A energia é canalizada para ações nos 49 quarteirões compreendidos entre as ruas da Bahia, Gonçalves Dias, Professor Morais e Avenida do Contorno. Muita gente ainda pensa que se trata de uma região, mas a Savassi se tornou bairro em 2009, ao se desmembrar do Funcionários. O olhar se volta para o território que abriga o tradicional comércio da Centro-sul e diversos equipamentos culturais, como o complexo da Praça da Liberdade.
O propósito é promover ações simples para estreitar o contato entre os moradores. Já foram realizadas caminhadas para cães, festas de rua, com barraquinhas e apresentações, além de corridas. “É por meio de eventos que a gente consegue integrar a comunidade local. Na Europa, eles realizam uma série de eventos sem muita sofisticação, mas que permitem que os vizinhos comecem a se conhecer. Também é uma maneira de reivindicar, de forma ordenada, ao poder público, melhorias para a região”, propõe Nelson Galizzi, presidente do Savassi Criativa e da Associação dos Moradores e Amigos da Savassi (Amas).
Tudo isso convocado de maneira muito particular. Para reforçar e-mails, mensagens via Facebook ou WhatsApp, o grupo retoma o velho hábito de enviar cartas. Um dos que receberam as missivas foi o engenheiro Jarbas Teixeira, de 82 anos. “É um movimento espetacular, que eleva a cultura da Savassi”, diz. Outra ação pretende transformar a Rua Antônio de Albuquerque em referência, a exemplo do que ocorre com ruas famosas em cidades como a Oscar Freire, em São Paulo e a Champs-Élysées, em Paris. Para dar cor e vida a um dos quarteirões da rua, a artista plástica Anna Göbel criou painel.
Nelson conta que a maneira de olhar para o território é inspirada em parâmetros endossados pelas Nações Unidas. Trata-se do FIB, sigla que faz analogia a outra bastante conhecida: o PIB (Produto Interno Bruto). Se o segundo é baseado no total de riqueza construída, o FIB mede o percentual de alegria: Felicidade Interna Bruta. Para estabelecer os parâmetros de felicidade, Nelson lembra que o Reino do Butão serviu como uma das principais referências. “A Savassi é uma vitrine de Belo Horizonte e de Minas. Queremos fazer aqui uma revolução e ser exemplo para o mundo inteiro. A Savassi é um grande palco para se falar com Minas”, diz.
Neste mês, foi promovida a Rua Junina, com eventos e apresentações na Antônio de Albuquerque. Além de comidas típicas, o clima festivo se completou com o figurino típico dos moradores. “Já tivemos evento em que a moradora desceu para comemorar o aniversário conosco”, conta a vice-presidente do Savassi Criativa, Natalie Oliffson. Ela define o Savassi Criativa como movimento de cidadãos para buscar o desenvolvimento da Savassi à luz da economia criativa. Tudo é feito para que moradores, empresários e visitantes possam enxergar a região como um ecossistema plural e complexo. “A Savassi tem um valor afetivo grande para as pessoas. É um ícone da cidade.”
Realizada em agosto do ano passado, a Cão Caminha foi outra ação promovida. Na ocasião, cerca de 300 cães foram levados por seus donos ao passeio, que teve concentração na esquina das ruas Gonçalves Dias e Paraíba. Os animais percorreram algumas ruas do bairro, totalizando 3,8 quilômetros. Apesar de ser conhecida pelo comércio, bares e restaurantes, a Savassi é um bairro 50% residencial. Natalie, no entanto, lembra que muitas vezes é importante retomar essa vocação, incentivando as ações que atendam à comunidade.
Fortalecimento de laços
A metade de sua vida, José Maria Portes, de 59 anos, viveu na Savassi, onde atualmente mora com a mulher Vera Lúcia Mattar Portes. “A atitude dos moradores dá alma para o bairro, mas falta muito o que fazer e promover”, pontua. Ele defende a realização de mais reuniões entre o setor público, empresários, comerciantes e moradores. Na sua avaliação, a iniciativa contribuiu para transformação contínua da região. “Gosto muito da região, que respira cultura. Desejamos ambiente cultural, valorização arquitetônica, do paisagismo, gastronomia e da vida noturna”, diz. Para ele, a interação entre os moradores é um das riquezas da região.
A pedagoga Adriana Galuppo, de 51, participou da corrida Eu amo a Savassi, da Cão Caminha e das duas festas juninas realizadas recentemente no bairro. Ela lembra que o bairro, muitas vezes, recebe festas populares com visitantes de toda a cidade. Para ela, um dos méritos da Savassi Criativa é gerar atividades em que os moradores possam participar de maneira a fortalecer a identidade para aquele território. “Vejo como uma cidade do interior”, diz, comemorando a possibilidade de ter vários serviços ao alcance, como sapateiro e costureira. A única reclamação é a falta de padaria. “Não temos um pão quentinho. Eu compro num supermercado noutro bairro”, diz. Ironicamente, foi justamente uma padaria que deu nome ao bairro (veja memória). Ela lembra que, embora o bairro seja habitado por moradores de classe média alta, não se quer reforçar uma identidade elitista.
Adriana mora com o marido e três filhos há 10 anos na Rua Tomé de Souza, desde quando trocou a tranquilidade de casa em condomínio pela praticidade de viver na Savassi, de onde pode fazer as atividades do dia a dia a pé, sem a necessidade de carrou ou transporte coletivo. “É excelente para morar. Muitos movimentos sociais e culturais acontecem aqui. No carnaval, por exemplo, vimos da janela a passagem do bloco Samba de Queixinho. Foi um espetáculo”, diz.Memória
Padaria batizou o bairro A Savassi foi assim batizada devido à padaria que recebeu esse nome, fundada em 16 de março de 1940 e que se tornou um dos principais pontos de referência daquela década. Tempos depois se juntou a outros estabelecimentos, como os bares de Espanhol e do Português, o armazém Colombo, o Açougue Vila Rica e a Pensão Magnífica. O nome, porém, ficou. Nos primeiros anos da capital, a Savassi era um pacato lugar por onde famílias tradicionais circulavam e moravam, além de ponto de encontro de expoentes da literatura, música, política e cinema. Ao longo dos anos, também se transformou em centro comercial importante, palco de diversas manifestações artísticas e espaço de entretenimento.