Entre 2013 e 2015, a falta de aviões e helicópteros da FAB disponíveis para captação de órgãos resultou na deterioração e perda de 153 corações, fígados, pulmões, pâncreas, rins e ossos no país, mostrou na última semana reportagem do jornal O Globo ilustrando a disponibilidade desse transporte para autoridades e outras pessoas. Enquanto isso, em Minas Gerais, no mesmo período, foram 121 transplantes realizados no estado utilizando helicópteros e aviões de companhias aéreas parceiras, dos Bombeiros, das polícias Militar e Civil, segundo o MG Transplantes.
Angústia
Em Minas, o MG Transplantes é responsável pela captação e distribuição de órgãos dentro do estado. “Quando há uma paciente com diagnóstico de morte encefálica em algum lugar, a instituição hospitalar é obrigada a comunicar ao MG Transplante. Vai proceder a confirmação do diagnóstico, de todos os exames que precisam ser feitos, vamos solicitar a doação aos familiares e proceder a logística de captação daquele órgão”, afirma Omar. A lista de transplante é única e nacional. “O órgão captado dentro em Minas fica preferencialmente no estado, a não ser que não haja um receptor aqui para recebê-lo. Nesse caso, o órgão é ofertado para o Sistema Nacional de Transplante, do Ministério da Saúde, em Brasília, que o distribui para outros estados, de acordo com a lista de pessoas de fora”, explica Omar.
A angústia de esperar por um órgão que vem de longe bateu duas vezes na atendente Waldirene de Oliveira Leite, de 38 anos, moradora do Bairro Jardim Canadá, em Nova Lima, na Grande BH. O primeiro transplante de rim, realizado com doador mineiro, em 2013, não vingou. “Fiquei naquela expectativa de me livrar da hemodiálise, de ficar boa e voltar a trabalhar, a cozinhar, coisas simples da vida que não consigo mais fazer por causa do meu rim doente”, conta. Mas o transplante não deu certo. Waldirene acabou internada, chegou a ter uma parada cardíaca na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) e teve de remover o órgão.
Em março deste ano, uma nova oportunidade de doador compatível. “Foi de madrugada que o médico me ligou.
Viagens de Dilma
Cinco dias antes de o presidente interino Michel Temer assinar o decreto disponibilizando avião da Força Aérea Brasileira (FAB) para o transporte de órgãos, os voos da presidente afastada Dilma Rousseff nas aeronaves oficiais foram limitados ao trajeto Brasília/Rio Grande do Sul. A decisão foi tomada depois no dia 1º, depois de um parecer elaborado pela subchefia de assuntos jurídicos da Casa Civil. Os aviões da FAB só poderão ir para o Rio Grande do Sul, onde reside a família da presidente afastada. A justificativa para o veto é que a petista não tem mais compromissos oficiais aos quais o transporte aéreo é destinado. Em reação, a defesa da presidente protocolou na terça-feira, no Palácio do Planalto, um documento informando ao presidente em exercício, Michel Temer, que a negativa dada para as viagens de Dilma fará do governo interino responsável “por quaisquer situações que violem a segurança pessoal da presidente ao longo destes deslocamentos”.
Com um território de 586.528 quilômetros quadrados, Minas Gerais já teria perdido muitas vidas não fosse o convênio do MG Transplante que permite acesso a aeronaves do governo, das polícias Civil e Militar e do Corpo de Bombeiros. É preciso correr contra o tempo para buscar órgãos doados e implantá-los a tempo nos pacientes que dependem deles para sobreviver, frisa o diretor da instituição, Omar Lopes Cançado.
Num estado do tamanho de Minas Gerais e, pior, num país de proporções continentais como o Brasil, o transporte por terra é simplesmente inviável. O coração, exemplifica Omar Cançado, só tem quatro horas para ser retirado e implantado em outra pessoa. Para o pulmão são quatro horas. No caso do fígado, 12. “Esses tempos são muito curtos. Se a gente for buscar um órgão em Montes Claros, por exemplo, que são cinco ou seis horas de viagem por terra saindo da capital, inviabilizaria a utilização de boa parte dos órgãos”, explica.
Felizmente, ressalta, essa questão está solucionada no estado. “Não temos problemas, exceto naqueles casos em que não há possibilidade de voo, quando não tem teto para a aeronave voar”, comenta Omar Cançado. Há 10 dias, a equipe mineira buscou órgãos na Bahia. No estado, são 3 mil pessoas na fila à espera de transplantes, das quais 2,5 mil aguardando por rins. Para o transporte, o órgão é mantido resfriado a 4 graus Celsius, em uma solução de conservação para evitar a deterioração durante a viagem..