia, motivo pelo qual fez o tratamento no SUS. Sede do Inca, o Rio de Janeiro hoje garante 73% do atendimento do câncer de mama na rede pública. Uma única unidade cobre quase 70% desses atendimentos. O problema é conseguir horário para as consultas e exames. Rosa, por exemplo, que está em fase de seguimento da doença, após ter terminado a quimioterapia, só conseguiu vaga para setembro para uma consulta que precisava fazer em junho.
Poucas também conseguem fazer a reconstrução mamária imediata, como previsto em lei. Segundo o mastologista Ruffo de Freitas Júnior, presidente da Sociedade Brasileira de Mastologia, apenas 30% das pacientes se beneficiam da cirurgia no mesmo momento em que retiram os tumores. “Faltam mastologistas preparados, mas também infraestrutura para a cirurgia. Na rede pública, temos que optar em fazer duas cirurgias para retirada do tumor ou uma de reconstrução”, lamenta.