Antes da chegada do inverno, BH já tem sensação térmica abaixo de zero

Termômetros têm mínima de 10,4° na capital. Meteorologia prevê uma das estações mais geladas dos últimos anos, devido a fenômeno climático. Massa de ar polar derruba termômetros Minas afora, e Monte Verde registra frio recorde no ano

Carolina Mansur
Em áreas da Zona Sul da capital, como o mirante da Caixa D'água (foto) ou a Praça do Papa, queda nas temperaturas é sentida com intensidade ainda maior. Previsão para os próximos dias é de que frio continue - Foto: Ramon Lisboa/EM/DA Press
Braços cruzados, mãos escondidas nos bolsos e semblantes franzidos mostram que enfrentar o frio tem sido tarefa árdua para quem se desacostumou com as baixas temperaturas em Belo Horizonte. Desde que uma forte massa de ar polar chegou ao Brasil, na semana passada, influenciado o clima nas regiões Sul, Centro-Oeste e Sudeste do país, a queda nos termômetros também na capital mineira vem relembrando velhos hábitos aos mineiros. Ontem, segundo o instituto de meteorologia PUC Minas TempoClima, a mínima foi de 10,4 graus na capital, com sensação térmica de 2 graus negativos, e 2,9 graus negativos em Monte Verde, menor temperatura registrada no estado neste ano. Isso antes mesmo do início oficial do inverno, o que só ocorre em uma semana.


Para os próximos dias, a previsão é de mais frio, já que a massa de ar polar permanece sobre a Região Sudeste. Segundo informações do TempoClima, Belo Horizonte pode ter novo recorde de baixa temperatura no ano já nesta terça-feira, com mínima de 9 graus e máxima de 23. Até o fim da semana, as marcas devem cair ainda mais. Alerta emitido pela Coordenadoria Municipal de Defesa Civil (Comdec) aponta que até sexta-feira a massa de ar polar que atua sobre o país manterá as temperaturas em torno de 10 graus ao amanhecer.

Segundo a meteorologista do TempoClima Natália Cantuária, este pode ser o inverno mais intenso dos últimos anos, com condição diferente devido ao enfraquecimento do fenômeno El Niño, para um período de neutralidade e transição para o La Niña, em que as condições climáticas favorecem a queda nos termômetros. “A perspectiva é de temperatura ligeiramente abaixo da média neste inverno.

Estamos esperando um frio mais intenso, em função do enfraquecimento do El Niño – que é o aquecimento anormal das águas superficiais do Oceano Pacífico Equatorial – fenômeno que em 2015 foi um dos mais fortes dos últimos 65 anos”, afirmou.

A mudança no clima fez com que, além dos agasalhos mais grossos, tirados às pressas do armário, muitas pessoas passassem a investir em receitas caseiras, como bebidas e caldos quentes, como formas de manter o corpo aquecido. Recorrer a meias e pijamas flanelados durante a noite, período em que o frio aperta, também virou opção. Na manhã de ontem, a advogada Natália Müller, que mora em Nova Lima, porção Sul da Grande BH, saiu protegida por três blusas de frio, bota e cachecol. As muitas camadas de roupas também são usadas na hora de dormir, além de cremes hidratantes que ajudam a combater o ressacamento da pele. “Eu adoro o frio, mas desta vez está muito forte. A mudança de temperatura foi tão brusca que eu acabei ficando gripada”, contou a advogada.

A aposentada Zenaide Ferraz, que adotou meias, luvas e aquecedor ligado para dormir, planeja viajar na próxima semana para o estado do Pará, para se esconder das baixas temperaturas. “Nossas casas e estabelecimentos não estão preparados para esse tempo e, por isso, a gente acaba passando muito frio no inverno”, diz. “A estação traz muitos riscos. Entre eles o da gripe para quem tem mais de 60 anos. Mesmo tomando vacina, ficamos preocupados e, por isso, preferi viajar”, contou a aposentada, que ontem, para sair de casa, optou por usar duas blusas, botas e um lenço para proteger o pescoço do vento. “Quanto mais proteção melhor”, afirmou.

Se por um lado a vendedora Tatiana Caldeira comemora a alta nas vendas de botas femininas, que são procuradas por 90% das clientes que entram na loja, por outro tem sofrido com o frio, que já provocou sinusite e tosse. Para se proteger do vento, que diminui a sensação térmica na capital, a estratégia é usar cachecol, além de meias grossas. “O cachecol é uniforme da loja para os dias mais frios e eu adoro, porque ajuda a proteger o pescoço e evitar as doenças da estação”, comentou.
A busca por lareiras também cresceu neste mês. Segundo o empresário Fabrício Carvalho, da loja Objetaria, o incremento já é de 100% na comparação com outros meses do ano. Os preços de uma estrutura do tipo variam de R$ 600 a R$ 1.200.

A Praça do Papa, que atrai visitantes durante toda a semana, amanheceu quase vazia ontem. O vento diminuía ainda mais a sensação térmica do lugar e desencorajava a maioria dos turistas interessados em conhecer o cartão-postal de BH. Mas, mesmo com o frio, o militar Fred William levou a esposa,  Luciene Gonçalves, e o filho, Davi William, para conhecer o espaço. Morador de Sete Lagoas, a 70 quilômetros de Belo Horizonte, ele garantia que o frio na capital estava maior que em sua cidade, conhecida pelas altas temperaturas. “Em Sete Lagoas faz frio durante uma semana no ano; para curtir esse tipo de clima tem que ser aqui ou em Barbacena, onde vivem parte dos meus parentes”, lembrou.

Além da família de Fred, dois casais namoravam na praça e um terceiro posava para fotos do álbum de casamento. “Casamos no sábado e escolhemos essa data propositalmente, para que a gente não ficasse com tanto calor usando essas roupas e isso aparecesse nas fotos”, conta a noiva, a relações públicas Amanda Gomes. Quem também sofre com as temperaturas mais baixas são os estudantes, que saem de casa nas primeiras horas da manhã. Gabriela Soares e João Victor Rodrigues revelaram que, para driblar o frio, usam mais de uma blusa.
“De manhã é mais frio e, por isso, uso duas”, contou ela. Além do agasalho, João Victor opta por um gorro para proteger a cabeça. “Esquenta, é confortável e,  além disso, é estiloso”, contou.

 

 

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