No início de março, após divulgação do caso pelo Estado de Minas, o padre foi afastado de suas atividades na Matriz de Santo Antônio em São João da Chapada. Ele passou a morar em um seminário em Diamantina.
Nessa segunda-feira, a delegada responsável pelo caso, Kiria Orlandi, da Delegacia de Atendimento à Mulher de Diamantina, disse que as investigações continuam, mas não informou quando o inquérito será encaminhado para a Justiça. Ela disse que um novo pedido de prisão preventiva do padre suspeito foi negado. Apesar disso, o juiz confirmou a manutenção das medidas cautelares impostas ao investigado.
A delegada afirmou que, na semana passada, durante uma missa na Igreja do Sagrado Coração, em Diamantina, o padre responsável pela celebração chegou a fazer agradecimento ao ex-pároco de São João da Chapada (que estava presente) pelos “relevantes serviços prestados” àquela comunidade. “Eu achei um absurdo. É como se a Igreja estivesse a favor dele”, afirmou a delegada. Lembrou também que na semana passada, o papa Francisco publicou decreto determinando que os bispos negligentes nos casos de pedofilia poderão ser afastados de suas funções.
Por outro lado, um padre que integra o Tribunal Eclesiástico da Arquidiocese de Diamantina, que pediu para não ser identificado, informou que o ex-pároco de São João da Chapada teve “limitadas as ordens sacerdotais” – ou seja, foi afastado temporariamente da atividade religiosa – e responde a um procedimento disciplinar canônico. A investigação tem trâmite semelhante a um inquérito da Polícia Civil, sendo ouvidas as supostas vítimas e testemunhas. Na sequência, será ouvido o suspeito, que poderá fazer a sua defesa, antes do envio do resultado para o Vaticano.
Ele informou ainda que a decisão sobre o futuro do ex-pároco do distrito de Diamantina será tomada pela Congregação da Doutrina da Fé, de Roma, porque o documento “Delicta graviora”, escrito pela Santa Sé em 2001 e atualizado em 2010, determina que os casos de delitos de abusos mais graves cometidos pelos padres, entre os quais pedofilia, devem ser julgados diretamente pelo Vaticano.
Enquanto isso...
...Papa contra a negligência
Em nova ação contra os casos de pedofilia na Igreja Católica, o Papa Francisco (foto) emitiu no sábado um decreto no qual facilita a destituição de bispos que negligenciarem denúncias de abusos sexuais nas suas dioceses. Intitulada Come una madre amorevole (“Como uma mãe amorosa”, em tradução livre), a chamada carta apostólica motu proprio (latim para “de minha própria iniciativa”), escrita em italiano e assinada pelo Sumo Pontífice, lembra que os bispos “devem ser particularmente diligentes na proteção daquelas que são as mais fracas entre as pessoas confiadas a eles”.
“Vamos ouvir o choro das vítimas e daqueles que sofrem, nenhuma família sem casa, nenhuma criança sem infância”, escreveu Francisco, também no sábado, na rede social Twitter. As medidas do decreto entram em vigor em 5 de setembro. Nos últimos 15 anos, a Igreja vem enfrentando seguidos escândalos com padres que abusaram sexualmente de crianças e foram transferidos de paróquia a paróquia, em vez de terem sido entregues às autoridades e excomungados.