Samarco tem dez dias para apresentar plano de contenção de rejeitos

Prazo foi dado pelo Comitê Interfederativo criado para supervisionar o cumprimento do acordo firmado pela mineradora para recuperar os danos causados pelo rompimento da barragem de Fundão, em Mariana

Pedro Ferreira
Rejeitos da barragem em Bento Rodrigues continuam descendo pelo Rio Gualaxo do Norte - Foto: Leandro Couri/EM/DA Press
A Samarco tem dez dias para detalhar como vai conter os rejeitos de minério que continuam escoando em grande volume pela bacia do Rio Doce. O prazo foi dado pelo Comitê Interfederativo, criado para supervisionar o cumprimento do acordo firmado pela mineradora para recuperar os danos causados pelo rompimento da barragem de Fundão, em novembro do ano passado, em Mariana, Região Central de Minas.

O vazamento de mais de 60 milhões de metros cúbicos de rejeitos de mineração matou 19 pessoas, destruiu comunidades e provocou a maior tragédia ambiental do país. O Comitê é formado por representantes da União, estados de Minas Gerais e Espirito Santo e órgãos ambientais envolvidos. A Samarco não faz parte.


Segundo o Comitê Interfederativo, ambientalistas e autoridades consideram a tragédia um desastre ambiental “em curso” e que uma das principais razões para isso é o imenso volume de rejeitos de minério (mais de 13 milhões de metros cúbicos) que ainda está retido na região do rompimento e nas margens e afluentes da bacia. Ainda de acordo com o Comitê, quando chove sobre a região atingida, o material levado até a foz do Rio Doce, no Espírito Santo, deixa um rastro de poluição pelo caminho. “Os diques de contenção provisórios construídos pela Samarco esgotaram rapidamente a capacidade de armazenamento”, informou.

A mineradora propôs a construção de estruturas permanentes, previstas para estarem prontas em dezembro, depois do início do período chuvoso. No entanto, segundo o Comitê, após vistoria em maio o Ibama concluiu que, se for mantido o atual ritmo de trabalho, tais diques só estarão prontos no ano que vem.

O prazo de dez dias para a Samarco detalhar medidas a serem tomadas começou a valer nessa terça-feira. “A resolução é para impedir uma nova poluição de grandes proporções da bacia do rio Doce a partir de outubro, quando aumenta o volume de chuvas na região.
Existe a possibilidade iminente de chegar o próximo período chuvoso sem nenhuma capacidade de retenção de rejeitos”, reforça.

A resolução exige também que a mineradora também apresente em dez dias um plano para a dragagem emergencial do reservatório de Candonga, que pertence à Usina Hidrelétrica Risoleta Neves, onde ficaram retidos pelo menos 10 milhões de metros cúbicos de lama. A barragem está em seu limite de segurança máxima e há risco de se romper. Pelo acordo firmado entre o governo e a Samarco há três meses, a dragagem emergencial da barragem de Candonga deveria ter começado em 28 de março.

A Samarco, que pertence à Mineradora Vale e a anglo-australiana BHP Billiton, disse em nota que lamenta os danos causados ao meio ambiente e que desde o dia seguinte ao acidente tem se empenhado em remediar seus impactos.

Ainda de acordo com a mineradora, o Comitê Interfederativo, que é parte integrante do acordo, na sua terceira reunião nessa terça-feira, em Brasília, solicitou maior nível de detalhamento das ações já em curso relativas às estruturas de contenção permanentes e provisórias de rejeitos da Samarco, dragagem da área emergencial da Usina Hidrelétrica Risoleta Neves; estratégias e ao plano de ação para a gestão de rejeitos, especialmente nos rios Gualaxo do Norte e Carmo; construção de sistemas alternativos de captação para todos os municípios que captam água na calha do rio Doce e cadastramento de impactados pelo rompimento da barragem de Fundão. “Todo o detalhamento das informações será entregue no prazo de dez dias, conforme solicitado pelo Comitê Interfederativo”, informou a Samarco..