Trata-se do Museu do Sexo Hilda Furacão, cujo ato de fundação ocorreu ontem no pátio do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), embaixo do Viaduto da Floresta. O Museu pretende convergir diversas ações tanto artísticas quanto educativas na região e propor uma reflexão ampla sobre sexo. A fundação foi durante festa em que os convidados puderam trocar entre si objetos eróticos, muitos deles expostos no ambiente. “É um museu zona, que é um museu território, mas a palavra zona é mais apropriada que território. É algo que propõe caminhos, tramas simbólicas de Belo Horizonte”, define o coordenador do projeto, o artista visual Francilins.
Há 15 anos ele atua na região boêmia da capital fotografando e acompanhando o dia a dia das profissionais do sexo. “É uma região que me dava repulsa e, ao mesmo tempo, provocava fascínio.
A ideia é possibilitar exposições, palestras e outras atividades que tematizem o sexo. A primeira iniciativa será a abertura de um edital convocando artistas para residências artísticas nos hotéis. Para a presidente da Associação das Prostitutas de Minas Gerais (Aspromig), Cida Vieira, o Museu do Sexo contribuirá para a revitalização da região boêmia da capital. “Devido ao estigma, muitas vezes, a cultura desses lugares é esquecida. Hilda é um ícone, mas, por lá, passaram muitas pessoas do Brasil e de outros países”, diz.
Laura Maria do Espírito Santo, de 58, há pelo menos 30 trabalha na região. “As pessoas têm vergonha de falar sobre sexo. Há muita repressão. Mas se fizesse parte da educação familiar falar sobre sexo – o que é bom, os cuidados –, não teríamos tanto estupro e tantas doenças”, argumenta. Para ela, embora o sexo seja vital na vida das pessoas, ainda é tabu.
Aposentada, Cleuza Márcia Borges, de 63, criou a família com o trabalho na Rua Guaicurus. Atualmente, ela é multiplicadora dos cuidados para o sexo seguro. “A maioria das prostitutas não assume a identidade”, afirma, lembrando que vai a diversos lugares para falar sobre sexo. A antropóloga Marina França, que fez mestrado e doutorado sobre a zona boêmia, defende que, apesar de muitos trabalhos e reportagens sobre o lugar, ainda é preciso aprofundar a pesquisa sobre a região..