"O objetivo, entre outros, é evitar violação de direitos humanos", sintetizou o promotor Guilherme de Sá Meneghin, do Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) em Mariana. Ele participou de um encontro da CIDH em Santiago (Chile), na última semana, onde foi discutida a violação dos direitos humanos pelas mineradoras no Brasil.
Meneghin foi o primeiro promotor a conseguir, em ação civil pública deferida pela Justiça, o bloqueio de R$ 300 milhões da Samarco, dona da barragem, para serem usados numa espécie de caução em caso de a mineradora não reparar os danos materiais e morais causados às vítimas do desastre nos povoados de Mariana. Dos 19 mortos, cinco moravam em Bento Rodrigues, o primeiro subdistrito devastado pela lama. Os demais eram funcionários da Samarco ou de terceirizadas.
O promotor foi convidado a participar do encontro e listar sugestões à CIDH. A provável recomendação da entidade ao governo brasileiro deverá levar em conta quatro preceitos. "Um deles é o conceito abrangente de vítimas desse tipo de evento, que deve ser feito pelo poder público, proibindo expressamente às empresas que digam quem é ou não vítima", adiantou.
GARANTIA ÀS VÍTIMAS A segunda premissa visa garantir a participação das vítimas nas decisões dos direitos delas por meio de votação direta em comissões criadas exclusivamente para essa finalidade. A terceira trata da definição de competência do juízo, "para evitar o que ocorreu no Brasil, no caso de Mariana", onde parte da investigação ficou suspensa até definição se o caso deveria ser julgado por um magistrado estadual ou federal.
No caso envolvendo a Samarco, a Justiça decidiu pela esfera nacional, uma vez que os efeitos do desastre cruzaram as fronteiras de Minas, atingiram o Espírito Santo e chegaram ao Oceano Atlântico. Por fim, o promotor defendeu a alteração da legislação trabalhista, de modo a garantir a manutenção dos empregos nas mineradoras enquanto durarem os efeitos de eventuais rompimento de barragens.
"A comissão avaliará as provas e decidirá: se arquivará o pedido, se irá expedir recomendações ao Estado brasileiro para que tome providências para evitar as violações de direitos humanos, como acredito, ou se instaura um processo perante a Corte Interamericana de Direitos Humanos, caso sejam descumpridas as recomendações", disse Meneghin.
Ele acredita que a CIDH irá dar um prazo ao Brasil para acatar as recomendações. Do contrário, a comissão poderá instaurar um processo perante a Corte da entidade. "No caso Maria da Penha, por exemplo, a comissão recomendou o Brasil a criar uma lei para proteger as mulheres. Daí veio a Lei Maria da Penha e a comissão entendeu que o Brasil tomou as providências necessárias".