Era 1h de segunda-feira e as mensagens do grupo de WhatsApp dos moradores não paravam de apitar. Eram relatos de que mais uma vez o problema persistia e apelos para que a Polícia Militar (PM) agisse. O local, onde há uma unidade da Copasa, virou palco de bailes funk não autorizados pelo poder público. Boa parte dos frequentadores migrou dos eventos semelhantes que ocorriam na Praça do Papa, onde a fiscalização foi intensificada a partir de fevereiro, depois de um casal de jovens ser espancado e morto em um desses eventos. Presidente da Associação dos Moradores do Bairro Mangabeiras, Rodrigo Bedran diz que a questão do mirante é estrutural. “Ali há um excesso de pessoas que não estão sendo monitoradas. O excesso de lixo é fruto dessa situação e a comunidade está perturbada. PM e Prefeitura fazem, dentro do possível, o que é viável, mas é preciso um esforço conjunto, que inclua a Guarda Municipal, para resolver esse impasse”, afirma.
Bedran aponta quatro problemas. O primeiro é de saúde pública. “Já presenciamos, em várias situações, pessoas dançando em cima da caixa d’água. E se por algum motivo essa água for contaminada?”, questiona. Ele relata que o portão da Copasa está aberto, pois foi arrombado, e pichado. O segundo é a segurança, uma vez que, de acordo com as denúncias, o local virou palco de baderna e tráfico de drogas e seria frequentado por pessoas armadas. O terceiro é o medo de incêndios, resultantes da mistura de guimbas de cigarro jogadas na encosta e de álcool. O quarto ponto abordado pelo advogado diz respeito ao próprio entorno do mirante: uma área de preservação de flora e fauna, cujo bioma também é afetado pelo barulho ensurdecedor do som dos carros.
Lixo produzido por baile funk polui cartão postal de BH
No início de maio, a associação protocolou na Promotoria de Defesa do Meio Ambiente, Patrimônio Cultural, Urbanismo e Habitação requerimento informando a situação e pedindo providências. O Ministério Público foi procurado, mas a promotora responsável pelo caso não foi encontrada para comentar o assunto.
A sugestão da associação de moradores é a construção de uma portaria da PM ou da Guarda Municipal que permita restringir o acesso ao local ou até mesmo cobrar a identificação de quem sobe, numa estrutura que se assemelhe ao mirante localizado próximo ao Palácio das Mangabeiras. “É um lugar maravilhoso, que deve ser preservado. É uma pena ficar como está, com moradores, turistas e pessoas de bem se sentindo temerosas de ir lá, devido ao fato de o lugar estar sendo frequentado por pessoas que vão para beber, usar drogas e ouvir música altíssima”, diz Rodrigo Bedran.
SOLUÇÃO Morador da região, o administrador Giovanni Sciazicco Garcia, de 27 anos, também cobra solução urgente e é favorável à sugestão de restrição do acesso. “Ou vira um parque ou fecha”, defende. Ele diz que a sujeira é uma reclamação constante dos vizinhos e que há de tudo: de camisinha usada a artefatos de sincretismos religiosos, além de um odor insuportável de urina. “As pessoas parariam o carro em outras ruas e subiriam. Tendo uma estrutura, seria bem melhor. Hoje, nem iluminação tem. O outro mirante também já teve muito problema e isso foi contornado”, acrescenta o jovem, que admite ter parado de frequentar o Caixa D’água. “Não tenho mais coragem de subir. Vejo as pessoas indo, pensando que farão uma visita bonita, mas não têm noção do perigo que estão correndo. Tem muito assalto lá.”
A Regional Centro-Sul informou, por meio da assessoria, que a manutenção no mirante é feita regularmente, sendo a limpeza a cada semana e a capina, a cada três meses. A Secretaria Municipal de Obras e Infraestrutura (Sudecap) informou que não há qualquer obra prevista, por parte dela, para o local. A reportagem tentou entrar em contato com o 22º Batalhão de Polícia Militar, responsável pela região, mas não obteve sucesso.
A Copasa informou, por meio de nota, que o reservatório de água que fica no mirante está desativado para reforma. “A área de propriedade da empresa onde está localizado o mesmo é cercada por muro e o acesso é restrito aos empregados da companhia. Em relação à utilização da via pública pela comunidade e o seu fechamento para visitação, trata-se de uma área pública onde a atuação não compete a Copasa”.
- Foto: Arte EM
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