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Estado de Minas

Vaticano deve julgar pároco de Diamantina suspeito de crime sexual

Religioso responde a procedimento disciplinar canônico pelas denúncias. Investigação foi aberta pelo Tribunal Eclesiástico da Arquidiocese de Mariana


postado em 07/06/2016 06:00 / atualizado em 07/06/2016 08:52

Igreja de Nosso Senhor do Bonfim, em São João da Chapada, distrito de Diamantina, onde padre celebrava missas(foto: Luiz Ribeiro/EM/D.A PRESS)
Igreja de Nosso Senhor do Bonfim, em São João da Chapada, distrito de Diamantina, onde padre celebrava missas (foto: Luiz Ribeiro/EM/D.A PRESS)
O ex-pároco de São João da Chapada, distrito de Diamantina (Vale do Jequitinhonha), investigado pela Polícia Civil pela suspeita de crime sexual contra adolescente responde a procedimento disciplinar canônico por conta das denúncias e será julgado diretamente pelo Vaticano. Aberta pelo Tribunal Eclesiástico da Arquidiocese de Diamantina, a investigação já está bastante adiantada e o seu resultado será encaminhado para a Congregação da Doutrina da Fé, em Roma, que vai decidir o futuro do investigado. Ele poderá ser expulso da Igreja, se confirmada a veracidade da suspeita. A defesa do padre alega inocência.


Desde fevereiro que, por decisão judicial, o sacerdote foi afastado das atividades da instituição onde morava e trabalhava, o Centro Comunitário Infantil Padre Romano Merten, que atende a cerca de 100 crianças e adolescentes em São João da Chapada, distrito de cerca de 2 mil habitantes. As investigações da Polícia Civil, iniciadas desde outubro de 2015, apontaram que ele teria abusado de pelo menos dois adolescentes da entidade. Entre as medidas cautelares determinadas pelo juiz Fábio Henrique Vieira, da 2ª Vara da Comarca de Diamantina, está a proibição de manter contato com as supostas vítimas, seus familiares e testemunhas.

No início de março, após divulgação do caso pelo Estado de Minas, o padre foi afastado de suas atividades na Matriz de Santo Antônio em São João da Chapada. Ele passou a morar em um seminário em Diamantina.


Nessa segunda-feira, a delegada responsável pelo caso, Kiria Orlandi, da Delegacia de Atendimento à Mulher de Diamantina, disse que as investigações continuam, mas não informou quando o inquérito será encaminhado para a Justiça. Ela disse que um novo pedido de prisão preventiva do padre suspeito foi negado. Apesar disso, o juiz confirmou a manutenção das medidas cautelares impostas ao investigado.

A delegada afirmou que, na semana passada, durante uma missa na Igreja do Sagrado Coração, em Diamantina, o padre responsável pela celebração chegou a fazer agradecimento ao ex-pároco de São João da Chapada (que estava presente) pelos “relevantes serviços prestados” àquela comunidade. “Eu achei um absurdo. É como se a Igreja estivesse a favor dele”, afirmou a delegada. Lembrou também que na semana passada, o papa Francisco publicou decreto determinando que os bispos negligentes nos casos de pedofilia poderão ser afastados de suas funções.

Por outro lado, um padre que integra o Tribunal Eclesiástico da Arquidiocese de Diamantina, que pediu para não ser identificado, informou que o ex-pároco de São João da Chapada teve “limitadas as ordens sacerdotais” – ou seja, foi afastado temporariamente da atividade religiosa – e responde a um procedimento disciplinar canônico. A investigação tem trâmite semelhante a um inquérito da Polícia Civil, sendo ouvidas as supostas vítimas e testemunhas. Na sequência, será ouvido o suspeito, que poderá fazer a sua defesa, antes do envio do resultado para o Vaticano.

Ele informou ainda que a decisão sobre o futuro do ex-pároco do distrito de Diamantina será tomada pela Congregação da Doutrina da Fé, de Roma, porque o documento “Delicta graviora”, escrito pela Santa Sé em 2001 e atualizado em 2010, determina que os casos de delitos de abusos mais graves cometidos pelos padres, entre os quais pedofilia, devem ser julgados diretamente pelo Vaticano.

Enquanto isso...
...Papa contra a negligência


Em nova ação contra os casos de pedofilia na Igreja Católica, o Papa Francisco (foto) emitiu no sábado um decreto no qual facilita a destituição de bispos que negligenciarem denúncias de abusos sexuais nas suas dioceses. Intitulada Come una madre amorevole (“Como uma mãe amorosa”, em tradução livre), a chamada carta apostólica motu proprio (latim para “de minha própria iniciativa”), escrita em italiano e assinada pelo Sumo Pontífice, lembra que os bispos “devem ser particularmente diligentes na proteção daquelas que são as mais fracas entre as pessoas confiadas a eles”.

“Vamos ouvir o choro das vítimas e daqueles que sofrem, nenhuma família sem casa, nenhuma criança sem infância”, escreveu Francisco, também no sábado, na rede social Twitter. As medidas do decreto entram em vigor em 5 de setembro. Nos últimos 15 anos, a Igreja vem enfrentando seguidos escândalos com padres que abusaram sexualmente de crianças e foram transferidos de paróquia a paróquia, em vez de terem sido entregues às autoridades e excomungados.


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